Bolsonaro avalia cancelar participação em debate da Fiesp

Campanha diz que tentar competir com evento do manifesto pró-democracia seria um desastre

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) avalia cancelar sua participação em debate promovido pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) previsto para a próxima quinta-feira (11), em que seria discutido seu plano de governo, caso seja eleito.

A data é a mesma em que está prevista a leitura de dois manifestos na Faculdade de Direito da USP em defesa da democracia, um organizado pela própria Fiesp e com apoio de outras entidades da sociedade civil, e outro articulado por ex-alunos da universidade, intitulado "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito".

Segundo assessores, Bolsonaro não quer ir ao "Encontro com Candidatos à Presidência: Diretrizes prioritárias do governo federal (2023-2026)", que já sabatinou, nesta segunda-feira (1º), Simone Tebet, candidata do MDB ao Planalto, e receberá o ex-presidente Lula (PT) na próxima terça-feira (9).

Inicialmente, o presidente confirmou presença para a sexta-feira (12), mas pediu para anteciparem para a quinta-feira (11), dia em que ele tem um jantar com empresários organizado pelo grupo Esfera Brasil.

O presidente Jair Bolsonaro (PL)
O presidente Jair Bolsonaro (PL) - Evaristo Sá-7.jun.22/AFP

Nos bastidores, no entanto, dirigentes da Fiesp comentam que a transferência da sabatina teve como objetivo desviar a atenção da leitura dos manifestos.

A carta organizada por ex-alunos já conta com mais de 661 mil assinaturas. O documento da Fiesp, por sua vez, teve apoio de entidades setoriais, como a Febraban, a federação dos bancos, e representantes da sociedade civil.

A antecipação da sabatina com Bolsonaro para o dia 11, contudo, não conta com apoio da campanha. Para ela, a participação do mandatário pode acabar sendo um desastre, porque será difícil competir com a magnitude da manifestação na USP.

O presidente corre ainda risco de ser alvo de manifestações na porta de seu evento.

Ainda que uma ala do entorno de Bolsonaro tente minimizar o apoio do empresariado à carta pró-democracia, a maioria reconhece que o sinal não é positivo para a campanha.

Nos últimos dias, integrantes da equipe de reeleição do chefe do Executivo buscaram culpados para o amplo apoio à carta. O primeiro alvo foi Paulo Guedes, ministro da Economia, que deveria ter interlocução com banqueiros.

Os presidentes do Banco do Brasil e da Caixa, Fausto Ribeiro e Daniella Marques, também foram alvo de críticas. Uma ala da campanha acredita que eles deveriam ter impedido a Febraban de subscrever o manifesto, ameaçando, inclusive, deixar a federação caso aderissem —o que não ocorreu.

Os dois bancos públicos foram voto vencido na Febraban e não aderiram à carta de teor crítico ao governo.

Independente disso, a leitura agora é que, para rebater o movimento e se aproximar do empresariado novamente, o presidente não deveria tentar competir com o evento da USP. Por isso, aliados querem que Bolsonaro mude mais uma vez a data do evento da Fiesp.

Bolsonaro foi aconselhado por assessores a trocar essa pauta com resultados negativos para sua imagem na federação por outra mais positiva.

No mesmo dia, o Ministério das Comunicações vai promover em São Paulo um evento com o ministro Fábio Faria para falar da chegada do 5G na capital.

O serviço terá sua estreia na maior cidade do país nesta quinta-feira (4). O presidente, no entanto, não pode comparecer devido a restrições impostas pela legislação eleitoral.

Apesar de não poder fazer propaganda para Bolsonaro com a telefonia de quinta geração, Faria vai defender o serviço, que chegou ao país graças a seu esforço para realização do leilão no final do ano passado, contrariando planos das operadoras, que queriam mais tempo para investir em uma nova rede.

Além disso, de acordo com a coluna Painel, da Folha, Bolsonaro deve ainda ser convidado na Fiesp a assinar o manifesto em defesa da democracia encabeçado pela instituição, como já fizeram outros presidenciáveis.

Bolsonaro já disse para integrantes de sua equipe que, devido à sua conotação política, não pretende assiná-lo –o que pode causar mais danos ao presidente.

A participação do presidente no evento da Fiesp ainda consta na agenda oficial, segundo assessores. A federação disse, por meio de sua assessoria, não ter sido informada sobre um possível cancelamento.

Os encontros com candidatos estão sendo realizados na sede da Fiesp, e os políticos foram convidados a participar de um diálogo com diretores, conselheiros, sindicatos e associados das entidades sobre propostas para o Brasil.

O chefe do Executivo criticou o manifesto da Fiesp durante sua live, na semana passada, alegando ter conotação política.

"Uma nota política eleitoral que nasceu lamentavelmente na Fiesp em São Paulo. Se não tivesse o viés político nessa nota, eu assinaria. Sem problema nenhum", disse, durante sua transmissão semanal.

"Claramente que é contra a minha pessoa, que é favorável ao ladrão, não vou falar quem é esse ladrão."

O presidente da Fiesp, Josué Gomes Monteiro, é filho de José Alencar, vice do ex-presidente Lula durante os dois mandatos.

Nesta terça-feira (2), Bolsonaro chamou e "cara de pau" e "sem caráter" quem assinou o manifesto pró-democracia organizado pela USP.

"Esse pessoal que assina esse manifesto é cara de pau, sem caráter, não vou falar outros adjetivos, porque sou uma pessoa bastante educada", disse o mandatário, em entrevista à Rádio Guaíba.

As iniciativas pró-democracia ganharam força após o presidente realizar, em 18 de julho, encontro com embaixadores lotados em Brasília para expor mentiras acerca das urnas e do processo eleitoral, repetindo argumentos já descartados após sua exposição em uma live no ano passado.

Com a proximidade do calendário eleitoral, o presidente tem retomado e intensificado declarações golpistas e de contestação à credibilidade das urnas.

Durante a convenção nacional do PL em que foi oficializado candidato à reeleição, Bolsonaro convocou seus apoiadores para irem às ruas "uma última vez" no 7 de Setembro e dirigiu seus ataques a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Bolsonaro está 18 pontos atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de acordo com o último Datafolha. O atual mandatário tem 29% das intenções de voto, contra 47% do petista.

Em 2020, Bolsonaro participou de manifestações que defendiam a intervenção militar —o presidente é um entusiasta da ditadura e de torturadores. Nos atos de raiz golpista de 7 de Setembro do ano passado, o presidente ameaçou o STF e exortou desobediência a decisão da Justiça.

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