Gol e Avianca formam aérea de baixo custo 'tropicalizada'

Empresas vão operar na América Latina sob a holding Abra, mas manterão as marcas independentes

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São Paulo

A brasileira Gol e a colombiana Avianca anunciaram nesta quarta-feira (11) a criação do grupo Abra, que vai reunir as operações das duas companhias aéreas. A holding vai controlar as duas empresas, que englobam as marcas Gol, Avianca, Viva (Colômbia) e Sky (Chile), todas aéreas de baixo custo.

A Folha apurou que não se trata de uma fusão, pelo menos até o momento. É uma operação semelhante às já criadas pela indústria automobilística, como a do grupo Volkswagen –dono das marcas Volkswagen, Audi, Seat, Lamborghini, Porsche, Jetta, Ducati, Škoda, Bentley e Bugatti, que seguem atuando de maneira independente, embora pertençam ao mesmo controlador.

O principal objetivo com a criação da holding é reduzir custos na compra de insumos importantes para a operação, como o querosene de aviação. O preço do combustível disparou depois do início da guerra na Ucrânia e elevou muito o valor das passagens, impedindo a retomada das operações das aéreas, muito afetadas pela pandemia.

avião branco com inscrição em laranja escrito Gol voa em céu azul
Boeing 737-800 da Gol Linhas Aéreas. - AEROIN

A nova holding também vai multiplicar o número de conexões e rotas entre países da América Latina, permitindo que os clientes usufruam das milhagens de uma companhia na outra. O fechamento da transação é esperado para ocorrer no segundo semestre de 2022, sujeito às condições regulatórias.

"A holding cria uma constelação de companhias low cost na América Latina, que lhes permite ficar com suas marcas e explorar sinergias", André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company, especialista no mercado de aviação civil.

Na opinião de Castellini, as duas empresas adotam o modelo de baixo custo (‘low cost’) tropicalizado: as companhias aéreas adotam um serviço de bordo simplificado e as aeronaves têm alta densidade de assentos, como as low cost tradicionais, mas não são ponto a ponto, não vão e voltam do mesmo lugar. Elas emendam uma rota na outra, porque muitas vezes não têm passageiros suficientes, diz o consultor.

"Além disso, são companhias aéreas que oferecem amenidades, como um lanchinho básico. Porque este é o perfil do consumidor brasileiro: tem um carro popular, mas faz questão do vidro elétrico", brinca Castellini.


Fundo americano deve aportar até US$ 350 milhões no negócio

O consultor chama a atenção ainda para o investimento que o fundo americano Elliot pretende fazer na holding: até US$ 350 milhões, segundo comunicado divulgado nesta quarta-feira para investidores da Gol. "Mostra a confiança no modelo do negócio, encabeçado por duas empresas bem-sucedidas no setor aéreo", diz.

A Avianca Colômbia, que se une à Gol, não tem ligação com a Avianca Brasil, controlada pela Ocean Air –que apenas usava a marca da aérea e faliu.

De acordo com o comunicado, o grupo Abra, com sede em Londres, vai fornecer uma plataforma para que as companhias aéreas reduzam custos, ganhem economia de escala, continuem a operar uma frota de aeronaves modernas e expandam suas rotas, serviços, ofertas de produtos e programas de fidelidade. Mas as aeronaves de cada aérea são de modelos destintos: Boeing com a Gol e Airbus com a Avianca.

"Juntas, Avianca e Gol serão a base de uma malha pan-latinoamericana de companhias aéreas com o objetivo de ter o menor custo unitário em seus respectivos mercados, os programas de fidelidade líderes em suas regiões e outros negócios sinérgicos", informa o texto. "As companhias aéreas manterão suas marcas, equipes e cultura enquanto se beneficiam de maior eficiência e investimentos feitos pelo mesmo grupo controlador."

Os clientes das aéreas poderão acumular e resgatar pontos no LifeMiles e na Smiles, os programas de fidelidade das duas marcas.

Fechamento de capital da Gol não está descartado, apurou a Folha

No final de abril, uma fusão entre Avianca e sua rival colombiana Viva Air já havia sido anunciada.

"O grupo controlará a Avianca e a Gol e, como consequência, também deterá participação econômica não controladora nas operações da Viva na Colômbia e no Peru e um investimento em dívida conversível representando uma participação minoritária na Sky Airline (Chile)", diz o texto.

Segundo comunicado divulgado a investidores, a Gol afirma que a operação não vai exigir a realização de uma oferta pública de aquisição de controle para os acionistas minoritários, já que não haverá alienação ou transferência do controle acionário da companhia aérea.

"A questão de como ficarão os minoritários no negócio não ficou muito clara", diz Castellini.

A Folha apurou que um eventual fechamento de capital da Gol não está descartado.

Constantino de Oliveira Junior, fundador da Gol, será o presidente do Abra e o presidente do conselho será Roberto Kriete, fundador da Taca, que depois foi fundida à Avianca Airlines.

Adrian Neuhauser, atual presidente da Avianca, e Richard Lark, atual principal executivo financeiro da Gol, serão co-presidentes do Abra. Paulo Kakinoff segue como presidente da Gol.

As ações da Gol fecharam em queda de 1,67% na Bolsa de Valores brasileira nesta quarta, na contramão do Ibovespa, que subiu 1,25% impulsionado por papéis de commodities.

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