Descrição de chapéu Financial Times PIB

Os EUA estão em recessão? Medindo a desaceleração da maior economia do mundo

Maioria dos economistas acha que o país não está passando por uma grande desaceleração, mas as perspectivas estão longe de otimistas

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Colby Smith
Washington | Financial Times

Os dados econômicos dos Estados Unidos estão enviando mensagens contraditórias, dificultando a resposta para uma pergunta aparentemente simples: a maior economia do mundo está em recessão?

Números do Departamento de Comércio mostraram na quinta-feira (28) um segundo trimestre consecutivo de queda do Produto Interno Bruto, intensificando um debate que se tornou politicamente carregado.

As notícias do segundo declínio trimestral consecutivo –um marcador comum de recessão– se seguiram a sinais de que a atividade empresarial em todo o país começa a desacelerar. O mercado imobiliário dos EUA está oscilante e os consumidores estão cada vez mais pessimistas, enquanto o Federal Reserve intensifica os esforços para conter a inflação mais alta em mais de quatro décadas com grandes aumentos das taxas de juros.

Fpabrica em Middlebury, Indiana, nos Estados Unidos - Eileen T. Meslar - 1°.abr.2021/Reuters

Os árbitros oficiais sobre se os EUA estão ou não em recessão –um grupo de economistas da Agência Nacional de Pesquisas Econômicas (NBER na sigla em inglês)– ainda não deram seu julgamento formal.
Mas os formuladores de políticas da Casa Branca deram.

Antes do relatório de quinta-feira, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, disse que ficaria "surpresa" se o NBER declarasse o momento atual como recessão. Ela reforçou essa visão em uma coletiva de imprensa após a divulgação dos dados, observando que as perdas substanciais de empregos, o fechamento de empresas e orçamentos apertados que normalmente acompanham uma recessão "não são o que estamos vendo agora".

O mesmo fez o Fed. Jay Powell, presidente do banco central, alertou na quarta-feira (27) que os números do PIB são revisados várias vezes e que a primeira iteração deve ser tomada "com uma pitada de ceticismo".

No entanto, os republicanos se apoderaram dos dados de quinta-feira, imediatamente marcando-os como a "Recessão de Joe Biden".

Aqueles que abraçaram a ideia de que os EUA estão em recessão apontam o fato de que sempre que houve contrações consecutivas do PIB no passado uma recessão foi declarada pelo NBER –na maioria das vezes.

"A definição 'oficial' de recessão não é de trimestres consecutivos de PIB real negativo", disse David Rosenberg, economista-chefe e presidente da Rosenberg Research. "Mas toda vez que isso aconteceu no período pós-guerra a economia estava em recessão."

A maioria dos economistas compartilha a visão da Casa Branca e do Fed de que os EUA ainda não estão em recessão, mas sua confiança de que a economia pode evitar esse resultado em uma data futura diminuiu acentuadamente.

"Com base apenas nos dados do PIB, não podemos concluir que estamos em recessão agora", disse Blerina Uruçi, economista para os EUA na T Rowe Price. "Isso pode ser o prelúdio de uma recessão... e precisamos ser cautelosos para não descontar nada agora, porque há muita incerteza."

O NBER caracteriza uma recessão como um "declínio significativo na atividade econômica que se espalha por toda a economia e dura mais que alguns meses".

O comitê de oito economistas da agência se reúne a portas fechadas para tomar essa decisão, normalmente com um atraso de vários meses ou até um ano. O julgamento é baseado em medidas que incluem crescimento mensal dos empregos, gastos do consumidor em bens e serviços e produção industrial.

Por esses padrões, o atual cenário econômico inequivocamente não atinge esse limite, dizem autoridades do Fed e da Casa Branca.

No mês passado, houve criação de 372 mil empregos saudáveis, e a taxa de desemprego se estabilizou em um nível historicamente baixo de 3,6%. Para cada desempregado, há aproximadamente duas vagas, fazendo deste um dos mercados de trabalho mais apertados na história recente.

"Nunca tivemos uma recessão sem demissões, [e] não acho que estejamos perto de um ciclo completo de demissões. Simplesmente não há evidências disso", disse Aneta Markowska, principal economista financeira da Jefferies.

Economistas apontam para a Regra de Sahm. Desenvolvida pela ex-funcionária do Fed Claudia Sahm, a regra estipula que uma recessão se instala quando a média móvel de três meses da taxa de desemprego sobe pelo menos meio ponto percentual acima de sua baixa nos últimos 12 meses. Por essa métrica, a taxa de desemprego precisaria ter ultrapassado 4% para se dizer que os EUA estão em recessão.

Os dados do PIB, entretanto, incluíram sinais de fraqueza além do número principal, que sugere um consumidor muito menos dinâmico e investimentos em declínio. Economistas do Citigroup chegaram a dizer que meados de 2022 poderá marcar um pico de atividade.

"Esta é uma desaceleração bastante ampla dos gastos", acrescentou Jonathan Millar, ex-economista do Fed hoje no Barclays. Embora tenha rejeitado a ideia de que a economia dos EUA entraria em recessão em breve, ele disse que há uma "possibilidade muito forte" de que isso aconteça no próximo ano e que "realmente depende de quão resiliente estará o setor de serviços".

Espera-se que o banco central dos EUA avance com seus planos de aperto da política monetária mesmo com a desaceleração da economia, tendo aumentado as taxas de juros em mais 0,75 ponto percentual esta semana, pela segunda reunião consecutiva. Powell sinalizou novos aumentos, e os participantes do mercado esperam que a taxa básica de juros suba para cerca de 3,5% até o final do ano, um ponto percentual acima do nível de hoje.

O presidente do Fed afirmou que os aumentos das taxas podem reduzir a inflação sem causar perdas dolorosas de empregos ou uma queda acentuada, mas admitiu novamente esta semana que o caminho para alcançar esse resultado "claramente se estreitou... e pode se estreitar ainda mais".

Ele também afirmou que o banco central continua estritamente focado em conter a alta inflação e que não fazer isso seria um resultado pior do que restringir excessivamente a economia –intensificando as preocupações sobre uma eventual recessão.

"Isso é o que acontece num ambiente em que o Fed tenta fazer com que sua política seja restritiva", disse Andrew Patterson, economista internacional sênior na Vanguard. "Começaremos a ver mudanças para pior na produção e eventuais aumentos do desemprego, num esforço para tentar reduzir a inflação."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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