O primeiro-ministro da China disse que a segunda maior economia do mundo pode ter dificuldades para registrar crescimento positivo neste trimestre e pediu às autoridades que ajudem as empresas a retomar a produção após os lockdowns por Covid-19.
Os comentários de Li Keqiang, feitos para dezenas de milhares de autoridades em um vídeo interno na quarta-feira (25), ressaltam as dificuldades que o governo do presidente Xi Jinping terá para atingir sua meta de crescimento anual de 5,5%, ao mesmo tempo que combate os surtos de ômicron.
A última vez que o crescimento da China entrou em território negativo foi quando a produção caiu 6,9% ano a ano, no primeiro trimestre de 2020, depois que a pandemia de coronavírus encerrou uma era de crescimento ininterrupto iniciada há mais de 30 anos.
A polêmica política de "Covid zero" de Xi interrompeu a atividade empresarial em Xangai, a maior cidade da China, assim como em partes de Pequim e dezenas de municípios menores. Milhões de pessoas em Xangai estão confinadas em suas casas há dois meses ou mais.
"Vamos tentar garantir que a economia cresça no segundo trimestre", disse Li, de acordo com uma transcrição que o Financial Times verificou com três pessoas informadas sobre os comentários do primeiro-ministro. "Esta não é uma meta alta e está muito longe de nossa meta de 5,5%. Mas temos que fazer assim."
No primeiro trimestre deste ano, a China registrou um crescimento anual de 4,8% do PIB.
Li acrescentou que a economia está "até certo ponto pior do que" no início da pandemia no início de 2020, observando que o desemprego de pessoas de 16 a 24 anos atingiu uma alta histórica de 18,2%, enquanto a taxa de desemprego de trabalhadores migrantes também subiu acentuadamente.
Uma versão condensada dos comentários do primeiro-ministro, incluindo seu apelo para alcançar um "crescimento razoável", foi veiculada no principal noticiário noturno da televisão estatal chinesa.
Li pediu que as autoridades presentes, incluindo os vice-primeiros-ministros Liu He e Han Zheng e o presidente do banco central, Yi Gang, ajudem as empresas a retomar a produção.
"O progresso não é satisfatório", disse o primeiro-ministro. "Algumas províncias estão relatando que apenas 30% das empresas reabriram. A proporção deve ser aumentada para 80% dentro de um curto período de tempo."
Li acrescentou que a liquidação de empresas aumentou mais de 23% ano a ano em abril, quando toda a cidade de Xangai entrou num bloqueio total que afetou as operações comerciais no leste da China. Em grande parte, as pequenas e médias empresas do setor privado, que respondem por metade ou mais das receitas do governo, da produção econômica e do emprego, foram as mais atingidas.
De acordo com a transcrição, Li não mencionou a estratégia de Covid zero de Xi, mas reiterou a importância da prevenção. "Devemos garantir que o bom funcionamento das cadeias de suprimentos e a prevenção da Covid sejam alcançados", disse ele, acrescentando que "muitas PMEs e autoridades locais me disseram que seus piores dias chegaram".
O Departamento Nacional de Estatísticas informou na semana passada que as vendas no varejo caíram 11% ano a ano no mês passado. Outro motor de crescimento, a produção industrial, diminuiu 3% no mesmo período –seu primeiro declínio desde o início da pandemia no início de 2020.
Segundo Li, geração de energia, transporte de carga e novos empréstimos bancários caíram na primeira quinzena de maio.
Em 20 de maio, o banco central da China cortou sua taxa básica de empréstimos para cinco anos, usada para precificar hipotecas, de 4,6% para 4,45%. O setor imobiliário chinês, que responde por cerca de 30% da produção econômica total, estava sofrendo antes mesmo dos surtos e bloqueios desta primavera em Xangai, Pequim e outras cidades.
Jilin, uma grande região agrícola no nordeste da China, foi uma das províncias mais afetadas. Li disse que a produção de grãos "mal" pode atender à demanda e alertou para "enormes problemas" se a colheita de grãos no verão for ruim.
Li também disse que várias províncias pediram ajuda financeira ao governo, mas deu a entender que os recursos de Pequim são limitados. "Estou aqui para lhes informar meu ponto final", disse Li. "Há um fundo de reserva administrado pelo primeiro-ministro. Fora isso, os governos locais devem arrecadar fundos [por conta própria]."
Ele não especificou o tamanho do fundo.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
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