Elon Musk diz ter 'péssimo pressentimento' sobre economia e prevê cortar 10% das vagas na Tesla

Bilionário enviou email a executivos intitulado 'Parem todas as contratações em todo o mundo'

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Hyunjoo Jin
San Francisco | Reuters

Elon Musk, CEO da Tesla, tem um "péssimo pressentimento" sobre a economia e precisa cortar cerca de 10% dos empregos na companhia de carros elétricos, disse ele em um email para executivos visto pela agência Reuters.

A mensagem, enviada na quinta-feira (2) e intitulada "Parem todas as contratações em todo o mundo", veio dois dias depois que o bilionário disse aos funcionários para voltarem ao local de trabalho ou se demitirem, e ocorre em um momento de um crescente coro de alertas de líderes empresariais sobre os riscos de recessão.

Quase cem mil pessoas estavam empregadas na Tesla e suas subsidiárias no final de 2021, conforme seu relatório anual à SEC (Comissão de Valores Mobiliários).

A empresa não atendeu imediatamente a pedidos de comentário.

Elon Musk, CEO da Tesla, participa de cerimônia de abertura de fábrica em Xangai, China - Aly Song - 7.jan.2019/Reuters

As ações da Tesla nos Estados Unidos registraram queda de 9,23% nesta sexta-feira (3), a US$ 703,25 (R$ 3.372,08), e os papéis listados em Frankfurt baixaram 9,35%, cotados a 660,60 euros (R$ 3.392,18).

Musk alertou nas últimas semanas sobre os riscos de recessão, mas seu email ordenando o congelamento das contratações e cortes de pessoal foi a mensagem mais direta e de alto perfil de um chefe de montadora.

Até agora, a demanda por carros da Tesla e outros veículos elétricos permaneceu forte, e muitos indicadores tradicionais de desaceleração –incluindo o aumento de estoques e incentivos a revendedores nos Estados Unidos– não se materializaram.

Mas a Tesla tem lutado para retomar a produção em sua fábrica de Xangai depois que os bloqueios da Covid-19 causaram suspensões dispendiosas.

"O mau sentimento de Musk é compartilhado por muitas pessoas", disse Carsten Brzeski, chefe global de pesquisa macroeconômica no banco holandês ING. "Mas não estamos falando de recessão global. Esperamos um esfriamento da economia global no final do ano. Os EUA vão esfriar, enquanto a China e a Europa não vão se recuperar."

A perspectiva sombria de Musk ecoa comentários recentes de executivos, incluindo o CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, e o presidente do Goldman Sachs, John Waldron.

"Há um furacão logo ali na estrada, vindo em nossa direção", disse Dimon nesta semana.

A inflação nos Estados Unidos está se aproximando do pico em 40 anos e causou um salto no custo de vida da população, enquanto o Federal Reserve enfrenta a difícil tarefa de amortecer a demanda o suficiente para conter a inflação sem causar recessão.

Musk, o homem mais rico do mundo de acordo com a revista Forbes, não detalhou as razões de seu "péssimo pressentimento" sobre as perspectivas econômicas no breve email visto pela Reuters.

Também não ficou imediatamente claro qual implicação, se houver, a opinião de Musk teria para sua oferta de US$ 44 bilhões (R$ 210,6 bilhões) pelo Twitter.

Vários analistas reduziram as metas de preços para a Tesla recentemente, prevendo queda de produção na fábrica em Xangai, polo que fornece veículos elétricos para a China e para exportação.

A China respondeu por pouco mais de um terço das entregas globais da Tesla em 2021, segundo relatórios da empresa e dados divulgados sobre as vendas no país. Na quinta-feira (2), a Daiwa Capital Markets estimou que a Tesla tinha cerca de 32 mil pedidos aguardando entrega na China, em comparação com 600 mil veículos da BYD, seu maior rival nesse mercado.

O analista Daniel Ives, da Wedbush Securities, disse em um tuíte que parecia que Musk e a Tesla estavam "tentando se antecipar a entregas mais lentas este ano e preservar as margens antes de uma desaceleração econômica".

'Pausar todas as contratações'

Antes da advertência de Musk, a Tesla tinha cerca de 5.000 vagas de emprego no LinkedIn, desde vendedores em Tóquio e engenheiros em sua nova gigafábrica em Berlim até cientistas de aprendizado profundo em Palo Alto, na Califórnia. Ela havia programado um evento de contratação online para Xangai em 9 de junho em seu canal no WeChat.

A exigência de Musk de que os funcionários retornem aos escritórios já causou reação negativa na Alemanha. E seu plano de cortar empregos enfrentaria resistência na Holanda, onde a Tesla tem sua sede na Europa, disse um líder sindical.

"Você não pode simplesmente demitir trabalhadores holandeses", disse o porta-voz do sindicato FNV, Hans Walthie, acrescentando que a Tesla teria que negociar os termos de qualquer demissão com um conselho de trabalhadores.

Em um email na terça, Musk tinha dito que os funcionários da Tesla deveriam ficar no escritório no mínimo 40 horas por semana, fechando a possibilidade de qualquer trabalho remoto. "Se você não aparecer, vamos supor que se demitiu", disse ele.

Musk referiu-se repetidamente ao risco de uma recessão em comentários recentes.

Falando remotamente em uma conferência em meados de maio em Miami Beach, ele disse: "Acho que provavelmente estamos em recessão, e essa recessão vai piorar".

No final de maio, quando perguntado no Twitter se uma recessão estava chegando, Musk disse: "Sim, mas isso é realmente uma coisa boa. Há muito tempo chove dinheiro para os tolos. Precisam acontecer algumas falências."

Outras empresas cortaram empregos ou estão desacelerando ou interrompendo as contratações em meio ao enfraquecimento da demanda.

No mês passado, a Netflix disse que demitiu cerca de 150 pessoas, a maioria nos Estados Unidos, e a Peloton informou em fevereiro que cortaria 2.800 empregos. Meta Platforms, Uber e outras empresas de tecnologia desaceleraram as contratações.

​Em junho de 2018, Musk disse que a Tesla cortaria 9% de sua força de trabalho, pois a empresa então deficitária tinha dificuldade para vender a produção de sedãs elétricos Model 3, embora dados em seus registros na SEC mostrem que as reduções foram mais do que compensadas pelas contratações no final do ano.

Colaboraram John O'Donnel, Ju-min Park e Zoey Zhang. Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.

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