Inflação nos EUA derruba dólar e Bolsa supera os 110 mil pontos

Estabilidade nos preços americanos leva mercado a apostar em alívio nos juros

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São Paulo

A taxa de câmbio no Brasil recuou e o mercado de ações tomou fôlego nesta quarta-feira (10), dia em que a divulgação da taxa de inflação nos Estados Unidos menor do que a esperada impulsionou investimentos considerados mais arriscados.

O dólar comercial à vista fechou em queda de 0,79%, cotado a R$ 5,0880 na venda, menor valor para um encerramento de pregão desde meados de junho. Na cotação mínima desta quarta, a moeda americana chegou a ser negociada a R$ 5,0360, quando recuou quase 2%.

O índice de preços ao consumidor americano permaneceu inalterado em julho, após avançar 1,3% em junho, segundo o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos. Projeções da agência Reuters indicavam alta de 0,2% do índice no mês passado. O acumulado em 12 meses caiu de 9,1%, em junho para 8,5%, no mês passado.

A queda mensal de 7,7% da gasolina está entre os fatores com maior peso no resultado de julho.

A desaceleração da inflação levou investidores a apostarem na diminuição no ritmo do aumento dos juros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) e, consequentemente, na desvalorização do dólar.

Nota de dólar sob letras formando a palavra "inflation" (inflação)
Nota de dólar sob letras formando a palavra "inflation" (inflação) - Dado Ruvive - 12.jun.2022/Reuters

O novo dado, que confirma a desaceleração da inflação, fez o mercado voltar a esperar que o Fed desaperte o passo na sua política de elevação de juros. Analistas já falam em uma alta de 0,50 ponto percentual no próximo mês.

Antes, parte do mercado considerava que o Fed poderia repetir em setembro o agressivo aumento de 0,75 ponto percentual da sua taxa de juros, assim como fez nas duas últimas reuniões de política monetária.

O temor de uma elevação novamente muito forte dos juros tinha ganhado espaço na semana passada, quando a criação de vagas de trabalho nos Estados Unidos acima das expectativas para julho surpreendeu o mercado.

Isso indicou que a economia americana não está em recessão, temor que surgiu após a divulgação de duas quedas trimestrais consecutivas do PIB (Produto Interno Bruto).

Sobre os efeitos das novas perspectivas no câmbio do Brasil, a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, diz que há uma combinação dos contextos internacional e doméstico para favorecer a queda do dólar.

É que sem o aperto mais forte na taxa do Fed, o prêmio oferecido pelo juro real brasileiro —diferença entre inflação e a taxa de crédito— tende a aumentar a disposição de investidores para abandonarem a segurança da renda fixa americana em direção a uma economia menos estável.

Na terça-feira (9), a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central brasileiro apontou para a estabilização da taxa de juros, enquanto a deflação mensal registrada pelo IPCA (índice oficial de inflação) de julho confirmou a expectativa de desaceleração dos preços.

"A combinação gera um movimento de apetite para o risco, trazendo o câmbio para baixo", comentou Consorte.

Bolsa avança acima dos 110 mil pontos

Na Bolsa de Valores brasileira, o indicador de referência Ibovespa subiu 1,46% nesta quarta, a 110.235 pontos. É o melhor resultado desde 3 de junho.

Setores que dependem mais de um ambiente com crédito barato e inflação controlada entregaram os melhores resultados da sessão. É o caso do varejo, dos bancos e de empresas de tecnologia ou com grande potencial de crescimento.

Entre os destaques do dia, os papéis das Lojas Renner subiram 4,13%, ocupando lugar entre as mais negociadas. Também entraram nessa lista os bancos Itaú e Bradesco, que avançaram 1,85% e 1,59%, respectivamente.

O desempenho das ações locais esteve alinhado nesta sessão à força dos mercados internacionais.

Nos Estados Unidos, o índice de referência da Bolsa de Nova York, o S&P 500, saltou 2,13%.

Como tradicionalmente ocorre quando há tendência de desaquecimento dos juros, houve forte alta entre as empresas americanas de tecnologia e de grande crescimento. O indicador Nasdaq escalou 2,89%.

Marcelo Oliveira, especialista em renda variável e fundador da Quantzed, ressalta que o mercado americano é parâmetro para a Bolsa brasileira. O humor positivo por lá foi determinante para o resultado doméstico, segundo ele.

"Tivemos um número muito positivo de CPI [sigla em inglês para índice de preços ao consumidor] americano, que veio zerado para mês de julho, e o núcleo [que desconta a variação de alimentos e energia, que são mais voláteis] também veio abaixo do esperado", comentou

Os principais mercados europeus também subiram. A Bolsa de Londres ganhou 0,25%. Paris e Frankfurt fecharam com altas 0,52% e 1,23%, nessa ordem.

No mercado de juros brasileiro, os contratos DI (depósitos interbancários) com vencimentos a partir de janeiro de 2024 recuaram após um dia de altas na véspera.

Embora seja negociada apenas entre instituições financeiras para empréstimos necessários para o acerto diário de caixa, a taxa DI serve de parâmetro para financiamentos em geral.

Inflação e juros mais baixos nos Estados Unidos tendem a derrubar o custo do crédito brasileiro porque, entre outros motivos, reduzem a pressão para que o Banco Central do Brasil aumente o prêmio para atrair investidores para a renda fixa do país. Dólares entrando na economia ajudam a controlar a taxa de câmbio e, consequentemente, o índice de preços local.

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