Não é só assinatura, as pessoas vão às ruas como foram contra Collor e Dilma, diz Bacha

Economista, que assinou manifesto, diz que não se trata de posicionamento de elites

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São Paulo

Um dos signatários da "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito", o economista Edmar Bacha afirma que o volume imenso de adesões ao movimento mostra que não se trata de um grupo de meia dúzia de pessoas da elite preocupadas com o assunto no país.

"Não é só gente que quer assinar de casa. A preocupação é tal que as pessoas vão para a rua, como foram contra o Collor, como foram contra a Dilma", diz Bacha, que foi presidente do IBGE, do BNDES, além membro da Academia Brasileira de Letras, fundador do instituto Casa das Garças e um dos autores do Plano Real.

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Edmar Bacha, economista - Zanone Fraissat/Folhapress

Enquanto algumas associações representativas do setor privado ainda avaliam se devem aderir ou não aos manifestos que explodiram após os recentes ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) às urnas, Bacha reconhece que pode haver receio de retaliação, mas faz a ressalva que "comparado com o receio pelo que o fim da democracia coloca, um valor mais alto se alevanta".

Qual é a sua opinião sobre a importância dessas manifestações em defesa da democracia, especialmente do empresariado? A reação demonstra. São milhares de assinaturas. Eu nunca vi isso. Não são só meia dúzia de pessoas da elite que estão preocupadas com o assunto.

Tem muita gente no Brasil que realmente compartilha dessa preocupação com a ameaça que o Bolsonaro faz às urnas eletrônicas, especialmente por esse apoio que o ministro da Defesa lhe dá, que cria uma situação inusitada.

A gente achava que tinha superado totalmente essa fase dos pronunciamentos militares, coisas que tinham ficado lá nos anos 1950, 1960. Militar não se pronuncia sobre questões civis.

Nós já vimos, no ano passado, outras manifestações grandes de elites preocupadas com gestão da pandemia, preocupação ambiental e mesmo com o sistema eleitoral. Mas o presidente segue com os ataques às urnas. Essas manifestações têm qual efeito prático? Nós vamos ver. Dia 11 vai ter uma coisa de rua. Acho que vai ter algo que não é só o pessoal assinando em casa.

Vai ter manifestação de rua importante para mostrar que, realmente, não se trata de meia dúzia de pessoas. E não é só gente que quer assinar de casa. A preocupação é tal que as pessoas vão para a rua, como foram contra o Collor, como foram contra a Dilma.

Nós estamos falando desse tipo de coisa: pessoas indo às ruas e assinando manifesto para defender uma causa extremamente cara.

No ano passado, houve um ruído em torno de um manifesto correlato, embora menos assertivo, na Fiesp, em que Caixa e Banco do Brasil, por meio do agora ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, ameaçaram deixar a Febraban, caso a federação assinasse. Existe um receio de retaliações ao assinar esse tipo de posicionamento no setor privado? Acho que agora, com essa manifestação tão forte, isso mostra que receio sempre existe, mas comparado com o receio pelo que o fim da democracia coloca, um valor mais alto se alevanta.

Existe algum receio de que a assinatura possa ser interpretada como um apoio a Lula, dado que as pesquisas estão mostrando os dois na liderança disparada? Acho que a carta teve muito cuidado em mostrar que não era uma manifestação política-eleitoral. Trata-se de uma manifestação em defesa das instituições, especificamente dos tribunais superiores. Não tem nenhuma característica de opção por candidato.

E a terceira via? Tem perspectiva de fortalecer um terceiro nome? Estou animado com a perspectiva de fortalecimento político-partidário da candidatura da Simone Tebet. Está faltando a última pernada, que é a escolha do vice ou da vice.

Mas está indo melhor do que a gente esperava, em termos de unificação em torno da Simone dessas forças que há dois meses estavam tão dividas.

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