Descrição de chapéu Financial Times

Entusiastas de bitcoins fazem surgir 'Bali do Silício'

Vistas para o mar e resorts de praia da ilha atraem uma nova categoria de turistas

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Oliver Telling
Financial Times

Com suas vistas para o mar e resorts de surfe, Bali há muito tempo atrai surfistas e turistas. Mas hoje, a ilha se tornou também um dos destinos preferenciais dos entusiastas das criptomoedas.

Entre os recém-chegados está Ilia Maksimenka, 33, um empresário russo do blockchain que se transferiu para a ilha da Indonésia em 2020, não muito depois do surto de Covid-19.

"É muito fácil encontrar as pessoas certas", ele disse. "Em termos do Sudeste Asiático, Bali é como o polo [internacional] das criptomoedas, agora".

Turistas assistem ao pôr do sol em praia de Bali, na Indonésia - Johannes P. Christo/Reuters

Embora a pandemia tenha restringido o turismo internacional, a ascensão do trabalho em casa também levou muita gente a reconsiderar sua satisfação com a vida nas cidades que tradicionalmente servem como polos de negócios. Para Maksimenka, que vem de Moscou, Bali era uma alternativa exótica.

"Quando você vem a Bali, a vida talvez seja 10 vezes mais barata do que na Califórnia. Mas o nível de conforto é o mesmo e a qualidade da comida é muito mais alta. As pessoas preferem vir para cá e viver a vida tropical".

Na comunidade de expatriados de Bali, que gostam de se descrever como "nômades digitais", as criptomoedas são um dos interesses que as pessoas têm em comum. Na mídia social, muitos deles se vangloriam das fortunas que ganharam negociando com criptomoedas, e mostram fotos de suas casas de praia ensolaradas, enquanto os amigos continuam a sobreviver com dificuldade em apartamentozinhos apertados, nas cidades que os novos milionários das criptomoedas abandonaram.

"Nós trabalhávamos nesses lugares meio hippies, e de repente começamos a ver Lamborghinis", disse o italiano Emilio Canessa, que trabalha com marketing no projeto "internet computer", desenvolvido pela Dfinity, uma empresa de blockchain. "O calibre das pessoas que temos aqui... é uma loucura".

"Começaram a chamar o lugar de Bali do Silício", ele acrescentou.

A representations of cryptocurrency Bitcoin placed on U.S. dollars in this illustration taken, January 24, 2022. REUTERS/Dado Ruvic/Illustration ORG XMIT: PPP-DAD0027 - REUTERS

A Tokocrypto, uma bolsa de criptomoedas na Indonésia, diz que agora tem 37,66 mil usuários registrados em Bali, ante apenas 808 no começo de 2021. As pessoas da comunidade de criptomoedas de Bali com quem o Financial Times conversou têm interesses diversos, entre os quais operações com criptomoedas, NFTs, o metaverso e finanças descentralizadas. Mas a maior parte dos recém-chegados se enquadra a um determinado molde.

"A presença masculina é muito pesada. Homens brancos, na casa dos 20 e poucos anos", disse Antria Dwi Lestari, que trabalha com engajamento comunitário na Tokocrypto em Bali.

E à medida que cada vez mais jovens começaram a afluir a Bali em busca do sonho das criptomoedas, empresas perceberam novas oportunidades. Este ano, a Tokocrypto lançou o T-Hub, um "clube de criptomoedas" em Bali, que oferece espaço compartilhado de trabalho e uma piscina. A Indodax, outra bolsa indonésia de criptomoedas, montou seu segundo escritório na ilha. Canessa afirmou que sua empresa estabeleceu uma "presença cultural cujo foco é a comunidade".

Ao mesmo tempo, outras empresas em Bali enfrentam dificuldades. A economia da ilha depende em até 80% do turismo, uma fonte de renda que praticamente secou durante a pandemia.

O influxo dos imigrantes atraídos pelas criptomoedas não compensará a renda perdida. Apenas 51 turistas visitaram a ilha no ano passado, de acordo com o serviço de estatísticas de Bali, comparados aos seis milhões anuais de turistas que a ilha recebia antes da pandemia. Algumas partes da ilha praticamente se esvaziaram.

As pessoas da comunidade das criptomoedas não estão cegas às dificuldades das empresas locais ao seu redor. No ano passado, um grupo anônimo lançou o Bali Token, uma forma de criptomoeda. De acordo com o site do projeto, o Bali Token pode ser usado como "cupom de desconto" em "qualquer local turístico" da ilha, o que "ajuda milhões e balineses... a se manterem fortes durante a Covid-19". O valor do cupom virtual caiu em quase 100% depois de seu pico em janeiro, de acordo com a CoinMarketCap, que fornece dados sobre criptomoedas.

Uma petição está circulando online, pedindo que o governo de Bali crie um "visto de trabalhador remoto", para estimular "a economia criativa e digital" e ajudar Bali a enfrentar a seca do turismo. A petição angariou 3.416 assinaturas desde que foi lançada, dois anos atrás.

A petição argumenta que, sem uma licença especial de trabalho, os trabalhadores remotos radicados em lugares como Bali muitas vezes vivem em situação legal ambígua.

Maksimenka indicou que boa parte das postagens de mídia social sobre Bali devem ser encaradas com ceticismo.

"A maioria desses garotos dourados que tentam exibir suas riquezas [na mídia social] são trapaceiros", ele disse. Apenas cerca de 10% da comunidade de criptomoedas em Bali é "séria quanto à tecnologia", ele acrescentou, enquanto os demais estão apenas "pegando carona na onda" e tentando ganhar dinheiro.

Mega Septiandara, indonésia que trabalha remotamente para uma companhia de investimento de Bali, também apontou que a maioria dos expatriados não estava na ilha para ficar.

"Tenho um emprego, e é assim que sobrevivo. As criptomoedas são bacanas. Consigo uma boa renda paralela com elas", ela disse.

Mas outras pessoas "estão tentando fazer fortuna", ela acrescentou "Alguns estavam enfrentando problemas, e decidiram voltar aos seus países de origem. Talvez tenham ficado um pouco entediados em Bali. Depois de algum tempo, as pessoas pensam, ‘é só uma praia’".

Tradução de Paulo Migliacci

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