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Alta global dos juros provoca ainda mais a inflação dos alimentos

Produtores vêm assimilando custos, mas não conseguem repassar preços à população

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São Paulo

A alta dos juros, uma medida dos governos para conter a inflação elevada, pode provocar ainda mais inflação, principalmente no Brasil.

As exportações brasileiras vão bem, trazendo um bom saldo comercial, e o VBP (Valor Bruto da Produção) atinge patamar recorde.

Os números, no entanto, não refletem a realidade dos pequenos e médios produtores, principalmente os voltados para produtos básicos consumidos internamente.

Ilustração de Dado Ruvic - 12.jun.2022/Reuters

Esses produtores vêm assimilando custos, mas não conseguem repassar preços a uma população que está com a menor renda desde 2012, conforme mostra pesquisa de rendimento de todas as fontes do IBGE, iniciada em 2012.

É um cenário de guerra, diz Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). De janeiro de 2021 a abril deste ano, o valor do potássio subiu 243%; o do glifosato, 395%; e o do diesel, 80%.

O diretor da CNA coloca ainda nessa lista de altas os serviços, fretes, máquinas agrícolas e outros insumos.

Custos elevados, receitas reduzidas e queda no consumo, devido à renda fraca, estão reduzindo a oferta de alimentos por parte dos produtores e, em muitos casos, afastando os agricultores de suas atividades.

É o que já ocorre com a produção de leite, de hortifrútis, de mandioca, de feijão e até de arroz. Uma redução na oferta desses produtos, tipicamente voltados para o mercado interno, vai elevar ainda mais os preços e pressionar a inflação.

Esse é um cenário mundial, e todos os países produtores estão tomando medidas já com vistas à próxima safra.

Daí a necessidade de convencimento do governo de que uma política mais barata e que resulte em maior oferta de alimentos é um bom Plano Safra, afirma Lucchi.

Controle de inflação por meio de juros altos é ruim não só para o agronegócio, mas para toda a economia, segundo o diretor técnico da CNA.

Ivan Wedekin, consultor e ex-secretário de Política Agrícola, diz que a elevação de juros não vai trazer grandes efeitos sobre os produtos agrícolas. Existe um problema de oferta, diante de uma demanda aquecida. Serão pelo menos duas safras para o retorno de um equilíbrio, afirma ele.

O mundo vive uma inflação de alimentos, que subiram 68% de 2019 a abril último, conforme dados da ONU (Organização das Nações Unidas), afirma ele.

A alta dos juros nos Estados Unidos pode retirar capital do Brasil e levá-lo para o mercado norte-americano. Com isso, o dólar fica escasso por aqui e sobe.

Essa alta beneficia os produtores de commodities exportáveis, como os de soja e de carnes, mas desfavorece o produtor voltado para o mercado interno, afirma Wedekin.

Para Daniele Siqueira, analista da AgRural, o investidor é avesso ao risco e sempre procura os ativos mais seguros. O preço da soja já vinha registrando essa expectativa de alta de 0,75 ponto percentual na taxa de juros nos Estados Unidos.

Os contratos mais curtos, e com maior valor, vêm caindo nos últimos dias. Já os de novembro, o contrato de maior liquidez no mercado, teve recuo menor.

A soja e o açúcar fecharam em baixa nesta quarta-feira (15) nas Bolsas de commodities dos Estados Unidos, mas milho e café subiram. O trigo manteve preços estáveis.

O Fed (banco central dos Estados Unidos) elevou a taxa de juros em 0,75 ponto percentual, maior aumento desde 1994.

​Já o Banco Central do Brasil aumentou a Selic em 0,5 ponto percentual, para 13,25%. Os juros norte-americanos devem terminar o ano próximo de 3,5%, enquanto no Brasil já se projeta até 15%.

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