Descrição de chapéu Financial Times aeroportos

Passageiros enfrentam caos com interrupção de voos na Europa

Escassez crônica de funcionários leva a cancelamentos e atrasos de voos e extravios de bagagem

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Londres, Paris, Atenas e Manchester | Financial Times

As "férias do inferno" de Marivi Wright começaram quando os sistemas de computadores da Air France falharam e a equipe teve que fazer manualmente o check-in dos passageiros no voo de Nova York para a Europa.

Ela perdeu dois voos de conexão enquanto voava de Paris para a Espanha para visitar sua mãe, 83, pousando em Málaga com 12 horas de atraso. Sua bagagem tinha desaparecido.

"Minha mãe tem demência, e esse era o meu momento de sentar com ela para ver fotos", disse Wright, explicando que elas estavam na mala perdida. "Passei tempo comprando roupas no aeroporto ou preenchendo reclamações. Esse é o tempo com minha mãe que nunca vou recuperar. Estou emocionalmente esgotada", acrescentou.

Wright é um dos milhões de passageiros que passaram por férias de verão caóticas à medida que cancelamentos e interrupções de voos varreram a Europa.

Passageiros andam no Aeroporto de Berlim-Brandemburgo, perto de Berlim, Alemanha - Michele Tantussi - 7.jul.2022/Reuters

Os problemas decorrem da escassez crônica de pessoal em muitas partes do setor de aviação, incluindo companhias aéreas, aeroportos e empresas de assistência em terra, que são subcontratadas para fornecer serviços, incluindo check-in e encaminhamento de bagagem.

À medida que as restrições de viagem pelo coronavírus foram suspensas e muitos planejaram suas primeiras viagens em dois anos, a demanda se recuperou mais rapidamente do que o setor conseguiu contratar novos funcionários.

Surtos de ação setorial aumentaram os problemas, como uma greve de pilotos na companhia aérea escandinava SAS que contribuiu para sua declaração de falência neste mês.

"Há problemas em todos os aeroportos da Europa", disse Akbar Al Baker, presidente-executivo da Qatar Airways. "Enfrentamos os mesmos problemas na França, na Bélgica, na Holanda, na Alemanha. Na verdade, é uma epidemia."

Os passageiros também sofreram atrasos não quantificados, filas e bagagens perdidas, pois a indústria não conseguiu lidar com o grande número de passageiros.

Nikolas Syrimis passou 12 horas dentro do aeroporto Schiphol, em Amsterdã, nesta semana, incluindo duas horas e meia em filas "insanamente longas", depois que seu voo da easyJet foi cancelado por causa de danos na pista causados pelas temperaturas extremas no aeroporto de Luton, em Londres.

"Apesar de todas as notícias, ver a coisa pessoalmente não é nada parecido com o que eu já tinha experimentado", disse ele.

As companhias aéreas e os aeroportos dos Estados Unidos também sofreram surtos de interrupção à medida que o movimento crescia no ano passado, mas a Europa surgiu como o epicentro da interrupção de viagens neste verão do hemisfério Norte.

Mesmo quando as operações não falham, esperas de horas para se deslocar pelos aeroportos europeus se tornaram comuns.

Na sexta-feira (22), as filas serpenteavam do lado de fora do aeroporto de Manchester e passavam pelo estacionamento, onde os passageiros que esperavam para partir descreveram o "caos organizado", bem como a surpresa por serem obrigados a ficar do lado de fora na chuva.

Os principais aeroportos centrais, incluindo Heathrow, em Londres, e Frankfurt, forçaram as companhias aéreas a reduzir seus horários para limitar a superlotação, e a holandesa KLM disse na quinta-feira (21) aos passageiros que faziam transferência pelo Schiphol que não tentassem despachar bagagem após uma falha nos sistemas.

Passageiros no Aerporto de Heathrow, em Londres - Henry Nicholls - 27.jun.2022/Reuters

A grande maioria dos passageiros acabará chegando a seu destino. Mas aeroportos movimentados com operações complexas e pouca margem de manobra para reagendar voos atrasados sofreram algumas das interrupções mais significativas.

O aeroporto de Bruxelas tem sido o pior da Europa, com 73% dos voos atrasados neste mês, segundo dados compilados pela empresa de reservas online Hopper.

Heathrow, Charles de Gaulle em Paris e Frankfurt estavam entre os dez piores, com mais da metade dos voos atrasada.

Um em cada 50 voos com partida de países europeus foi cancelado na última semana, incluindo 680 voos partindo da Alemanha, do Reino Unido, da França, da Itália e da Espanha –três vezes o número no mesmo período de 2019, segundo o provedor de dados Cirium.

Os aeroportos europeus menores têm sido mais resilientes, em parte devido à relativa simplicidade de suas operações. Gran Canaria, Alicante e Málaga, na Espanha, estiveram entre os dez aeroportos com melhor desempenho, com menos de um quinto dos voos sofrendo atrasos.

A aposentada Pauline Kennedy comparou sua experiência "incrível" ao chegar ao aeroporto de Manchester com sua partida de Amsterdã, onde ela disse que havia filas para tudo. "Acho que, finalmente, Manchester conseguiu se organizar", disse ela.

Aeroportos em economias dependentes do turismo, onde manter o fluxo de viagens é uma prioridade nacional, também tiveram melhor desempenho.

No aeroporto Internacional de Atenas, Elisabet Chousiades disse que passou pelo terminal e pegou suas malas sem demora ao chegar dos Estados Unidos.

O turismo é vital para a economia grega, gerando um quarto do PIB quando as contribuições indiretas são incluídas. Surpreendentemente, a gestão do aeroporto de Atenas recorreu a um esquema de apoio do governo para manter todos os 800 funcionários empregados durante a pandemia, bem como a maioria dos 8.000 funcionários subcontratados que trabalham em assistência em terra e segurança.

"Nós não demitimos ninguém, encerramos a operação e colocamos as pessoas trabalhando 50%", disse Yiannis Paraschis, seu presidente-executivo.

Com o início do período de pico das viagens de verão, quando as escolas fecham e as famílias partem em suas férias anuais, a indústria da aviação se prepara para novo aumento da pressão. A maior companhia aérea da Europa, Ryanair, disse que planeja transportar mais passageiros neste ano do que em 2019.

Também há sinais de que as operações estão se recuperando e a disrupção diminui à medida que as transportadoras e os aeroportos aumentam suas operações e colocam mais funcionários na linha de frente.

As taxas de cancelamento no Reino Unido caíram de 3% na primeira semana de junho para 1,2% no mesmo período deste mês, enquanto na França recuaram de 2,5% para 1,4%, segundo a empresa de dados OAG.

Mas isso é pouco consolo para os passageiros que sofreram longos atrasos e cancelamentos frustrantes, enquanto viam itens de bagagem desaparecerem.

Marilou Le Lann disse que suas malas desapareceram em uma escala em Paris durante uma viagem da Turquia para Montréal (Canadá) no fim de semana passado.
"Tenho cerca de US$ 30 mil em objetos na minha bagagem –bolsas de grife, sapatos, coisas assim", disse ela.

Ela continuou: "A razão pela qual fomos para a Turquia é que meu parceiro fez uma cirurgia de transplante de cabelo, e ele tinha o remédio do transplante na bagagem. Isso agora está sendo prejudicado porque não temos todos os produtos de que ele precisa".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

Philip Georgiadis , Akila Quinio , Eleni Varvitsioti e Zesha Saleem
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