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Senador rebate estados e estima perda de arrecadação de R$ 26,7 bi com proposta que limita ICMS

Fernando Bezerra estipulou no texto alíquota zero até 2027 para etanol; renúncia federal com combustíveis pode chegar a R$ 35,2 bi

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Brasília

O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) apontou uma estimativa de perda de R$ 26,7 bilhões na arrecadação dos estados com a proposta que limita tributos estaduais sobre combustíveis, energia, telecomunicações e transportes —abaixo do que preveem os governadores.

As estimativas de perdas de arrecadação foram incluídas no seu relatório sobre o chamado PLP 18, que foi apresentado em sessão do Senado nesta quinta-feira (9).

Bezerra, ex-líder do governo Bolsonaro no Senado, também apontou em seu relatório que o total de desonerações de tributos federais sobre combustíveis pode chegar a R$ 35,2 bilhões. Em seu texto, o senador prorrogou até 2027 a alíquota zero sobre o álcool.

Senador Fernando Bezerra, relator da proposta que limita ICMS sobre combustíveis, deixa cerimônia no Palácio do Planalto
Relator da proposta que limita combustíveis, Fernando Bezerra contesta em seu texto números apresentados por estados - Adriano Machado/Reuters

O relator da proposta buscou rebater a versão dos estados de que a queda na arrecadação com a aprovação da medida apresentaria um duro golpe nas finanças, comprometendo serviços essenciais e os repasses a municípios.

Em seu relatório, Bezerra incluiu estimativas elaboradas pela Conorf –a consultoria de orçamento do Senado Federal– que aponta o impacto financeiro de R$ 26,7 bilhões neste ano e R$ 53,5 considerando o período anualizado.

​As estimativas do Comsefaz, que Bezerra incluiu em seu texto, apontam perdas de R$ 41,3 bilhões neste ano e R$ 82,6 bilhões no período de 12 meses.

"Um debate que a gente vem presenciando nessa Casa e pela imprensa de que muitas vezes o sacrifício está sendo exigido só dos estados e dos municípios. Não é verdade. Na realidade, a União está entrando com uma contribuição superior a R$ 32 bilhões. Se nos fiarmos nas estimativas de perda que são feitas pelo Senado Federal, é muito superior à contrapartida aos estados, que é de pouco mais de R$ 20 bilhões", afirmou Bezerra, durante a sessão.

Em seu relatório, Bezerra ainda cita que as estimativas de arrecadação com o ICMS apontam para uma alta de R$ 66,5 bilhões em 2022, em relação ao ano passado. O senador então conclui que as perdas com o PLP 18 ainda serão inferiores à alta projetada.

O senador também confirmou a inclusão em seu texto das medidas que haviam sido anunciadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) na segunda-feira (6). Constam a redução a zero das alíquotas da Cide-Combustíveis, PIS e Cofins incidentes sobre a gasolina até 31 de dezembro de 2022. Essas medidas vão representar uma renúncia fiscal por parte do governo federal de R$ 17 bilhões.

Uma novidade em seu relatório foi determinar que a alíquota zero de tributos federais para álcool hidratado combustível e sobre álcool anidro adicionado à gasolina vai vigorar até 30 de junho de 2027. O relator —representante de Pernambuco, estado que tem um polo sucroalcooleiro— argumentou que é necessário manter a competitividade dos biocombustíveis, com a redução das alíquotas para combustíveis fósseis, embora essas devam se encerrar ainda neste ano.

O relatório informa que a medida vai representar custo de R$ 3,3 bilhões neste ano; R$ 7,5 bilhões para 2023; e R$ 7,8 bilhões para 2024.

Bezerra afirmou que a inclusão desse item foi resultado de um arranjo político dentro do Senado. A equipe econômica, afirma, ainda não tem conhecimento desse item.

"Foi feito aqui no Senado Federal, no sentido de a gente manter a atratividade do biocombustível em relação ao combustível não fóssil, como existe hoje. Com o movimento da redução das alíquotas do combustível fóssil, é preciso garantir isso. E a gente tem que garantir pelo período que a lei prevê, que é o previsto de cinco anos previsto na LDO", afirmou após a sessão.

"[A equipe econômica] concorda, mas a equipe econômica está sabendo dessa disposição de criar esse conceito pelos próximos cinco anos com a apresentação do nosso relatório", completou.

Segundo o relatório do PLP, todas as desonerações de tributos federais para diesel, gasolina, etanol e GLP podem chegar a R$ 35,2 bilhões.

Além disso, Bezerra será relator de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), apresentada pelo líder do governo Carlos Portinho (PL-RJ), que prevê compensação de R$ 29,6 bilhões para estados que zerarem as alíquotas sobre combustíveis.

Bezerra também confirmou a inclusão em seu parecer sobre o PLP 18 das medidas que havia anunciado nos dias anteriores.

Pela proposta, já aprovada na Câmara dos Deputados, os estados não podem aplicar sobre combustíveis, energia, telecomunicações e transportes porcentuais maiores que a alíquota modal, que fica entre 17% e 18%.

Em um revés para os governadores, que tentavam adiar para 2024 a redução estrutural das alíquotas de ICMS, Bezerra decidiu manter a espinha dorsal do projeto aprovado pela Câmara.

Como havia anunciado, o relator modificou o gatilho a ser acionado quando a queda de arrecadação for maior que 5% para facilitar seu acionamento. Na Câmara, o mecanismo era aplicado levando em conta o total de receitas. No novo texto, a proposta é considerar apenas a queda na arrecadação com os itens alvos da mudança de alíquota.

Bezerra também incluiu no texto mecanismo que vai tornar a compensação mais imediata. Quando o gatilho for acionado, os estados que têm dívidas com a União poderão abater os valores das parcelas da dívida pagas mensalmente. Antes, a proposta era abater do estoque, sem garantia de alívio imediato no caixa.

Outra alteração prevê a inclusão de mecanismos para compensar estados que tenham perdas maiores que 5%, mas não têm dívidas com a União. Eles receberão, em 2023, parte da fatia do governo federal na CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais). O relator disse que cinco estados podem se enquadrar nessa situação, e o impacto será de até R$ 3 bilhões.

Esse grupo também terá prioridade na obtenção de novos empréstimos junto a bancos e a outras instituições.

Durante a sessão, alguns senadores se mostraram contrários à proposta –embora a previsão atual seja de aprovação. Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), por exemplo, apontou que o próprio governo federal não tem uma estimativa pronta do impacto dessas medidas para abaixar o preço dos combustíveis. E ainda lembra a estimativa de que 30 milhões de brasileiros passam fome.

"Esse projeto vai ajudar e vai dar algum subsídio basicamente a quem usa gasolina e álcool. Vão subsidiar o carro de passeio. Se vamos subsidiar o carro de passeio, que é uma coisa da classe média, por que não subsidiar o feijão, o arroz, a carne? Por que será que o álcool e por que será a gasolina, para o carro de passeio, mais importante do que a carne, do que o feijão, do que o arroz? [Parece que] nossos carros merecem comer, mas nosso povo, não", afirmou.

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