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Mercado não vê risco de golpe, mas sociedade precisa apontar limites, diz ex-diretor do BC

Signatário de manifesto pró-democracia, Luiz Fernando Figueiredo diz que movimento mostra que não tem nicho

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São Paulo

Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e sócio-fundador da Mauá Capital, que entrou nas primeiras levas de assinaturas do manifesto pró-democracia a ser lançado no dia 11 de agosto na Faculdade de Direito da USP, avalia que, na verdade, as instituições brasileiras não correm um risco institucional.

Segundo ele, o mercado financeiro trabalha com esse tipo de risco. Porém, depois das reiteradas falas do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra as urnas, cabe à sociedade civil apontar limites.

"Não é que as instituições estão em risco propriamente. Mas toda vez que você tem algum tipo de questionamento sem sentido ou sem uma consistência sobre o processo que estamos vivendo, sobre as instituições, cabe sim à sociedade civil dizer que não aceita esse tipo de coisa", afirma o empresário.

Para Figueiredo, não faz sentido a hipótese, apresentada por Bolsonaro, de que os bancos endossaram o pedido de respeito à democracia porque levaram "paulada" do governo com o Pix.

Os nomes dos banqueiros ficaram expostos na repercussão porque são conhecidos, mas o movimento é muito mais amplo, diz ele.

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O economista Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e sócio fundador e principal executivo da Mauá Capital - Rafael Hupsel - 20.set.2018/Folhapress

Por que o sr. assinou? Estamos entrando em um período mais sensível, em qualquer democracia, que é o período eleitoral. O Brasil, e isso é uma opinião minha, tem instituições fortes. Não é que as instituições estão em risco, propriamente. Mas toda vez que você tem algum tipo de questionamento sem sentido ou sem consistência sobre o processo que estamos vivendo, sobre as instituições, cabe sim à sociedade civil dizer que não aceita esse tipo de coisa. E é disso que nós estamos falando agora. Como foi feito no ano passado, em que eu também assinei, assim como neste ano.

É bacana, é de todo tipo de gente. Não é um setor, um nicho. A sociedade civil não aceita. Ninguém aqui está discutindo risco. Não tem nenhum vínculo, viés, nenhuma visão partidária. É zero. É simplesmente, olha, o Brasil tem instituições, tem um processo muito claro, já foi checado. Na questão das urnas, foi até discutido no Congresso. Não tem conversa. É este o recado que a sociedade civil está dando.

A maneira como foi redigido, com intenção de não soar como um manifesto para convertidos, contribuiu para o resultado volumoso? Acho que sim. Estamos falando de tempos em que há um radicalismo. Até famílias têm problemas entre si. O que ficou claro, e por isso esse cuidado, é que não tem nada a ver com isso. É uma defesa veemente da democracia, do Estado de Direito e das instituições que nós temos.

No ano passado, em meio à tensão institucional da época, a Fiesp fez uma carta, mas a coleta de assinaturas gerou racha na Febraban, porque Banco do Brasil e Caixa ameaçaram deixar a federação dos bancos. Neste ano, a Febraban rapidamente endossou. Teve alguma mudança no setor financeiro de lá para cá? Eu acho que sim. Ficou muito chato. É uma visão pessoal. Ficou chato aquele imbróglio. Com os erros se aprende e não se faz de novo. Acho que é isso que está acontecendo. Agora, quem sou eu para falar em nome da Febraban.

Entendo que, na sua opinião, não há risco de golpe, a questão é reiterar os limites. Mas o mercado financeiro trabalha algum cenário com esse tipo de risco? Não, eu não acho. Na verdade, foi mais do mesmo. Só que cuidado com o mais do mesmo, em não falar coisas que não se pode falar. Há coisas que não podem ser ditas.

Os nomes dos banqueiros ficaram expostos na repercussão do manifesto, e Bolsonaro disse que os bancos aderiram porque o governo deu uma paulada neles com o Pix. Faz sentido esse raciocínio? Faz zero sentido. Eles ficaram expostos. Foi colocado no nome deles, porque talvez sejam pessoas conhecidas, mas a lista de pessoas é enorme.

Outros manifestos já aconteceram, mas a escalada do presidente contra as urnas continuou. Que tipo de efeito os signatários esperam desse manifesto? É ficar claro que há um apoio da sociedade civil às instituições, ao que está aí. Qual é o maior medo de um político? É do eleitor, de quem vota nele. Em última análise, é quem manda no país. E a sociedade civil está dizendo "nós não aceitamos qualquer conversinha mole contra as instituições brasileiras, contra o processo eleitoral brasileiro". Uma discussão no Congresso, tudo bem, faz parte, já teve, e ficou claro que a decisão foi que está tudo funcionando direito.

Se o presidente subir nas pesquisas por efeito do pacote de bondades, isso pode empoderá-lo e esvaziar o efeito dos manifestos? Uma coisa é ter voto. Outra coisa é fazer com que mais pessoas aceitem, no fim das contas, algo que é contra o processo. Eu não acredito. O que esse manifesto diz é exatamente isso.

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