Estados Unidos sobem juros em 0,5 ponto, maior alta desde 2000

Guerra da Ucrânia e novos lockdowns na China ameaçam manter pressão sobre a economia dos EUA

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Jeanna Smialek
The New York Times

O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) aumentou as taxas de juros em 0,5 ponto percentual, para a faixa entre 0,75% e 1% ao ano, e anunciou um plano para reduzir suas enormes participações em títulos, medidas destinadas a conter a maior inflação em 40 anos.

A decisão de quarta-feira (4) marca o maior aumento da taxa de juros do Fed desde 2000. Ao encolher simultaneamente seu balanço patrimonial de US$ 9 trilhões, o banco está reduzindo rapidamente sua política de estímulos. Juntas, as ações devem repercutir nos mercados e na economia, ao tornarem o crédito mais caro.

O rápido recuo da ajuda monetária é um sinal de que o Fed está levando a sério o resfriamento da atividade e do mercado de trabalho, à medida que a inflação persiste e as autoridades temem que ela possa se tornar permanente. Os preços estão subindo no ritmo mais rápido em 40 anos há meses.

O prédio do Fed (banco central americano), em Washington, DC - Jim Watson - 4.mai.2022/AFP

Os índices das Bolsas americanas, que iniciaram esta quarta (4) no campo negativo, passaram a registrar ganhos expressivos após a decisão da autoridade monetária americana vir em linha com as expectativa do mercado.

Nos Estados Unidos, o S&P 500 avançou 2,99%, e o Dow Jones teve ganhos de 2,81%, enquanto o Nasdaq, onde se concentram as empresas de tecnologia, valorizou 3,19%. O avanço de quase 3% do S&P 500 foi o maior desde 18 de maio de 2020.

Na Bolsa de Valores brasileira, o Ibovespa também foi atingido pela onda de otimismo dos mercados e igualmente reverteu a tendência de queda observada no início da sessão. O índice terminou o pregão com ganhos de 1,70%, aos 108.343 pontos.

O dólar também reverteu a tendência no meio da tarde e passou a registrar desvalorização. No fechamento da sessão, a divisa norte-americana marcava queda de 1,22%, cotada a R$ 4,9030 para venda.

Covid na China e Guerra da Ucrânia pressionam preços e Fed

O Fed passou grande parte de 2021 esperando que a inflação diminuísse por conta própria, à medida que a escassez de oferta se moderava e a economia se equilibrava após as interrupções iniciais da pandemia. Mas a normalidade ainda não voltou e a inflação apenas acelerou.

Agora, novos bloqueios por causa da pandemia na China e a Guerra da Ucrânia estão elevando ainda mais os preços de bens, alimentos e combustíveis. Ao mesmo tempo, há pouca oferta de mão de obra e os salários estão subindo rapidamente nos Estados Unidos, alimentando os preços mais altos dos serviços, pois a demanda do consumidor continua forte.

Os "bloqueios na China provavelmente vão exacerbar as disrupções na cadeia de suprimentos", e a invasão da Ucrânia "e eventos relacionados estão criando uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e provavelmente pesarão sobre a atividade econômica", disse em comunicado o Comitê Federal de Mercado Aberto.

O Fed reiterou que "a inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de energia e pressões mais amplas sobre os preços".

Autoridades do Fed decidiram que não podem mais se dar ao luxo de esperar que a alta de preços se modere por conta própria, e deverão continuar aumentando as taxas em suas reuniões ao longo do ano, com muitos investidores esperando grandes elevações em junho e julho.

Algumas até sinalizaram que um movimento de 0,75 ponto percentual pode ser possível, mas o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou em entrevista nesta quarta que isso não está sendo considerado ativamente.

Embora o Fed reconheça que a inflação pode continuar subindo, alguns analistas duvidam que isso justificaria um movimento ainda maior por parte do banco.

"O que eles estão tentando fazer é dizer ao mercado: a inflação pode aumentar em curto prazo", disse Gennadiy Goldberg, estrategista de taxas da TD Securities, sobre as referências do Fed à Ucrânia e à China. "Isso não sugere que eles devam subir 75 pontos-base, porque esse não é o tipo de inflação que o Fed pode controlar."

Decidir com que rapidez recuar nas políticas de apoio é um exercício difícil. Os bancos centrais esperam agir de forma decisiva para conter a alta dos preços sem limitar o crescimento de forma tão agressiva que leve a economia a uma recessão grave. No entanto, projetar o chamado pouso suave provavelmente será um desafio.

O Fed planeja encolher seu balanço patrimonial a partir de junho, permitindo que os títulos vençam sem reinvestimento. Ele disse na quarta-feira que deixará até US$ 60 bilhões em dívidas do Tesouro expirarem a cada mês, juntamente com US$ 35 bilhões em dívidas lastreadas em hipotecas. Esse plano será implementado em fases até setembro.

A expectativa do Fed de reduzir suas participações deve tirar o fôlego dos mercados financeiros e pode ajudar a esfriar o mercado imobiliário, pois eleva os custos de empréstimos em longo prazo, reforçando o efeito dos aumentos das taxas de juros do banco central. Os movimentos antecipados do Fed já começaram a elevar as taxas de hipotecas.

Colaborou Lucas Bombana, de São Paulo

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