Recessão moderada e juro menor nos EUA favorecem Brasil

PIB americano encolhe pelo segundo trimestre consecutivo

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São Paulo

A retração da economia dos EUA pelo segundo trimestre consecutivo pode levar o banco central americano a subir menos a sua taxa básica de juros, fator que deve amenizar a recessão esperada para conter a alta da inflação, que está no maior patamar em 40 anos.

O dado é também uma boa notícia para o Brasil, uma vez que um diferencial de juros menor para o maior mercado financeiro do planeta contribui para conter a desvalorização do real.

A economia dos Estados Unidos encolheu 0,9% no segundo trimestre de 2022 em termos anualizados, depois de recuar 1,6% nos três meses anteriores, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (28).

O presidente do Federal Reserve, o banco central dos EUA, Jerome Powell, durante entrevista após alta de juros, nesta quarta-feira (27) - Xinhua/Liu Jie

Os EUA dão destaque ao dado do PIB (Produto Interno Bruto) na forma anualizada, basicamente a multiplicação por quatro do resultado do trimestre —o número arredondado de 0,2% neste caso.

Também é comum que os economistas utilizem o termo "recessão técnica" quando há duas quedas seguidas do indicador, mas nem o governo americano nem o órgão que analisa os ciclos econômicos no país avaliam que o país está nessa situação.

A divulgação do número, no entanto, mexeu com os mercados globais. As curvas de juros nos EUA, um bom termômetro sobre o caminho do dinheiro, aponta a necessidade de um aperto monetário menor, o que também pode ser visto como um sinal de uma retração maior da economia americana esperada nos próximos trimestres.

"Os EUA já estão em recessão técnica. Agora, se é recessão, não é generalizada. O mercado de trabalho nunca esteve tão forte. É uma situação atípica", afirma a economista Vitoria Saddi, da área de mercados internacionais da consultoria SM Futures.

Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, diz que o cenário está longe da última grande crise naquele país, em 2008 e 2009. Primeiro, porque o desemprego segue em nível historicamente baixo. Além disso, o setor financeiro, as famílias e grande parte das empresas encontram-se em melhor situação financeira do que aquela observada após a quebra do banco de investimento Lehman Brothers.

"Apesar da queda do PIB e do cenário de recessão técnica, não esperamos que a economia americana entre em um período de forte contração e crise", afirma a economista, que projeta crescimento de 1,6% para a economia americana neste ano.

Ela afirma que, se a inflação voltar à normalidade, o Federal Reserve (banco central americano) poderá aliviar a alta dos juros por volta do fim de 2023. "Caso contrário, os juros podem precisar subir ainda mais, aprofundando a recessão, mas vemos esse cenário como menos provável."

Francisco Nobre, economista da XP, também avalia que os juros nos EUA podem começar a cair no final do próximo ano e que o Fed deve reduzir o ritmo de aperto monetário a partir de agora. Ele projeta mais dois aumentos de juros —0,50 e 0,25 ponto percentual neste ano—, com expansão de 1,6% e 1,5% para a economia americana em 2022 e 2023, respectivamente.

O gerente do Departamento Econômico do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier, também afirma que o Fed deve moderar o ritmo de alta de juros nas próximas reuniões e até mesmo entregar um patamar abaixo de 4% ao ano ao final deste ciclo. "Projetamos 3,25%, 3,50% para a Fed Funds Rate em dezembro de 2022. Ontem [quarta-feira], Jerome Powell, presidente do Fed, também sinalizou nesta direção", afirma.

Vitoria Saddi, da SM Futures, afirma que a visão do mercado é otimista diante do desafio inflacionário nos EUA. "Para baixar uma inflação de 10% para 2% você vai ter de produzir recessão, queda de PIB e aumento de desemprego."

'Surpresa'

As contrações trimestrais consecutivas atendem à definição técnica de recessão, embora os Estados Unidos dependam da determinação de um grupo de pesquisadores da Agência Nacional de Pesquisas Econômicas que analisam uma gama mais ampla de fatores.

A Casa Branca sustentou que a economia dos EUA continua forte e não está atualmente em recessão, com a secretária do Tesouro, Janet Yellen, dizendo no início desta semana que "ficaria surpresa" se a agência declarasse que estava.

Mas dois trimestres consecutivos de crescimento negativo vão aumentar ainda mais a pressão sobre o presidente Joe Biden, que enfrenta baixos índices de aprovação e repetidamente citou a economia forte como uma das principais conquistas de seu governo.

Logo após a publicação dos dados, Biden disse: "Não é surpresa que a economia esteja desacelerando enquanto o Federal Reserve age para reduzir a inflação.

"Mas mesmo enfrentando desafios globais históricos estamos no caminho certo e passaremos por essa transição mais fortes e seguros. Nosso mercado de trabalho permanece historicamente forte."

Em uma coletiva de imprensa na quarta (27), depois que o Fed aumentou as taxas de juros em 0,75 ponto percentual pelo segundo mês consecutivo, o presidente do banco central, Jay Powell, disse que não acredita que o país esteja em recessão.

Apesar da queda do PIB, o consumo pessoal, que oferece informações sobre a saúde do consumidor americano, cresceu 1% no segundo trimestre, em comparação com um crescimento de 1,8% nos primeiros três meses do ano.

O maior obstáculo para o PIB do segundo trimestre foi a queda dos estoques das empresas, que eliminou 2 pontos percentuais do número principal.

Alguns economistas acreditam que esse foi um efeito persistente da economia pandêmica do ano passado, quando os estoques das empresas aumentaram à medida que as prateleiras foram reabastecidas depois que os gargalos da cadeia de suprimentos relacionados à Covid-19 começaram a diminuir.

A queda no investimento em estoque também refletiu o impacto de amortecimento que os aumentos das taxas de juros do Fed tiveram sobre o investimento empresarial, disseram economistas.

Com informações do Financial Times

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