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Contra maré negativa da Bolsa, fundos que apostam na alta e na queda sobem até 10%

Investimentos 'long and short' tiveram desempenho acima da média no 1º semestre

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São Paulo

Apesar da queda de 6% do índice Ibovespa no primeiro semestre, fundos de investimento dedicados às ações conhecidos no jargão de mercado como "long and short" conseguiram ter um desempenho bem melhor do que a média de mercado.

Fundos da categoria de gestoras de recursos como Ibiuna Investimentos, XP Asset e Apex Capital acumularam rentabilidade positiva entre 6% e 10% na primeira metade do ano, com estratégias em ações que independem do desempenho da Bolsa de Valores como um todo.

Os fundos "long and short" têm a estratégia de incluir ao mesmo tempo dois tipos de ação: as que os gestores entendem que estão sendo negociadas a preços muito baixos, e têm potencial de valorização após serem compradas pelo fundo, que são chamadas de posições compradas ou long. Já as short são as que estão com um preço alto e tendem a se desvalorizar, e por isso devem ser vendidas.

Com essa combinação de posições nas carteiras dos fundos, os gestores ganham dinheiro a partir da diferença de desempenho obtido entre as ações que eles esperam que subam de preço, em relação à queda daquelas que devem perder valor, independentemente de qual será a direção da Bolsa de forma geral.

Painel eletrônico na Bolsa de Valores de Nova York, nos Estados Unidos
Painel eletrônico na Bolsa de Valores de Nova York, nos Estados Unidos - Michael Nagle - 10.mai.2022/Xinhua

Em um exemplo ilustrativo, se uma determinada ação em que o gestor estiver comprado subir 5%, e uma segunda ação em que estiver vendido cair 5%, o retorno obtido com a operação será de 10%, mesmo que a Bolsa afunde ou salte no mesmo intervalo.

Mesmo que as duas ações selecionadas subam ou caiam, o gestor ainda assim obterá um resultado positivo, caso o papel na ponta comprada tenha uma valorização superior, ou uma queda menor, em relação a que está na ponta vendida.

E, além dos pares de ações, é comum também que os gestores atuem no segmento com modelos que utilizam índices amplos, como o Ibovespa e o S&P 500, e com grupos comprados e vendidos, mas que não tenham dinâmicas setoriais relacionadas entre si.

Comprado em Petrobras, vendido em petróleo

A despeito da queda do Ibovespa na primeira metade do ano, um dos fundos da categoria "long and short" de melhor rentabilidade de janeiro a junho, o Ibiuna Long Short registrou ganho acumulado de 10,24% no período.

Segundo André Lion, sócio, diretor de investimentos e gestor da estratégia de ações da Ibiuna, uma posição que trouxe resultados positivos para a carteira do fundo no primeiro semestre foi comprada em ações da Petrobras, apostando na alta dos papéis, e, ao mesmo tempo, vendida em contratos referenciados nos preços do petróleo no mercado internacional e no índice Ibovespa.

Ele diz que considera a Petrobras a petroleira com as ações mais baratas entre todos os pares globais, e mantém os papéis na carteira comprada para o segundo semestre, mesmo com o aumento do risco eleitoral ante a proximidade da disputa pelo Planalto.

"Apesar de ser uma estatal, gostamos bastante da empresa, que tem gerado muito caixa e está pagando dividendos extraordinários."

De toda forma, caso o papel venha a cair por conta dos ruídos políticos, ou por uma forte correção no preço do petróleo, as posições vendidas (que ganham com a queda dos preços dos ativos) no índice Ibovespa e no preço do petróleo tendem a contrabalançar esse movimento.

"A intenção do fundo é ser neutro em relação ao mercado. Ou seja, se a Bolsa subir ou cair, teoricamente, ele não é influenciado por essa dinâmica", diz Lion, acrescentando que o fundo da gestora tem como proposta sempre investir em pares ou trincas de ações, em que uma determinada posição atua dentro do portfólio como uma espécie de contrapeso para a outra aposta.

O gestor da Ibiuna cita ainda o setor financeiro, de aluguel de carros, de saúde e de tecnologia entre os que agregaram valor para a carteira do fundo no primeiro semestre.

Ele ressalta, contudo, que prefere não identificar com maior precisão os que estavam na ponta comprada ou vendida, e tampouco entrar em nomes específicos, especialmente no grupo das ações que espera que tenham uma performance negativa.

Lion diz que é bastante comum que empresas que ficam sabendo que estão no grupo "short" de determinado fundo passem a adotar uma postura avessa em relação à gestora, evitando responder aos contatos e qualquer tentativa de aproximação.

Aposta em ganhos de eficiência com privatização da Eletrobras

Já o fundo XP Long Short, da XP Asset Management, marcou rentabilidade positiva de 8,3% de janeiro a junho.

Segundo Marcos Peixoto, gestor da XP Asset, os papéis da Eletrobras estão entre as posições que mais contribuíram para o retorno do fundo no primeiro semestre. As ações da empresa subiram embaladas pela expectativa dos investidores quanto aos ganhos de eficiência trazidos pelo processo de privatização.

"Eletrobras é uma posição que já carregamos há mais de dois anos e, mesmo já tendo gerado um bom resultado, ainda gostamos e a empresa continua sendo a maior exposição dentro da carteira."

Também compõem o portfólio comprado do fundo da gestora da XP nomes como do frigorífico Minerva, "menos dependente da dinâmica doméstica", do BB, "banco que deve entregar o melhor resultado de 2022 no setor", e da BB Seguridade, que após atravessar um período mais difícil com o aumento da sinistralidade por conta da pandemia, deve ver os resultados melhorarem daqui para frente, assinala Peixoto.

Na ponta vendida, em vez de atuar com pares para as respectivas posições compradas, a gestora da XP adota como estratégia manter uma aposta na queda do Ibovespa, em um modelo dentro do segmento dos "long and short" conhecido como carteira comprada contra o índice.

"Dessa forma, apostamos que a nossa seleção de ações terá um desempenho melhor que o índice", diz Peixoto, acrescentando que o modelo escolhido busca trazer uma sinergia maior para as análises da equipe de gestão —as apostas na ponta comprada do "long and short" da XP Asset, embora com pesos diferentes, são as mesmas que compõem as carteiras dos fundos de ações mais tradicionais da casa, do tipo "long only", em que há somente posições que os gestores esperam que venham a se valorizar no futuro.

Aposta na queda da Bolsa americana

No caso do fundo "long and short" Apex Equity Hedge, da gestora Apex Capital, que subiu 6,21% no primeiro semestre, o sócio fundador e responsável pela gestão dos fundos de investimento, Fábio Spinola, afirma que uma das apostas que trouxe ganhos relevantes para a carteira foi vendida no S&P 500, da Bolsa Americana. Pressionado pelo processo de alta de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), o índice acionário desabou cerca de 20% no primeiro semestre, a maior queda para o período desde 1970.

Segundo Spinola, papéis de empresas dos setores de tecnologia financeira e e-commerce da Bolsa local também compuseram o grupo vendido na carteira do fundo, em um cenário de aumento dos juros em escala global que comprometeu a rentabilidade das operações dessas companhias.

Já a ponta comprada foi formada por papéis dos setores de commodities (petróleo e siderurgia e mineração), alimentos, saúde e grandes bancos, em um modelo de fundo "long and short" no qual a gestora trabalha com dois grandes grupos, comprado e vendido, mas que não necessariamente guardam qualquer relação entre si em termos de dinâmica setorial, a não ser a expectativa de que um deles terá um desempenho melhor do que o outro.

"Estamos sempre buscando empresas que vão ter um crescimento maior dos lucros, para a ponta comprada, contra empresas que vão ter um crescimento menor, ou um decréscimo, na ponta vendida", afirma o gestor da Apex.

Ele acrescenta que, após o desempenho positivo apresentado pela carteira e o ajuste ocorrido nos mercados, optou por reduzir as posições no final de maio, embolsando os ganhos obtidos, com a perspectiva de montar novas posições quando tiver uma clareza maior do cenário à frente.

Para Spinola, é preciso uma dose maior de cautela neste momento, dada a deterioração do quadro fiscal no Brasil, e a continuidade do aumento dos juros nos mercados desenvolvidos, com possíveis revisões negativas para os resultados das empresas com ações negociadas nas Bolsas globais.


Saiba mais sobre fundos que apostam na alta e na queda das ações

Fundo: Ibiuna Long Short STLS FIC FIM
Rentabilidade no 1º semestre: 10,24%
Investimento mínimo: R$ 1.000
Público-alvo: Investidores em geral
Taxa de administração: 2% ao ano
Taxa de performance: 20% sobre o retorno que exceder o CDI

Fundo: XP Long Short FIC FIM
Rentabilidade no 1º semestre: 8,28%
Investimento mínimo: R$ 10 mil
Público-alvo: Investidores em geral
Taxa de administração: 2% ao ano
Taxa de performance: 20% sobre o retorno que exceder o CDI

Fundo: Apex Equity Hedge FIM
Rentabilidade no 1º semestre: 6,21%
Investimento mínimo: R$ 500
Público-alvo: Investidores em geral
Taxa de administração: 2% ao ano
Taxa de performance: 20% sobre o retorno que exceder o CDI

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