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PIB dos EUA encolhe pelo segundo trimestre consecutivo

Economia retrai 0,9% e acende alerta de recessão

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Kate Duguid Colby Smith
Washington e Nova York | Financial Times

A economia dos Estados Unidos encolheu pelo segundo trimestre consecutivo, preenchendo um dos critérios comuns de uma recessão técnica e complicando o esforço do Federal Reserve para acabar com a inflação crescente com uma série de aumentos agressivos das taxas.

Dados publicados pelo Departamento de Comércio na quinta-feira (28) mostraram que o Produto Interno Bruto caiu 0,9% em base anualizada no segundo trimestre, ou uma queda de 0,2% em relação ao trimestre anterior. Isso se segue aos dados do PIB do primeiro trimestre, mostrando que a economia americana encolheu 1,6% nos primeiros três meses de 2022.

As contrações trimestrais consecutivas atendem à definição técnica de recessão, embora os Estados Unidos dependam da determinação de um grupo de pesquisadores da Agência Nacional de Pesquisas Econômicas que analisam uma gama mais ampla de fatores.

Fábrica de automóveis em Fremont, nos Estados Unidos - Carlos Barria- 19.jul.2022/Reuters

A Casa Branca sustentou que a economia dos EUA continua forte e não está atualmente em recessão, com a secretária do Tesouro, Janet Yellen, dizendo no início desta semana que "ficaria surpresa" se a agência declarasse que estava.

Mas dois trimestres consecutivos de crescimento negativo vão aumentar ainda mais a pressão sobre o presidente Joe Biden, que enfrenta baixos índices de aprovação e repetidamente citou a economia forte como uma das principais conquistas de seu governo.

Logo após a publicação dos dados, Biden disse: "Não é surpresa que a economia esteja desacelerando enquanto o Federal Reserve age para reduzir a inflação.

"Mas mesmo enfrentando desafios globais históricos estamos no caminho certo e passaremos por essa transição mais fortes e seguros. Nosso mercado de trabalho permanece historicamente forte."

Em uma coletiva de imprensa na quarta (27), depois que o Fed aumentou as taxas de juros em 0,75 ponto percentual pelo segundo mês consecutivo, o presidente do banco central, Jay Powell, disse que não acredita que o país esteja em recessão.

Ele apontou a força da economia, inclusive do mercado de trabalho, mas observou que o crescimento precisa desacelerar e o mercado de trabalho deve esfriar para conter a inflação.

O mercado de trabalho ainda não mostrou sinais significativos de fraqueza, com os EUA adicionando empregos em um ritmo saudável, em média cerca de 380 mil por mês nos últimos três meses.

A taxa de desemprego também permanece em um nível historicamente baixo de 3,6%, um pouco abaixo do nível pré-pandemia.

No entanto, dois trimestres de crescimento negativo consecutivos repercutiram nos mercados de dívida. O rendimento do Tesouro para dois anos, que se move conforme as expectativas das taxas de juros, despencou, sugerindo que os investidores apostaram que o Fed pode ter que diminuir o ritmo de aumentos das taxas de juros.

Apesar da queda do PIB, o consumo pessoal, que oferece informações sobre a saúde do consumidor americano, cresceu 1% no segundo trimestre, em comparação com um crescimento de 1,8% nos primeiros três meses do ano.

O maior obstáculo para o PIB do segundo trimestre foi a queda dos estoques das empresas, que eliminou 2 pontos percentuais do número principal.

Alguns economistas acreditam que esse foi um efeito persistente da economia pandêmica do ano passado, quando os estoques das empresas aumentaram à medida que as prateleiras foram reabastecidas depois que os gargalos da cadeia de suprimentos relacionados à Covid-19 começaram a diminuir.

A queda no investimento em estoque também refletiu o impacto de amortecimento que os aumentos das taxas de juros do Fed tiveram sobre o investimento empresarial, disseram economistas.

"Os dados de estoque têm sido muito voláteis nos últimos dois anos. O gerenciamento de estoque tem sido muito difícil, em parte por causa do problema da cadeia de suprimentos e em parte porque a demanda por mercadorias estava em alta", disse Brian Smedley, economista do Guggenheim Partners.

Os fortes aumentos das taxas implementados pelo banco central nos últimos meses começaram a frear a economia, e os participantes do mercado estão observando de perto para ver se esse aperto rápido levará os EUA a uma recessão oficial.

No entanto, é improvável que os dados mudem o cálculo do Fed sobre o caminho a seguir sobre políticas agora, disseram economistas.

"O PIB é uma medida da atividade econômica, mas por mais completa que possa parecer... o mercado de trabalho será o melhor indicador para saber se estamos realmente caminhando para uma recessão e se as empresas estão realmente reduzindo as contratações", disse Gregory Daco, economista da EY-Parthenon.

​"Não acho que a impressão do PIB influenciaria ou deveria influenciar o Fed", disse Eric Winograd, economista da AllianceBernstein.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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