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Inflação reduz variedade de produtos em supermercados; leite é afetado

Setor concentra estoques em itens com maior saída no momento, sinaliza pesquisa

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Rio de Janeiro

Com o impacto da inflação sobre as vendas, os supermercados reduziram estoques e, consequentemente, a variedade de produtos disponíveis para os consumidores nas gôndolas nos últimos meses.

É o que indica uma pesquisa da Neogrid, empresa especializada em serviços de inteligência artificial para cadeias de suprimentos.

Na passagem de maio para junho, o chamado índice de ruptura até teve uma ligeira baixa, de 11,5% para 11%, segundo o levantamento. O nível, contudo, ainda é considerado elevado pela Neogrid.

Na prática, o índice de 11% significa que, em uma lista com 100 itens, 11 não foram encontrados pelo consumidor nas gôndolas dos supermercados em junho.

Consumidores compram em supermercado na capital paulista - Rubens Cavallari - 27 abr.2022/Folhapress

A pesquisa analisa informações de cerca de 40 mil lojas espalhadas pelo Brasil, conforme Robson Munhoz, diretor de sucesso do cliente da Neogrid.

O índice de ruptura não chega a apontar desabastecimento de produtos. Sinaliza somente faltas pontuais de itens nas gôndolas, que podem estar associadas aos estoques mais baixos.

"O índice vem oscilando, mas ainda é considerado alto. No mês anterior, havia sido de 11,5% [...]. Quando fica em 11%, acende um alerta", afirma Munhoz.

Segundo ele, é sobretudo a inflação que está por trás do cenário. Diante da perda do poder de compra do consumidor, os supermercados tentam equilibrar os estoques, com foco naquilo que tem maior saída junto ao cliente no momento, indica o diretor.

"A causa raiz é a inflação", diz Munhoz.

Outro possível sinal da pressão inflacionária, conforme a pesquisa, é a queda nas vendas dos supermercados em unidades. Esse indicador atingiu em junho o menor patamar desde janeiro de 2020. A Neogrid diz que, por questões contratuais, não detalha os dados absolutos.

Leite é afetado

Entre os produtos, a pesquisa destaca a indisponibilidade do leite longa vida, cujos preços dispararam nos últimos meses.

O índice de ruptura do item foi de 19,4% em junho, após 18,8% no mês anterior. O resultado é o maior desde abril de 2020 (20,3%), fase inicial da pandemia.

De janeiro a junho, o leite acumulou inflação de 41,76% no país, conforme o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Somente em junho, a alta foi de 10,7%.

"Não é desabastecimento, estamos longe disso. Mas o que acontece é que marcas têm de aumentar o preço e podem, momentaneamente, ficar de fora do dia a dia das lojas", aponta Munhoz.

Segundo ele, a ruptura do leite está associada a fatores como a produção menor. O quadro no campo foi impactado pelos custos, que ficaram mais altos com o clima adverso sobre as pastagens e a alta nos preços da ração consumida pelo gado, entre outros fatores.

A Neogrid destaca ainda a alta na ruptura em junho da categoria de ovos de aves. O índice atingiu 19,4% no mês passado, após 17% em maio. O novo resultado é o maior desde fevereiro deste ano (20,1%).

Inflação no Brasil

Em junho, o índice oficial de inflação do país subiu 0,67%, de acordo com o IBGE. O dado representou uma aceleração do IPCA, já que, em maio, o avanço havia sido menos intenso, de 0,47%.

Em 12 meses até junho, a inflação brasileira acumulou alta de 11,89%. Nesse recorte, o IPCA está em dois dígitos, acima de 10%, há dez meses. Ou seja, desde setembro do ano passado.

Uma sequência tão longa não ocorria desde o intervalo de 2002 a 2003. À época, o índice ficou em dois dígitos por 13 meses consecutivos, de novembro de 2002 a novembro de 2003.

Reportagem da Folha mostrou que, ao longo da pandemia, a alta dos preços alcançou até cortes de carnes outrora desprezados por muitos brasileiros. Nem o pé de galinha escapou da inflação. Pescoço e carcaça de frango também ficaram mais caros.

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