Bolsa tem 8ª queda à espera de juros agressivos contra inflação

Autoridades monetárias dos EUA e do Brasil divulgam taxas nesta quarta (15)

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São Paulo

O mercado financeiro aprofundou nesta terça-feira (14) o tombo da véspera, sendo dragado pelo sentimento cada vez mais forte de que a inflação mundial está descontrolada e provocará uma alta global de juros capaz de colocar as principais economias à beira da recessão.

Refletindo o ambiente de aversão aos investimentos de risco, o dólar comercial subiu 0,43%, a R$ 5,1350 na venda, renovando a sua maior cotação frente ao real em um mês.

A Bolsa de Valores brasileira chegou à oitava queda consecutiva. O índice de referência Ibovespa perdeu 0,52% nesta sessão, encerrando o dia com a pontuação de 102.063, a mais baixa desde 6 de janeiro.

O mergulho de 9,19% do mercado de ações doméstico desde a última alta, em 2 de junho, tem forte relação com o cenário internacional, embora o governo brasileiro também tenha reforçado a percepção de investidores quanto ao risco fiscal ao colocar em pauta uma proposta de desoneração dos combustíveis.

Nota de dólar diante de gráfico de ações
Nota de dólar diante de gráfico de ações - Dado Ruvic - 12.jun.2022/Reuters

Setores mais sensíveis à alta dos juros, como é o caso do varejo, concentraram as maiores perdas na Bolsa brasileira nesta terça. As ações da Via desabaram 10,20%. Na contramão do mercado, a Eletrobras subiu 3,37%. Essa é a primeira alta da companhia após ela ter acumulado 6,83% de queda desde a confirmação da sua privatização na última quinta-feira (9).

Na quinta queda consecutiva da Bolsa de Nova York, o indicador de referência S&P 500 cedeu 0,38%, após ter mergulhado 3,88% na sessão anterior.

O índice Dow Jones, que acompanha empresas americanas de grande valor, recuou 0,50%. O Nasdaq, que é focado em companhias médias do setor de tecnologia, subiu 0,18%. A ligeira alta ocorreu, porém, após um tombo de quase 5% na véspera.

Os principais mercado europeus também recuaram. As Bolsas de Paris e de Frankfurt caíram 1,20% e 0,91%, nessa ordem. Londres perdeu 0,25%.

O estresse toma conta do mercado financeiro mundial desde a última sexta-feira (10), quando dados da inflação americana vieram acima do esperado, reforçando o sentimento de que autoridades monetárias em todo o mundo terão de acelerar ainda mais suas respectivas taxas de juros.

Essa situação tende a valorizar moedas fortes, sobretudo o dólar, e tirar investimentos de ações de empresas negociadas nas Bolsas.

Nesta quarta-feira (15), o Fomc (comitê de política monetária) do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) concluirá sua reunião de dois dias e informará a sua decisão sobre o ritmo de aumento dos juros no país.

Analistas do mercado de Nova York apostam amplamente em uma elevação de 0,75 ponto percentual, segundo a agência Reuters. Se confirmada, essa será a maior alta em uma reunião do Fed desde 1994.

Esse aumento elevaria a taxa de referência do Fed para o empréstimo diário entre bancos (parâmetro para o setor de crédito em geral) para um intervalo entre 1,5% e 1,75% ao ano. Esse número também é o mais esperado entre analistas consultados pela agência Bloomberg.

Ao continuar nesse passo, o Fed poderá chegar a uma taxa de até 2,5%, em setembro, e de até 3,5% em dezembro. Isso representaria o intervalo mais agressivo de aperto da política monetária americana desde a década de 1980, segundo análise do The Wall Street Journal.

Também nesta quarta, o Copom, comitê responsável por formular a política monetária do Banco Central do Brasil, apresentará sua decisão sobre a taxa básica de juros do país, a Selic. O aumento no custo do crédito nos Estados Unidos tende a afetar a taxa brasileira.

"Todas as atenções estão voltadas para Copom e Fed", comentou Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos. "Esperava-se, nos dois casos, uma alta de meio ponto percentual, mas os dados da inflação lá fora deixaram o cenário meio turvo", disse.

No caso dos juros brasileiros, a projeção da Bloomberg é de um acréscimo de 0,50 ponto percentual, o que elevaria a Selic dos atuais 12,75% para 13,25% ao ano.

Com o mercado brasileiro de juros futuros à espera da alta da Selic, a taxa DI (Depósitos Interbancários) com vencimento em janeiro de 2023 subia 0,13% ponto percentual no início da noite desta terça, passando para aproximadamente 13,67% ao ano.

O aperto monetário —o que significa tornar o crédito mais caro para, assim, esfriar o consumo e desacelerar a inflação— nos Estados Unidos também aumenta o rendimento dos títulos do Tesouro americano, considerado o investimento mais seguro do planeta.

Isso leva investidores a diminuírem suas aplicações em mercados mais arriscados, como as Bolsas de Valores. É um momento em que o mercado quer tirar proveito da renda fixa mais atrativa nos EUA.

Esse aumento do fluxo de dólares em direção aos títulos soberanos nos Estados Unidos torna a moeda mais escassa e cara, provocando uma reação em cadeia no mundo dos negócios.

Em países de economia emergente, como o Brasil, a alta do dólar eleva custos de importação e faz disparar a inflação.

Bancos Centrais são forçados a elevar juros para convencer investidores de que o retorno oferecido por seus títulos soberanos compensa o risco que eles correm ao não levarem seus dólares para os EUA.

O principal problema desse movimento é a falta de liquidez no mercado, uma vez que investidores passam a ter a chance de obter ganhos confortáveis com juros altos pagos pela renda fixa em todo o mundo. O dinheiro que sai das Bolsas faz falta para as empresas, pois elas perdem capital com a queda das suas ações e deixam de crescer e gerar empregos.

Mas a crise atual é ainda mais difícil de se enfrentar porque o aperto ao crédito não é o único remédio capaz de frear a inflação. Ainda como consequência das paralisações de atividades provocadas pela pandemia de Covid, o mundo enfrenta a falta de bens e insumos.

A alta de preços, portanto, precisaria também ser combatida com o aumento da oferta. Mas há ao menos dois grandes impedimentos para a normalização da comercialização global de mercadorias.

Em primeiro lugar, a China, que concentra boa parte da produção de bens industrializados do mundo, mantém severas restrições ao funcionamento de empresas para tentar conter as infecções pelo coronavírus.

Além disso, a guerra na Ucrânia reduziu a oferta de petróleo e fez o preço da matéria-prima disparar, uma vez que a produção russa foi banida dos Estados Unidos e de parte da Europa. Também devido ao conflito, a produção de grãos da Ucrânia enfrenta obstáculos para ser escoada, colaborando com o aumento global dos preços dos alimentos.

Erramos: o texto foi alterado

O gráfico Juros DI 2023 trazia dados incorretos, relativos à cotação do dólar, em versão anterior desse texto.

 

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