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O que explica a queda tão acentuada do euro

Moeda atingiu o valor mais baixo em 20 anos e em breve poderá alcançar a paridade com o dólar

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Brigitte Scholtes
DW

A última vez em que a moeda comum europeia valeu um dólar foi no início de dezembro de 2002. Na manhã desta quarta-feira (6), o euro caiu para a marca de US$ 1,02, ou dois centavos de dólar abaixo da cifra do dia anterior. Há um ano, era cotado a cerca de US$ 1,18.

Especialistas já não descartam a possibilidade de as duas moedas atingirem a paridade novamente em breve. O euro chegou a seu ponto mais baixo em 5 de julho de 2001, quando foi negociado a US$ 0,8380.

O tombo da moeda europeia se deve principalmente aos temores de uma recessão. Acima de tudo, o risco de um congelamento do fornecimento de gás preocupa os mercados financeiros, porque isso paralisaria a economia na Alemanha e na Europa. "A situação ainda é boa, mas é frágil", afirmou Ulrich Leuchtmann, especialista em câmbio do Commerzbank, à rádio Deutschlandfunk.

Cédulas de Euro - Dado Ruvic/Reuters

Paridade como vantagem?

Uma moeda fraca também pode ter suas vantagens, pois ajuda as empresas exportadoras. Afinal, os produtos domésticos ficam mais baratos no exterior, o que impulsiona as vendas. Ao mesmo tempo, porém, o poder de compra também é exportado para o exterior, que passa a comprar produtos alemães e europeus mais baratos.

De qualquer forma, a vantagem para as empresas exportadoras locais só existe enquanto os empresários alemães fabricarem seus produtos inteiramente na Alemanha ou na zona do euro e depois os exportarem, afirma Sonja Marten, especialista em câmbio do DZ-Bank.

"Uma vez que eles comprem produtos primários de países de fora da UE [União Europeia] ou que sejam produzidos usando muita energia, esse cálculo deixa de fazer sentido", diz ela, apontando que as fontes energéticas em particular são faturadas em dólares.

Inflação também põe pressão sobre o euro

O aumento dos preços da energia foi a principal razão pela qual a balança comercial externa da Alemanha foi negativa em junho pela primeira vez em muitos anos, o que significa que o país importou mais – incluindo petróleo e gás – do que exportou.

Os altos preços de importação, especialmente de energia, também estão impulsionando a inflação. E isso não é bom para o Banco Central Europeu (BCE). Afinal, ele quer contrabalançar a inflação com aumentos planejados das taxas de juros.

Ao mesmo tempo, contudo, o BCE não deve fazer isso muito rapidamente, senão corre o risco de paralisar a economia. "Ele poderia primeiro tentar intervir verbalmente", analisa Marten. Mas a experiência mostra que é mais provável que isso atraia especuladores, que poderiam empurrar novamente para baixo a taxa de câmbio do euro dentro de poucos dias.

O movimento descendente dos últimos dias, contudo, já é incomum: "Isso mostra o nervosismo dos mercados", afirma Marten. Portanto, a especialista não exclui a possibilidade de paridade ou mesmo de uma avaliação de curto prazo abaixo dessa marca.

Temores de recessão transatlântica

O fato de o euro estar tão fraco em relação ao dólar sempre tem relação com a avaliação da moeda americana. "O Banco Central americano, o Fed, está definindo o ritmo novamente", explica o ex-economista-chefe da Allianz Michael Heise. A instituição está tomando medidas contra a inflação e já começou a aumentar as taxas de juros.

Por vezes isso chegou a assustar o mercado de ações, que temia uma recessão nos Estados Unidos, diz Marten. Mas agora os olhos estão voltados para a Europa: se a economia americana entrar em colapso, a recessão também atingirá o continente europeu.

Euro subvalorizado

Mas os mercados financeiros agora esperam que o Fed adote uma postura mais cautelosa, observa Heise, que atualmente é economista-chefe do HQ Trust.

Se o BCE realmente fizer o primeiro aumento da taxa de juros em julho e outros aumentos se seguirem, talvez até elevando as taxas de juros um pouco mais do que se pensava, ele acredita que isso poderia ajudar a taxa de câmbio do euro novamente.

Assim, a moeda comum europeia poderia voltar a ser cotada a US$ 1,10, ou até mais. Atualmente, Heise considera que o poder de compra do dólar está supervalorizado de qualquer maneira.

Os mercados estão nervosos por causa da incerteza. Se o gás da Rússia continuar chegando aos países europeus, isso também deve ajudar o euro, espera Ulrich Leuchtmann, do Commerzbank. "De qualquer forma, uma taxa de câmbio do euro tão baixa assim não se justifica."

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