Projeto quer trazer 'economia do cuidado' para dentro do PIB

Iniciativa busca criar alternativas para que cuidadoras tenham melhor remuneração

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Rio de Janeiro

A cidade de Belém (PA) começou a desenvolver um projeto-piloto que pretende apoiar mulheres inseridas na chamada economia do cuidado. A área reúne uma série de atividades historicamente associadas à população feminina, que muitas vezes nem é remunerada pela realização das tarefas.

Essa lista dos chamados 'trabalhos invisíveis' vai desde afazeres domésticos até os cuidados com crianças, idosos e pessoas com deficiência.

Conforme os responsáveis pelo projeto, um dos objetivos é criar alternativas para que as mulheres cuidadoras consigam progredir no mercado de trabalho e alcancem melhores condições de remuneração, seja nessa mesma área ou em outros setores da economia local.

Na foto, Ana Carolina Querino, representante adjunta da ONU Mulheres no Brasil, Alfredo Costa, presidente da FUNPAPA, Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém, e Pedro Abramovay, diretor para a América Latina e Caribe da Open Society Foundations, assinam Memorando de Entendimento
Ana Carolina Querino, da ONU Mulheres Brasil, Alfredo Costa, presidente da Funpapa, Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém, e Pedro Abramovay, da Open Society Foundations, participaram de evento de assinatura do termo de cooperação do projeto - Marcos Barbosa - 30 mai.2022/Agência Belém

A iniciativa nasceu de uma parceria entre a Open Society Foundations, fundada pelo megainvestidor George Soros, a ONU Mulheres Brasil e a Prefeitura de Belém.

O programa tem duração prevista até agosto de 2024, com financiamento de US$ 700 mil. A fonte dos recursos é a Open Society.

A criação do projeto foi formalizada no final de maio. De lá para cá, agentes da prefeitura começaram a receber capacitação para compreender as características da economia do cuidado, diz Alfredo Costa, presidente da Funpapa (Fundação Papa João 23). O órgão é responsável pela gestão das políticas de assistência social em Belém.

De acordo com Costa, o treinamento das equipes deve se estender por mais dois ou três meses. Em seguida, a meta é começar o mapeamento das necessidades das mulheres inseridas na economia do cuidado.

"As políticas que serão implementadas ainda não estão definidas. Elas serão elaboradas a partir da análise", afirma Costa. "Por exemplo, podem ser criados cursos que auxiliem essas mulheres em termos de autonomia financeira", acrescenta.

De acordo com Pedro Abramovay, diretor para a América Latina e Caribe da Open Society Foundations, a iniciativa é pioneira no Brasil. "As pessoas não vivem sem cuidado. O que acontece é que, historicamente, esse papel tem sido colocado para as mulheres, e muitas vezes sem remuneração", relata.

Abramovay afirma que é preciso "incluir" esse tipo de ação no PIB (Produto Interno Bruto). Segundo ele, as políticas que devem ser desenhadas em Belém dependem da análise das necessidades locais.

É possível, diz, que parte das mulheres cuidadoras não consiga trabalhar fora de casa por falta de creches em determinados horários ou regiões da capital paraense.

Se essa situação for diagnosticada, o mapeamento poderá abrir caminhos para possíveis saídas para o problema, inclusive propondo a abertura de novas creches para o poder público.

"É preciso localizar as pessoas. O estado assume a capacitação para colocá-las de volta ao mercado de trabalho. Se uma mulher souber cuidar de idosos, por exemplo, ela pode ser contratada para isso."

Em um projeto similar com a participação da Open Society em Bogotá, na Colômbia, um ônibus circula pela cidade com serviços diversos para as mulheres cuidadoras, desde a oferta de vagas de trabalho até a obtenção de documentos.

Segundo Abramovay, além do interesse da Prefeitura de Belém, o fato de o município estar na região da Amazônia, foco de olhares internacionais, também pesou para a escolha pela capital paraense.

"Qualquer projeto de preservação da Amazônia tem de ter as pessoas no centro. É preciso pensar no desenvolvimento das cidades da região", afirma.

Reequilíbrio de responsabilidades

No anúncio do projeto, os responsáveis pela iniciativa citaram dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que apontam que as mulheres dedicam 73% a mais do tempo a trabalhos domésticos e tarefas de cuidado na comparação com os homens –tanto de maneira exclusiva quanto em jornada extra.

Isso é visto como um fator que limita a participação delas em atividades de desenvolvimento pessoal e profissional.

"É preciso chamar atenção para a corresponsabilidade do cuidado. O cuidado não deve ser inerente às mulheres. A ideia [do projeto de Belém] também é discutir os papéis da sociedade", aponta Vanessa Sampaio, gerente da área de empoderamento econômico da ONU Mulheres Brasil.

Ela sublinha que a pandemia aumentou a demanda por ações de cuidado. Foi justamente a parcela feminina da sociedade que sentiu mais a sobrecarga, diz Vanessa.

Segundo ela, o projeto na capital paraense pretende desenvolver um sistema de cuidados que funcione de maneira integrada, com creches e outras instituições de assistência nas áreas de educação e saúde. Para as mulheres, uma das metas é fornecer capacitação, indica.

"Existem mulheres que atuam como cuidadoras de idosos, por exemplo, e muitas vezes não são formalizadas. A intenção é oferecer capacitação para que elas possam fazer parte do mercado de trabalho formal."

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