Descrição de chapéu Eleições 2022

Sinais de Lula para a economia são péssimos, mas mercado sabe diferenciar, diz banqueiro

Ricardo Lacerda, do BR Partners, afirma que não acredita em terceira via

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São Paulo

O banqueiro Ricardo Lacerda, sócio-fundador do BR Partners Banco de Investimento, não vê chances de terceira via capaz de enfraquecer a liderança entre Lula e Bolsonaro na eleição.

Nem Simone Tebet, diferentemente de uma parte do empresariado que ainda acredita no fortalecimento de um nome alternativo.

"A terceira via deve resultar de um movimento vindo do eleitor, com alguém que cresça nas pesquisas e mostre competitividade eleitoral. Não dá pra inventar terceira via do nada", diz.

Ricardo Lacerda, fundador do banco BR Partners, na sede da empresa - Bruno Santos/Folhapress

Um cenário menos improvável, segundo Lacerda, é a probabilidade de a eleição se definir já no primeiro turno. "Em caso de vitória de Lula no primeiro turno, o risco é os setores ideológicos e fisiológicos do PT sentirem-se empoderados e ganharem muito espaço no governo", afirma.

Na avaliação de Lacerda, os sinais que Lula tem passado na agenda econômica são péssimos, mas não têm causado grande impacto porque o mercado sabe diferenciar o discurso de campanha do petista.

"É inimaginável alguém nos dias de hoje defender o fim do teto de gastos e a reestatização. Não há nada mais anacrônico. Por outro lado, Lula escolheu Alckmin como vice e tem procurado conversar com vários setores. O mercado já sabe diferenciar o Lula candidato do Lula presidente, então esse discurso não tem causado grande impacto", diz o banqueiro.

Já as ameaças de Bolsonaro às urnas preocupam. Ele avalia que o cenário de instabilidade ainda não está no preço dos ativos, mas pode se transformar em surpresa negativa.

Lacerda lista nomes que considera mais adequado na economia em um eventual governo Lula: Jorge Viana, Rui Costa, Pérsi​o Arida, Henrique Meirelles e Mansueto Almeida. No caso de uma reeleição de Bolsonaro, fala em Paulo Guedes ou Gustavo Montezano.

O Datafolha mostrou um reforço no cenário de antagonismo entre Lula e Bolsonaro na eleição. Como o sr. avalia esse retrato a essa altura do campeonato? Acho que o cenário de polarização é irreversível. Ambos têm uma base muito sólida. Não vejo ninguém capaz de mudar essa dinâmica. Eu tinha muita esperança na candidatura do Eduardo Leite, um político jovem mas com experiência sólida em gestão, capaz de mudar o país. Mas mais uma vez o PSDB trocou o pé, deixou as brigas internas superarem o objetivo maior.

O que achou das movimentações mais recentes na terceira via? A saída de Doria é sinal da dificuldade em colocar uma terceira via de pé? Ou é um afunilamento necessário para viabilizá-la? Doria estava muito desgastado. A despeito de ter feito um bom governo e ser um político sério e competente, seu comportamento artificial acabou gerando enorme rejeição. O mesmo se deu com Moro, que acabou confundindo o eleitor com uma sequência de posições incoerentes. Suas saídas mudam muito pouco o quadro geral, a não ser que surja um novo nome, capaz de gerar alguma tração. Mas não enxergo isso hoje.

E a expectativa em torno do nome de Simone Tebet? Acha interessante? Simone é um bom nome. Mas vejo com ressalvas a tentativa de emplacá-la a fórceps como uma terceira via. Primeiro porque pertence ao MDB, um partido com longo histórico de corrupção, que nem ao menos está convencido em dar-lhe a legenda. Segundo porque a terceira via deve resultar de um movimento vindo do eleitor, com alguém que cresça nas pesquisas e mostre competitividade eleitoral. Não dá para inventar uma terceira via do nada.

Recentemente, o sr. disse à Folha que o mercado deveria focar a probabilidade de a eleição ser definida no primeiro turno. Qual seria esse cenário com vitória de Lula? Que riscos vê nessa hipótese? Eu acho que a eleição vai ser acirrada. Lula tem hoje um índice de rejeição artificialmente baixo, dado o histórico de corrupção e políticas econômicas desastrosas do PT. No calor da disputa, sua rejeição vai aumentar. Mas em um cenário de apenas dois candidatos competitivos, a probabilidade de a eleição se definir no primeiro turno, a meu ver, está em torno de 30%. Em caso de vitória de Lula no primeiro turno, o risco é os setores ideológicos e fisiológicos do PT sentirem-se empoderados e ganharem muito espaço no governo.

E o discurso de Bolsonaro contra as urnas assusta o mercado? Qual cenário o mercado projeta diante do risco de um golpe contra o processo eleitoral? Vejo com preocupação um cenário de derrota apertada de Bolsonaro. O que aconteceu nos Estados Unidos, com o candidato derrotado lançando dúvidas sobre a transparência da eleição, pode acontecer aqui e gerar enorme instabilidade institucional. Há um clima ruim contra o Supremo e uma incógnita em relação ao comportamento das Forças Armadas. Acho que esse cenário de instabilidade hoje não está no preço dos ativos mas pode se tornar uma surpresa negativa mais à frente.

Há um ano, em entrevista à Folha, o sr. disse que, se sobrassem apenas Lula e Bolsonaro, seria necessário avaliar como cada um deles terá chegado até lá, quais as sinalizações de ambos e compromissos em direção ao centro. Passado um ano, o que pensa? Continuo focado em ajudar o Novo, partido ao qual sou filiado, e nossos candidatos a presidente, Luiz Felipe d´Avila, e a governador de São Paulo, Vinicius Poit. ​O Novo é o único partido do país cumprindo de verdade o seu papel, com uma gestão brilhante de Zema em Minas e uma atuação combativa da nossa bancada no Congresso. Quero ajudar o Novo a crescer e ainda não penso em segundo turno. Na hora certa, vou decidir com serenidade. Com todos os nossos defeitos, somos uma verdadeira democracia, e o país tem que saber aceitar o resultado das urnas.

Como avalia as mensagens que a campanha de Lula vem passando na agenda econômica? Isso tem feito preço nos ativos? O discurso de Lula até o momento tem sido péssimo. É inimaginável alguém nos dias de hoje defender o fim do teto de gastos e a reestatização de empresas. Não há nada mais anacrônico, mais fora de propósito. Por outro lado, Lula escolheu Alckmin como vice e tem procurado conversar com vários setores. O mercado já sabe diferenciar o Lula candidato do Lula presidente, então esse discurso não tem causado grande impacto.

Como o sr. avalia o governo Bolsonaro? Aliados do presidente viram no resultado do Datafolha uma urgência em focar a economia, culpando causas externas como pandemia e guerra pela inflação. A narrativa basta? O governo Bolsonaro é melhor do que o presidente Bolsonaro. Foram feitos bons trabalhos na infraestrutura, na agricultura, na gestão de estatais e alguns setores da economia. Aprovamos a reforma da Previdência e o processo de desestatização avançou, ainda que de forma mais tímida do que inicialmente idealizado por Paulo Guedes. Mas o cenário pós-pandemia é muito difícil, principalmente na questão inflacionária, e não basta culpar causas externas. O comportamento da inflação e o crescimento econômico até a eleição serão cruciais para o desempenho de Bolsonaro nas urnas.

Acha que Paulo Guedes deve continuar ministro em um segundo mandato de Bolsonaro? Quem poderia substituí-lo? Eu espero que sim. A agenda do Paulo Guedes acabou prejudicada pela pandemia, mas ele tem as ideias corretas para o país: reformas e principalmente a redução do tamanho do estado. Caso não permaneça em um eventual segundo mandato, o melhor nome para substitui-lo seria o do presidente do BNDES, Gustavo Montezano, que vem fazendo um trabalho excepcional.

E quais seriam os melhores nomes para a economia em um governo Lula? Há bons nomes no PT, caso a decisão seja política, como Jorge Viana ou Rui Costa. Há também nomes mais próximos do mercado, como Pérsi​o Arida e Henrique Meirelles, que não são petistas mas transitam no espectro da aliança formada por Lula. E há também o nome de Mansueto Almeida, na minha visão, o mais preparado de todos para qualquer governo. Mansueto conhece profundamente a máquina pública, transita muito bem no Congresso e é um economista brilhante.​

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