Amazon inaugura ação em favela e fala em entregas aos domingos

Paraisópolis vira piloto da gigante do ecommerce em parceira com a Favela Llog

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São Paulo

Maior empresa de e-commerce do mundo, a Amazon inaugurou em Paraisópolis sua operação de entregas em favelas do Brasil.

Em parceira com a Favela Llog, startup da Holding de Favelas em conjunto com a Luft Logistics, a Amazon diz iniciar em São Paulo uma ação disruptiva, que se diferenciará por realizar entregas inclusive em domingos e feriados.

"A ideia é que o mercado se contamine com essa operação, que ela seja exemplo, já que ela beneficia os compradores e tem grande impacto social na comunidade, pois 100% dos entregadores moram no local", diz Rafael Caldas, 40, líder da Amazon Logistics no Brasil.

Entregador da Favela Llog transporta de moto encomendas de moradores feitas na Amazon pelas ruas de Paraisópolis
Entregador da Favela Llog transporta de moto encomendas de moradores feitas na Amazon pelas ruas de Paraisópolis - Danilo Verpa/Folhapress

Segundo ele, a chegada da Amazon às favelas é fruto do amadurecimento do e-commerce no país ocorrido na pandemia. "Em Paraisópolis, iremos aprender ao máximo, superar os problemas de enderaçamento, que são a maior dificuldade em comunidades."

Um dos destaques é parte da equipe ser originária do projeto Redenção, da Cufa (Central Única das Favelas), que garante emprego a egressos do sistema carcerário no país.

Um exemplo é Francildo Phênnes Alves de Souza, 35, coordenador do QG da Favela Llog em Paraisópolis.

Após ser preso em 2008 por assalto à mão armada, Phênnes diz que hoje tem o emprego que sempre desejou.

"Essa oportunidade, de trabalhar perto de casa, de ter um salário digno e de poder estar próximo da família, é tudo o que jovens da favela, como eu era, desejam. É surreal", diz ele, que já trabalhou como motorista de perua escolar e usou o veículo para entregar alimentos na pandemia.

Francildo Phênnes Alves de Souza (esq.), coordenador do QG da Favela Llog em Paraisópolis, confere encomenda da Amazon feita por moradores da segunda maior favela de Sâo Paulo
Francildo Phênnes Alves de Souza (esq.), coordenador do QG da Favela Llog em Paraisópolis, confere encomenda da Amazon feita por moradores da segunda maior favela de Sâo Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

Além de resignificar sua presença na favela e perante os filhos, ele diz que a chegada da Amazon a Paraisópolis é um marco na favela. "Essa multinacional acredita em nós e no potencial da favela. E eu digo a todos: ‘Acredite: sempre há chance de recomeço’", diz.

Quem também está na operação da Favela Llog é Thales Athayde, 26, filho de Celso Athayde, escolhido o Empreendodor Social do Ano em 2021 pela Fundação Schwab e CEO da Favela Holding. "Aqui em Paraisópolis devemos entregar até 2.000 pacotes por dia. A Cufa está há 15 anos aqui em Paraisópolis, e a Favela Vai Voando [empresa de turismo da holding], há 10. Não atuamos em combinação com crime, e o objetivo é fomentar o empreendedorismo local e a geração de renda", afirma Thales.

Segundo ele, deixar o Rio, onde vivem os dois irmãos, e vir para São Paulo foi para se desafiar a fazer dar certo iniciativas como a Favela Llog, em joint venture cujo lucro é dividido com a Luft Logistics.

Fundada em 2015, a Favela Llog respondia por 12% da holding, o que deve crescer agora após a parceira com a Amazon. A expertise de logística da empresa foi consolidada ao fazer chegar as doações na pandemia e por já estar presente em 100 favelas e 10 bairros do Rio de Janeiro, onde já realiza entregas da Natura e da P&G.

Agora o plano que se inicia com Paraisópolis, Heliópolis e Capão Redondo, em São Paulo, tem previsão de estar em 300 favelas até o final do ano.

De acordo com Celso Athayde, 16 outras empresas estão em tratativas para fazer parte da operação. "A Favela Llog não era muito expressiva, porque é uma startup que dependia de plano de expansão sólido. Mas agora deverá representar uma outra realidade e teremos essa posição em breve, assim que as 16 empresas entrarem para o projeto."

E, diz Celso, não há pressão para expansão rápida. "Temos compromisso com uma gestão que seja referência para a abertura de novo sólido mercado que iniciamos e queremos incentivar."

Se esse novo modelo se consolida em Paraisópolis, até o final do ano deve se espalhar pelo Brasil em ações da Favela Brasil Xpress, liderada por Gilson Rodrigues e Givanildo Pereira, e com a naPorta, fundada por Sanderson Pajeú e que tem parceria com Edu Lyra, da Gerando Falcões.

São as favelas, que abrigam 17 milhões de pessoas com poder de compra da R$ 120 bilhões por ano, de vez no mapa do ecommerce no Brasil.

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