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PIB

Clima derrota PIB do agronegócio brasileiro

Queda de 8% ocorre em momento de altos custos e delicado para o setor

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Mauro Zafalon

Responsável pela coluna Vaivém das Commodities, é formado em jornalismo e em ciências sociais.

O celeiro do mundo, como o Brasil gosta de ser chamado, está sendo derrotado pelo clima. O PIB (Produto Interno Bruto) agrícola caiu 8% no primeiro trimestre deste ano, em relação a igual período do ano passado.

Nas duas últimas safras, o país viu a produção de soja e de milho, os dois principais produtos nacionais, ficarem 47 milhões de toneladas abaixo do potencial de produção devido a variações climáticas. No ano passado, seca e geada afetaram a safra de milho. Neste ano, foram as lavouras de soja.

Com a queda neste primeiro trimestre, a agropecuária, que vinha sustentando a economia nacional nos últimos anos, acumula retração de 4,8% no PIB acumulado dos últimos quatro trimestres.

O primeiro trimestre é muito importante para a produção brasileira de grãos, devido às safras de arroz, milho de verão, soja, mandioca, feijão, fumo e uva. Todos foram afetados pelo clima e tiveram perdas de produtividade.

Caminhão descarrega milho colhido na segunda safra perto de Sorriso, no Mato Grosso - Nacho Doce - 12.mai.2021/Reuters

A região Sul, uma das mais desenvolvidas na agropecuária e que representa 25% da produção nacional de grãos, é a grande responsável pela desaceleração do PIB neste início de ano.

Todas essas culturas de início de ano estão praticamente concentradas no Sul, o que levou a região a produzir apenas 66 milhões de toneladas de grãos no período, 15% a menos do que em 2021.

O clima fez o Paraná retornar ao patamar de produtividade de soja de há três décadas. Com isso, a produção da oleaginosa no estado teve quebra de 40%. No Rio Grande do Sul, onde a redução de produção da soja foi de 55%, a situação foi ainda mais grave.

O desempenho dessas lavouras determina o ritmo da safra brasileira. Soja e milho representam 88% da produção nacional de grãos. Acrescentado o arroz nessa conta, a participação dos três sobe para 92%.

A lista dos produtos que tiveram interferência do clima e perderam produtividade, em relação ao seu potencial, foi grande. A soja, líder nacional em produção, teve retração de 16% na produtividade deste ano. O milho verão teve queda foi de 8%; o arroz, de 7%; o fumo, de 5%; e o feijão primeira safra, de 4%.

Os efeitos climáticos que afetaram principalmente as lavouras do Sul trouxeram grandes perdas para o país, devido à participação da região na produção nacional.

Conforme dados do IBGE, o Sul concentra 82% da produção nacional de arroz; 20% da de soja; 32% da safrinha de milho; 26% da de feijão e 95% da de fumo.

Essa queda do PIB agropecuário ocorre em um momento delicado para o setor. Os preços internacionais das commodities continuam em patamares elevados, mas os custos atingiram valores recordes, principalmente os dos insumos como os fertilizantes.

O alto custo de produção a partir da próxima safra deverá levar parte dos produtores a reduzir a tecnologia empregada na produção. As margens de ganho encurtaram muito, se transformando, no caso de culturas como a do arroz, em prejuízos.

Se isso ocorrer, os problemas de produção viriam não apenas de eventuais novos fenômenos climáticos, mas também de redução de produção, devido à menor produtividade nas lavouras. O PIB do setor continuaria patinando.

O Brasil esperava atingir 290 milhões de toneladas de grãos neste ano, mas, com a quebra na produção de soja, o volume deverá ficar próximo de 262 milhões.

A produção de soja, estimada inicialmente em até 145 milhões de toneladas por algumas consultorias, deverá ficar em 118,5 milhões, conforme as estimativas mais recentes do IBGE.

Um alento para o PIB da agropecuária poderá ser a safrinha de milho, que, ao contrário do ano passado, terá evolução positiva. O plantio foi feito no período correto, e a produção deverá atingir 87 milhões de toneladas, 39% a mais do que em igual período de 2021. O clima, porém, precisa ajudar, principalmente nas lavouras do Sul, onde a ameaça de geadas é constante.

Se confirmado esse volume na safrinha, a produção total de milho do país atingirá o recorde de 112 milhões de toneladas. As estimativas iniciais, antes da quebra de verão no Sul, indicavam volume superior a 120 milhões de toneladas.

O PIB agropecuário deverá receber números favoráveis nos próximos meses das safras de algodão e de café, que estão com previsão de alta de 12%, em relação a 2021.

Mesmo assim, o baque do primeiro trimestre foi grande. A retração de 0,2% no ano passado e a queda acumulada de 4,8% nos últimos quatro trimestres pesarão até o final de ano na variação do PIB do setor.

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