O advogado Márcio de Lima Leite é o novo presidente da Anfavea (associação das montadoras). A cerimônia de posse aconteceu na manhã desta segunda (2), em São Paulo. Um novo evento ocorrerá nests terça (3), em Brasília.
A ideia é marcar presença junto ao centro do poder, em um movimento de aproximação com os poderes executivo e legislativo. A entidade se afirma apartidária.
Leite é diretor jurídico e de relações institucionais do grupo Stellantis na América do Sul. O advogado está na empresa desde junho de 2000, quando entrou para a Fiat. Eram outros tempos, antes mesmo da fusão da marca italiana com a Chrysler, que foi consolidada no início de 2014.
O advogado substitui Luiz Carlos Moraes, que é o diretor de diretor de comunicação corporativa e relações institucionais da Mercedes-Benz do Brasil.
Moraes disse esperar que o novo presidente encontre tempos menos difíceis pela frente.
O ex-presidente assumiu a Anfavea em 2019, quando o setor automotivo passava por um período de retomada. Contudo, a pandemia de Covid-19 e os consequentes problemas de fornecimento e demanda travaram novamente a indústria.
Em seu discurso de posse, Leite afirmou que os produtos feitos no Brasil podem competir em qualquer mercado. "Nós conseguimos produzir o estado da arte desde a extração do minério de ferro", disse o novo presidente.
Um ponto que está sendo discutido com o governo é a mudança de perfil da cadeia produtiva —para se tornar um polo exportador, será necessário produzir tecnologias voltadas à eletrificação.
O executivo preferiu falar de improviso, não trouxe um discurso fechado. Ele buscou enaltecer a indústria nacional. Segundo Leite, o setor automotivo nacional envolve 98 mil fornecedores nos segmentos de veículos leves, ônibus, caminhões, implementos rodoviários e maquinário agrícola.
O novo presidente contou brevemente a história de sua família, marcada pela perda do pai, em 1976. O executivo tinha então cinco anos e morava em Betim (MG), onde a fábrica da Fiat acabara de ser construída.
Ele disse que foi a indústria que possibilitou a melhora de vida de sua família.
Sua história pessoal, entremeada por momentos de humor e causos relacionados ao clube Atlético Mineiro, serviu de base para falar da importância da retomada industrial do país. Esse tom mais informal —e até emocional— deve marcar a nova gestão da Anfavea.
"Eu tinha um discurso de umas 18 páginas, mas optei pela informalidade", disse Leite.
"Representamos 20% do PIB industrial, mas não somos matemática. Por trás há universidades, educação."
O discurso original de Leite falava sobre temas como uso do etanol como estratégia de descarbonização e capacidade produtiva da indústria automotiva, hoje estimada em 4 milhões de unidades. Pelos números do primeiro quadrimestre, as fábricas operam com cerca de 50% de seu potencial.
Foram comercializadas 147.256 unidades no último mês, alta de 0,3% em relação a março, que teve dois dias úteis a mais. Os dados são baseados no Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores).
Em relação a abril de 2021, houve queda de 15,9% na comercialização de veículos. O primeiro quadrimestre encerrou com 552.924 unidades licenciadas, o que significa retração de 21,4% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Leite afirmou que o grande desafio é fazer com que a cadeia de fornecedores e os investimentos acompanhem as rotas tecnológicas globais, o que possibilitaria exportar não apenas para a América do Sul.
Isso já ocorre, por exemplo, com o setor de maquinário agrícola. A fala do novo presidente foi influenciada pela visita à Agrishow, feira realizada em Ribeirão Preto (interior de São Paulo) na última semana.
O novo presidente da Anfavea disse ainda acreditar em uma reforma tributária, tema que predominante nas conversas da entidade com o governo.
"Temos conversado bastante com o governo, precisamos acelerar a reforma tributária para que o Brasil se torne competitivo", disse o novo presidente. "A redução da carga tributária é louvável, e o que o governo tem apresentado que haverá o fim do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados]."
Um dos planos da gestão de Leite é a criação de um programa de renovação de frota para veículos leves, o que movimentaria as fábricas. Trata-se de sonho antigo da Anfavea, alimentado desde os anos 1990.
Contudo, além das dificuldades de implementação de um programa desse porte, há agora o aumento nos preços dos carros somado à alta das taxas de financiamento.
"Precisamos tornar o automóvel acessível às classes mais baixas. É impensável termos uma taxa de juros de 27% ao ano aos que tomam crédito", afirmou Leite. "Mas na medida que as coisas voltem à normalidade, o mercado deve crescer."
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