O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) aumentou as taxas de juros em 0,5 ponto percentual, para a faixa entre 0,75% e 1% ao ano, e anunciou um plano para reduzir suas enormes participações em títulos, medidas destinadas a conter a maior inflação em 40 anos.
A decisão de quarta-feira (4) marca o maior aumento da taxa de juros do Fed desde 2000. Ao encolher simultaneamente seu balanço patrimonial de US$ 9 trilhões, o banco está reduzindo rapidamente sua política de estímulos. Juntas, as ações devem repercutir nos mercados e na economia, ao tornarem o crédito mais caro.
O rápido recuo da ajuda monetária é um sinal de que o Fed está levando a sério o resfriamento da atividade e do mercado de trabalho, à medida que a inflação persiste e as autoridades temem que ela possa se tornar permanente. Os preços estão subindo no ritmo mais rápido em 40 anos há meses.
Os índices das Bolsas americanas, que iniciaram esta quarta (4) no campo negativo, passaram a registrar ganhos expressivos após a decisão da autoridade monetária americana vir em linha com as expectativa do mercado.
Nos Estados Unidos, o S&P 500 avançou 2,99%, e o Dow Jones teve ganhos de 2,81%, enquanto o Nasdaq, onde se concentram as empresas de tecnologia, valorizou 3,19%. O avanço de quase 3% do S&P 500 foi o maior desde 18 de maio de 2020.
Na Bolsa de Valores brasileira, o Ibovespa também foi atingido pela onda de otimismo dos mercados e igualmente reverteu a tendência de queda observada no início da sessão. O índice terminou o pregão com ganhos de 1,70%, aos 108.343 pontos.
O dólar também reverteu a tendência no meio da tarde e passou a registrar desvalorização. No fechamento da sessão, a divisa norte-americana marcava queda de 1,22%, cotada a R$ 4,9030 para venda.
Covid na China e Guerra da Ucrânia pressionam preços e Fed
O Fed passou grande parte de 2021 esperando que a inflação diminuísse por conta própria, à medida que a escassez de oferta se moderava e a economia se equilibrava após as interrupções iniciais da pandemia. Mas a normalidade ainda não voltou e a inflação apenas acelerou.
Agora, novos bloqueios por causa da pandemia na China e a Guerra da Ucrânia estão elevando ainda mais os preços de bens, alimentos e combustíveis. Ao mesmo tempo, há pouca oferta de mão de obra e os salários estão subindo rapidamente nos Estados Unidos, alimentando os preços mais altos dos serviços, pois a demanda do consumidor continua forte.
Os "bloqueios na China provavelmente vão exacerbar as disrupções na cadeia de suprimentos", e a invasão da Ucrânia "e eventos relacionados estão criando uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e provavelmente pesarão sobre a atividade econômica", disse em comunicado o Comitê Federal de Mercado Aberto.
O Fed reiterou que "a inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de energia e pressões mais amplas sobre os preços".
Autoridades do Fed decidiram que não podem mais se dar ao luxo de esperar que a alta de preços se modere por conta própria, e deverão continuar aumentando as taxas em suas reuniões ao longo do ano, com muitos investidores esperando grandes elevações em junho e julho.
Algumas até sinalizaram que um movimento de 0,75 ponto percentual pode ser possível, mas o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou em entrevista nesta quarta que isso não está sendo considerado ativamente.
Embora o Fed reconheça que a inflação pode continuar subindo, alguns analistas duvidam que isso justificaria um movimento ainda maior por parte do banco.
"O que eles estão tentando fazer é dizer ao mercado: a inflação pode aumentar em curto prazo", disse Gennadiy Goldberg, estrategista de taxas da TD Securities, sobre as referências do Fed à Ucrânia e à China. "Isso não sugere que eles devam subir 75 pontos-base, porque esse não é o tipo de inflação que o Fed pode controlar."
Decidir com que rapidez recuar nas políticas de apoio é um exercício difícil. Os bancos centrais esperam agir de forma decisiva para conter a alta dos preços sem limitar o crescimento de forma tão agressiva que leve a economia a uma recessão grave. No entanto, projetar o chamado pouso suave provavelmente será um desafio.
O Fed planeja encolher seu balanço patrimonial a partir de junho, permitindo que os títulos vençam sem reinvestimento. Ele disse na quarta-feira que deixará até US$ 60 bilhões em dívidas do Tesouro expirarem a cada mês, juntamente com US$ 35 bilhões em dívidas lastreadas em hipotecas. Esse plano será implementado em fases até setembro.
A expectativa do Fed de reduzir suas participações deve tirar o fôlego dos mercados financeiros e pode ajudar a esfriar o mercado imobiliário, pois eleva os custos de empréstimos em longo prazo, reforçando o efeito dos aumentos das taxas de juros do banco central. Os movimentos antecipados do Fed já começaram a elevar as taxas de hipotecas.
Colaborou Lucas Bombana, de São Paulo
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