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Vale a pena investir em big techs agora? Veja o que dizem gestores

Queda recente de empresas como Netflix e Google pode ser oportunidade para quem pode esperar

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São Paulo

​Pressionada pela alta de juros promovida pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) para trazer a inflação americana para baixo, o índice de ações das grandes empresas globais de tecnologia Nasdaq afundou cerca de 30% (29,51%) no primeiro semestre de 2022.

Foi o pior desempenho semestral registrado pelo índice em 14 anos, desde o segundo semestre de 2008, quando a queda foi de 31,22%, na esteira da crise imobiliária nos Estados Unidos, segundo levantamento elaborado pela plataforma TC/Economatica.

De acordo com a análise, a pior queda semestral do índice americano de tecnologia foi na segunda metade do ano 2000, de 37,71%, quando do episódio que ficou conhecido como o estouro da bolha da internet.

"A queda da Bolsa americana no primeiro semestre foi de aproximadamente US$ 11,5 trilhões, o equivalente a cerca de 14,5 vezes o valor de mercado de todas as empresas listadas na B3, de US$ 745 bilhões", aponta Einar Rivero, gerente de relacionamento da TC/Economatica.

Placa de rua na região de Wall Street, centro financeiro em Nova York, nos Estados Unidos
Placa de rua na região de Wall Street, centro financeiro em Nova York, nos Estados Unidos - Carlo Allegri - 2.out.2020/Reuters

Apesar das perdas já bastante expressivas no acumulado do ano, para o segundo semestre, as perspectivas não se desenham lá muito animadoras, com a autoridade monetária norte-americana seguindo com o aperto nas condições financeiras na maior economia do mundo, e com o BCE (Banco Central Europeu) provavelmente também dando início ao enxugamento da liquidez abundante nos mercados da região, com discussões crescentes acerca de uma possível recessão global um pouco mais à frente.

Embora o quadro de curto prazo não pareça dos mais favoráveis para o investidor de ações, gestores de fundos dedicados a explorar as melhores oportunidades no setor global de tecnologia e com visão de longo prazo têm se aproveitado da correção indiscriminada de preços para ir às compras.

No foco desses profissionais, estão principalmente negócios de tecnologia com alto potencial de crescimento ao longo dos próximos anos, mas que hoje já apresentam uma forte geração de caixa, com um baixo nível de dívidas em balanço, e que não dependem da expectativa de lucro a ser alcançado em um futuro ainda relativamente distante.

Períodos de quedas generalizadas geralmente não são bons momentos para vender nada, diz analista da Nextep Investimentos

Analista sênior e sócia da gestora focada em ações globais Nextep Investimentos, Maria Antonia Viuge conta que reforçou durante os últimos meses de correção da Nasdaq as posições nas ações do Google e da Microsoft, que já carregava de longa data nos portfólios dos fundos.

"Períodos de quedas generalizadas geralmente não são bons momentos para vender nada. E quando o investidor tem convicção de que os fundamentos do negócio continuam sólidos, as quedas costumam dar mais oportunidades do que desafios", afirma a especialista.

A sócia da Nextep diz ainda que, enquanto negócios digitais bem estabelecidos, que já contam com uma forte geração de caixa e baixa alavancagem, reúnem condições de enfrentar de maneira mais resiliente um ambiente de juros altos, aqueles que ainda demandam de elevados níveis de investimento para buscar a lucratividade mais à frente tendem a sofrer mais. "Os desafios se aplicam de formas diferentes para as techs nascentes e para aquelas que já têm posições consolidadas."

Ela acrescenta que, em situações de forte volatilidade e quedas nas cotações das ações, o investidor precisa tentar separar o que é uma reação exagerada do mercado, vis-à-vis a expectativa que ele próprio tinha para os papéis e para a perspectiva de crescimento dos negócios em seus respectivos nichos de atuação.

Ciclos de forte baixa costumam ser seguidos de recuperação dos preços, aponta gestor da Arbor Capital

Sócio da gestora com o foco em ações globais Arbor Capital, Leonardo Otero conta também ter aproveitado a queda dos últimos seis meses para reforçar o peso das ações de Google, Microsoft e Amazon na carteira dos fundos.

"Não é a primeira vez que vemos uma forte correção nos preços das ações na Bolsa, e, nas últimas vezes em que vimos movimentos como esse acontecer, os períodos seguintes foram muito bons. Não tem porque ser diferente desta vez", afirma Otero. "Períodos muito ruins normalmente são seguidos por períodos bons, é quase uma consequência matemática."

Ele acrescenta, no entanto, que as big techs guardam diferenças importantes de acordo com o modelo de negócio de cada uma, e que, enquanto algumas tendem a mostrar um desempenho mais resiliente, outras podem ainda sofrer bem mais do que a média do setor.

Como exemplo, o gestor da Arbor diz que tirou recentemente dos fundos as ações que carregava já há algum tempo da Meta (ex-Facebook). Segundo ele, o forte aumento da concorrência sofrida pela rede social nos últimos tempos, com a ascensão meteórica de rivais como a plataforma de vídeos TikTok, tende a manter sob intensa pressão as ações da rede social fundada por Mark Zuckerberg. "A Meta se provou um negócio com menos barreiras de entrada do que a gente imaginava que havia", afirma o gestor da Arbor.

Séries de sucesso embasam investimento da Geo Capital na Netflix

Já na gestora focada em ações no exterior Geo Capital, o sócio e analista de investimentos André Kim diz que mantém as ações da Meta na carteira dos fundos.

Embora reconheça o aumento acirrado da concorrência, Kim assinala que órgãos reguladores nos Estados Unidos têm sinalizado que pretendem aumentar as restrições impostas a empresas de tecnologia controladas por conglomerados chineses, caso do TikTok, o que pode, na avaliação do especialista, trazer alívio para as operações da Meta.

Além disso, o alcance e a monetização via Instagram, WhatsApp e Facebook, e a avenida de crescimento a ser explorada com o metaverso, devem garantir à Meta resultados robustos ainda por um longo período à frente, diz o sócio da Geo Capital.

Kim acrescenta que a gestora aproveitou a forte queda dos papéis da Netflix, após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre considerados decepcionantes pela maior parte do mercado, para iniciar uma gradual alocação nas ações da plataforma de streaming.

Responsável por séries de sucesso como "Stranger Things" e "House of Cards", a Netflix tem se mostrado bem sucedida na criação de conteúdo original com elencos estrelados que são reconhecidos em premiações mundo afora, diz o sócio da Geo Capital. "Achamos que a Netflix é um modelo já testado e de sucesso que está passando por ajustes, seja pela introdução de assinaturas com propagadas, seja para inibir o compartilhamento de senhas entre diversos usuários."

Ele acrescenta que a gestora também aproveitou a venda indiscriminada de papéis de tecnologia no primeiro semestre para aumentar a posição em Google. "Em momentos de irracionalidade do mercado, é preciso separar o joio do trigo."

Apesar da postura proativa no mercado, Kim ressalta que hoje estima em cerca de 50% a 60% a possibilidade de uma recessão global no próximo ano, mas que trabalha com um horizonte de três a cinco anos para os investimentos na carteira, tempo que entende que deve ser suficiente para as empresas sofrerem ainda mais um pouco com a volatilidade de mercado, mas se recuperar em um prazo mais extenso.

Demanda crescente por segurança digital impulsiona apostas na Catarina Capital

CEO da gestora de investimentos especializada em tecnologia Catarina Capital, Thiago Lobão afirma que tem dado uma atenção especial neste momento para o setor de segurança digital.

O contexto bélico e geopolítico global, evidenciado mais recentemente com a guerra da Ucrânia, e os constantes e crescentes ataques hackers contra grandes empresas, deve fazer o tema da segurança tecnológica ganhar cada vez mais espaço dentro do mercado de maneira geral ao longo dos próximos anos, prevê o especialista.

"Até pouco tempo atrás, o tema da cibersegurança era restrito apenas às grandes corporações. No entanto, as novas soluções que vêm sendo lançadas começam a ser acessíveis também para empresas de pequeno e médio porte", diz Lobão, que cita Fortinet, CrowdStrike e Palo Alto Networks entre as posições que agregou à carteira do fundo nos últimos meses.

O tema de energias sustentáveis, em um cenário de substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis, também é citado entre as apostas que vêm ganhando espaço, por meio de nomes como da Enphase Energy.

O CEO da Catarina Capital avalia que o fundo do poço para as ações globais de tecnologia já está perto de ser alcançado, e que, para o investidor interessado no tema, este pode ser um bom momento para iniciar uma alocação no setor, mas que deve ser feita de maneira gradual e com vistas ao médio e longo prazo.

"É muito difícil acertar o momento exato em que as ações vão começar a se recuperar de forma mais consistente, mas, se o investidor ficar fora do mercado para tentar entrar quando isso acontecer, ele corre um grande risco de perder boa parte do movimento", diz Lobão.

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