Servidores do BC criticam uso político do Pix por Bolsonaro e aliados

Sindicato defende que ferramenta é política de Estado; PP vem usando sistema em suas propagandas

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Brasília

Após o Pix começar a ser usado em campanhas partidárias às vésperas do calendário eleitoral, os servidores do Banco Central publicaram nesta terça-feira (10) uma nota de repúdio contra o uso político da ferramenta pelo governo ou seus aliados dizendo que o mecanismo é resultado do trabalho de funcionários públicos do Estado.

"Tal sistema de pagamento instantâneo foi criado e implementado pelos analistas e técnicos do Banco Central do Brasil, ou seja, por servidores concursados de Estado, não pelo atual governante ou por qualquer outro governo", afirmou Fábio Faiad, presidente do Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central), em nota.

Além de o presidente Jair Bolsonaro (PL) já ter declarado que o Pix é uma ação do seu governo, o ministro das Comunicações, Fábio Faria (PP-RN), usou a ferramenta como tema de uma propaganda partidária no ar desde o mês passado.

"O Progressistas apoiou o presidente Bolsonaro na criação do Pix", afirmou Faria em vídeo, acrescentando que o partido "tem orgulho dessa conquista".

Sede do Banco Central, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

A entidade que representa os servidores do BC reagiu dizendo que "o início do projeto do Pix é bem anterior ao mandato do atual presidente da República" e que é necessário "destacar a diferença entre políticas de Estado e medidas pontuais de governos".

A portaria do BC que instituiu o grupo de trabalho para desenvolver o Pix foi publicada em 3 de maio de 2018, quando a autoridade monetária era comandada por Ilan Goldfajn, durante o governo de Michel Temer (MDB).

O lançamento do Pix ocorreu em novembro de 2020, sob o governo Bolsonaro. Na época, o presidente deu uma declaração pública confundindo o sistema de pagamentos com um tema relacionado à aviação civil.

GREVE DOS SERVIDORES DO BC CONTINUA

Os servidores do BC estão em greve e aprovaram nesta terça a continuidade do movimento por tempo indeterminado. A decisão contou com o apoio de "ampla maioria" dos funcionários que participaram da assembleia deliberativa, segundo o Sinal.

"As razões para tal decisão foram a não abertura de mesa de negociação e a não apresentação de proposta oficial por parte do governo", afirmou a entidade.

Por reajuste salarial e reestruturação de carreira, os servidores do BC voltaram a cruzar os braços no dia 3 de maio após duas semanas de trégua. O atual movimento grevista segue as mesmas características da paralisação que durou de 1º a 19 de abril, com interrupção na divulgação de relatórios e indicadores. Na última segunda-feira (9), o boletim Focus não foi publicado.

O sindicato reforçou, contudo, que o Pix não será interrompido em virtude da mobilização.

"A greve tem adesão majoritária e vai continuar a afetar o boletim Focus, a divulgação da Ptax [taxa de câmbio], a assinatura de processos de autorização no sistema financeiro, a realização de eventos e reuniões com o sistema financeiro e outras atividades", informou em nota.

Faiad afirmou que o sindicato não considera o Comef (Comitê de Estabilidade Financeira) como atividade essencial. "Vamos batalhar para que não haja a realização do Comef (ou, se houver, que seja adiado e com escopo bastante reduzido)", disse.

O encontro está agendado para o dia 26 de maio. Procurado, o BC disse que "a reunião do Comef será realizada na data programada."

Servidores do BC protestam por reajuste salarial e reestruturação da carreira - Pedro Ladeira/Folhapress

Na última quarta (4), os servidores do BC se manifestaram em frente ao edifício-sede da autoridade monetária, em Brasília. O ato presencial, que aconteceu durante a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), teve a presença de cerca de 200 funcionários, segundo estimativa do sindicato.

De acordo com Faiad, até o momento, não há nenhuma reunião agendada com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ou com algum representante do governo.

Descontentes com a proposta do governo de reajuste linear de 5% para todo o funcionalismo público, os servidores do BC apresentaram uma contraproposta com pedido de recomposição salarial de 27% a partir de 1º de julho, não mais do primeiro semestre.

Como antecipou a Folha em 13 de abril, Bolsonaro decidiu conceder um reajuste de 5% para todas as carreiras —inclusive militares das Forças Armadas, além de integrantes do Judiciário e do Legislativo— a partir de 1º de julho. A medida ainda não foi oficializada.

Entre as demandas de reestruturação de carreira, a categoria pede a definição, em lei, dos três cargos da autarquia (analista, técnico e procurador) como exclusivos de Estado, a exigência de nível superior para os técnicos e a alteração da nomenclatura do cargo de analista para "auditor federal do Banco Central", preferencialmente.

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