Descrição de chapéu Financial Times Guerra da Ucrânia Rússia

Devemos nos preocupar mais com o preço da comida do que com o da gasolina, alerta BlackRock

Destruição de terras aráveis na Ucrânia tem consequências globais perigosas, diz gestora de ativos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brooke Masters Andrew Edgecliffe-Johnson
Financial Times

Os aumentos drásticos dos preços do petróleo e minerais após a invasão da Ucrânia pela Rússia distraíram os investidores do impacto duradouro e mais perigoso da inflação dos alimentos, alertou Larry Fink, fundador da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo.

"A única coisa com a qual me preocupo e sobre a qual não falamos o suficiente é a comida", disse ele ao Financial Times. "Não é apenas uma preocupação com a inflação. Há também preocupações geopolíticas que resultam disso."

Os preços da energia, da gasolina e de insumos agrícolas à base de petróleo dispararam no início deste ano, quando os países ocidentais impuseram sanções à Rússia após a invasão. Os custos de grãos e óleos comestíveis também foram duramente atingidos porque a Ucrânia é um grande exportador.

O petróleo começou a cair esta semana para os níveis pré-invasão, enquanto os traders se preparam para uma queda acentuada no consumo. Mas a inflação dos preços dos alimentos continua teimosamente alta. O índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos para junho mostram que o preço do frango em pedaços e da farinha subiram quase 20% ao ano e o da margarina saltou 34%.

sombra de helicóptero sobre campo de trigo
A sombra de um helicóptero do Serviço de Emergência do Estado Ucraniano (SES) é projetada em um campo de trigo, enquanto voa para Vinnystia. - Sergei Karazy/REUTERS

"Falamos muito sobre os preços da gasolina porque é o que afeta os americanos, mas o problema maior é a comida", disse Fink. "Houve uma tremenda destruição de terras aráveis na Ucrânia... Globalmente, o custo do fertilizante aumentou quase 100%, e esse custo adicional está reduzindo a quantidade de fertilizante usada na agricultura. Isso vai prejudicar a qualidade da safra em todo o mundo."

Embora os preços mais baixos do petróleo tenham começado a afetar o preço na bomba para os motoristas, as empresas de bens de consumo continuam vendo altos custos de insumos. Qualquer queda nos preços dos fertilizantes provavelmente chegará tarde demais para impulsionar as colheitas de alimentos deste ano.

O Banco Mundial previu, após a invasão russa, que os preços globais dos alimentos aumentariam 20% este ano, superando em muito a alta das matérias-primas.

O impacto é particularmente duro na África, que geralmente importa grãos da Ucrânia, além de produzir seus próprios alimentos. Os preços dos fertilizantes subiram 300%, e o continente enfrenta uma escassez de 2 milhões de toneladas, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento. O banco aprovou um programa de US$ 1,5 bilhão para ajudar os agricultores a suprir a lacuna, mas alerta que a produção total pode cair 20% este ano.

Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, disse na sexta-feira (15) que o mundo está enfrentando "um momento extremamente difícil para a segurança alimentar global" e instou o grupo G20 das principais nações a interromper as restrições de armazenamento e exportação de alimentos e fornecer assistência financeira adicional aos países e populações que lutam contra a insegurança alimentar.

Bill Gates, o filantropo e cofundador da Microsoft, sinalizou preocupações semelhantes nesta semana, dizendo que a redução da oferta de trigo, óleos comestíveis e outros alimentos causada pela guerra na Ucrânia está "elevando os preços dos alimentos, o que aumentará a desnutrição e a instabilidade em países de baixa renda". Ele observou em um blog que melhorar a produtividade agrícola na África exige "muito mais investimento".

Efeitos da guerra até nos salgadinhos

Enquanto alguns fabricantes de produtos de consumo e varejistas de alimentos dizem estar esperançosos de que a inflação dos alimentos comece a diminuir, outros se preparam para o pior.

A fabricante de salgadinhos Mondelez está vendo tanta inflação e "problemas de disponibilidade" em óleos e grãos comestíveis que "estamos procurando uma formulação flexível para garantir que possamos substituir alguns ingredientes e componentes que estão em falta por algo mais disponível", disse Luca Zaramella, seu diretor financeiro, no mês passado.

A General Mills prevê um "aumento significativo da inflação dos custos de insumos" para 14% no ano fiscal que começou em junho. O CEO Jeff Harmening disse no mês passado que a companhia, que fabrica os produtos Cheerios, Pillsbury e Betty Crocker, espera ver uma "redução do poder de compra do consumidor".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.