Descrição de chapéu mercado de trabalho

Queda do desemprego deve perder velocidade até virada do ano

Juros mais altos, incerteza política e tensão global ameaçam mercado de trabalho, dizem analistas

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Rio de Janeiro

Em um cenário de reabertura de atividades e estímulos à economia às vésperas das eleições, a taxa de desemprego tende a seguir em baixa no começo do segundo semestre no Brasil, projetam analistas.

Porém, de acordo com eles, a recuperação deve perder força ao longo dos meses, e o indicador pode voltar a subir na virada do ano, sob efeito dos juros mais altos e das possíveis incertezas relacionadas ao futuro político do país.

No segundo trimestre, a taxa de desemprego caiu para 9,3%, informou nesta sexta-feira (29) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É o menor nível para o período desde 2015. À época, o indicador estava em 8,4%, e a economia atravessava recessão.

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Trabalhadores fazem fila em busca de emprego em São Paulo - Zanone Fraissat - 13 jul.2022/Folhapress

A queda foi puxada pela criação de vagas de trabalho, que ainda espelha os efeitos da reabertura de atividades econômicas após as restrições na pandemia, avaliam analistas.

Com a proximidade das eleições, o governo Jair Bolsonaro (PL) aposta na liberação de recursos adicionais, como o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, para tentar estimular a retomada.

Isso, na visão de especialistas, pode postergar a desaceleração da economia e ajudar o mercado de trabalho durante a corrida eleitoral.

O ponto, segundo eles, é que o fôlego não deve ser tão longo. Até o final de 2022, espera-se um efeito mais forte da alta dos juros sobre a atividade econômica.

As incertezas políticas associadas ao desfecho das eleições e a piora da economia global surgem como complicadores na virada de ano. Em 2023, as projeções indicam desempenho mais baixo da economia nacional.

"A gente imagina uma melhora do desemprego nos próximos meses, mas em um ritmo menor", diz o economista Rodolpho Tobler, pesquisador do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

"Na virada de 2022 para 2023, podemos até ter algum aumento na taxa, porque estamos postergando a desaceleração da atividade econômica", completa.

O economista Eduardo Vilarim, do banco Original, faz avaliação semelhante. De acordo com ele, a tendência é de o desemprego voltar a ceder no começo do segundo semestre, mas com a reação perdendo ritmo até o final do ano.

O Original prevê taxa de desemprego de 9% no quarto trimestre de 2022 e de 9,4% nos três meses encerrados em janeiro de 2023.

"O mercado de trabalho tem movimentos defasados. Após a reabertura da economia, o setor de serviços foi o último a caminhar para um desempenho mais positivo [na geração de empregos]", explica.

"No segundo semestre, a taxa de juros mais alta deve impactar mais a atividade econômica", acrescenta.

O economista João Beck, sócio do escritório de investimentos BRA, também vê espaço para redução do desemprego no curto prazo. Porém, ele diz que o movimento não se trata de uma "queda sustentável".

Nesse sentido, Beck chama atenção para o possível esgotamento dos impactos da reabertura da economia, além da piora do cenário macroeconômico global, que traz ameaças para o Brasil.

"Ainda podemos ter efeitos positivos retardatários no mercado de trabalho, só que em algum momento a situação vai virar. Pode ser no quarto trimestre do ano ou no começo do ano que vem", aponta.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, vai na mesma linha.

"O cenário é de desemprego mais baixo no curto prazo, mas tende a ter uma pequena reversão até 2023 com os juros maiores, sem falar que o quarto trimestre deste ano deve ser bem ruidoso por conta das eleições. É um cenário de reversão, mas nada tão dramático como já vimos antes", analisa Vale.

Ele vê possibilidade de novas baixas da taxa de desemprego nos trimestres encerrados em julho e agosto. Porém, até dezembro, a previsão da MB é de um indicador mais alto, de 9,9%.

"Temos um cenário muito complexo do ponto de vista político e fiscal. Essas incertezas reverberam para o próximo ano", afirma Vale.

Conforme o IBGE, o número de desempregados no Brasil recuou para 10,1 ​milhões no trimestre de abril a junho. O contingente estava em 11,9 milhões nos três meses iniciais de 2022.

"Os números divulgados hoje [sexta] confirmam nossa expectativa de um primeiro semestre positivo em termos de geração de empregos", disse em relatório a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.

"Daqui para frente, acreditamos que o desemprego vai continuar caindo até o final do ano, fechando 2022 com uma taxa de 8,7% [no trimestre até dezembro, com ajuste sazonal], e voltará a subir no ano que vem, por conta do maior impacto dos juros altos e da expectativa de desaceleração global", completou.

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