Venda de sobras é 'forma criativa de mostrar alternativas', diz associação de supermercados

Para vice-presidente da Abras, comercialização de produtos como carcaça e pele é pontual e está dentro da lei

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Curitiba

O vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Marcio Milan, afirma que a venda de produtos como carcaça, pele de frango e sobras de alimentos, que vem ganhando espaço como alternativas mais baratas diante da inflação, está dentro da lei.

Em entrevista a jornalistas nesta quinta (14), ele definiu esses produtos como uma forma criativa de mostrar alternativas para quem procura algo diferente.

Ponta de frios em promoção no Capão Redondo - Cleberson Santos/Agência Mural

Questionado se a Abras orientaria os estabelecimentos sobre o tema, Milan declarou que todos os produtos comercializados pelos supermercados estão dentro de legislação regulada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e que esses casos são pontuais.

"Tem algumas medidas que chamamos de coisas pontuais, que acabam ocorrendo em determinadas lojas ou em determinadas regiões, muitas vezes para atender e até uma forma criativa de mostrar alternativas, vamos dizer assim, para aquele consumidor que eventualmente está procurando algo um pouco diferente."

Para Rodrigo Afonso, diretor-executivo da organização não governamental Ação da Cidadania, a venda de itens que costumavam ser descartados ou doados, como no caso das carcaças, é uma tentativa dos supermercados de lucrar com a fome.

"Você vê pessoas vendendo carcaças, ossos, tudo isso... Por mais que seja pontual, é um absurdo que os supermercados deixem isso acontecer."

Ele diz que a situação piorou com o crescente número de brasileiros passando fome. "As populações não conseguem consumir os produtos que eles vendem, e o pouco que conseguiam usar de sobras, agora estão sendo vendidos também para tentar arrumar alguma maneira de lucrar com isso."

Reportagem Agência Mural e da Folha mostrou, por exemplo, o caso de Josefa da Silva, moradora de Osasco (Grande SP), que depende de sobras de feira e doações para alimentar família. Ela conta ter percebido a diferença.

"Aqui perto de casa que já conhecem a gente, pegamos restos de carcaça, de frango, de gordura, quando dão, mas está muito difícil de dar também, porque agora tudo eles colocam para vender."

Situação é reflexo da crescente desigualdade social

André Braz, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que o cenário é retrato da situação econômica do país e seu reflexo no poder aquisitivo das famílias. "Eu não acho isso normal, acho que é retrato de uma situação que a gente tem de mudar, e a mudança vem no combate à desigualdade que se inicia com os investimentos em educação."

Para o economista, o contrário vem acontecendo. "O que a gente vê na propaganda política e mesmo na PEC que saiu agora é combater a inflação com certo artificialismo, redução de imposto, o que deixa esse cobertor cada vez mais curto."

"Como vai ficar a verba para saúde, para educação, com essas reduções, em que as prefeituras e estados terão que arcar com redução de ICMS de telecomunicação, de energia, de gás, de gasolina?", questiona Braz.

"Imposto na gasolina, cigarro, bebida, em supérfluos ou bens de luxo são bem-vindos em um país desigual como o nosso, exatamente para diminuir a chance de ocorrerem coisas como essa", conclui o economista.

Metade do valor dos auxílios deve ir para mercados, diz setor

A Abras estima que cerca de 50% a 60% dos recursos extras disponibilizados às famílias por meio dos auxílios aprovados na PEC (proposta de emenda à Constituição) Kamikaze poderão ser destinados ao setor, ainda que os dados sejam preliminares.

"A gente acredita que algo em torno de 50%, 60%, desse valor viria para o consumo dos lares", disse Márcio Milan, vice-presidente institucional e administrativo da Abras, nesta quinta-feira a jornalistas.

Os cálculos não estão finalizados, e levam em conta, segundo ele, todos os benefícios acoplados à PEC, como os aumentos do Auxílio Brasil e do Auxílio Gás e a criação de auxílios a caminhoneiros e taxistas.

Milan também mencionou o fato de bares e restaurantes estarem abertos, o que não ocorreu no auge da pandemia da Covid-19, o que deve gerar demanda adicional destes estabelecimentos.

Crescimento

A Abras manteve a estimativa para 2022 de crescimento de 2,8% no consumo dos lares, indicador elaborado pela entidade e que contempla as vendas de todos os formatos de varejo alimentar operados pelo setor supermercadista. Milan disse, porém, que a projeção pode ser revisada em julho.

A PEC eleva o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 mensais até o final do ano e infla ou cria outros programas sociais. Os críticos chamam a atenção para o impacto fiscal estimado de R$ 41,25 bilhões e a proximidade das eleições.

As medidas têm validade apenas até o final do ano e a expectativa é que os benefícios comecem a ser pagos a partir de agosto.

Milan disse que os supermercados estão realizando "negociações mais planejadas e estruturadas" com a indústria alimentícia para avaliar a necessidade de alguns aumentos de preços. O executivo negou que haja risco de uma escassez ampla de produtos nas gôndolas, ressaltando porém que rupturas individuais são normais da operação do setor.

(com Reuters)

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