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Bolsonaro volta a atacar carta pró-democracia em encontro com banqueiros; veja vídeo

Presidente também critica adesão de Lula ao manifesto e diz que não vai assinar 'cartinha'

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São Paulo

Em encontro com os grandes bancos nesta segunda-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a atacar o manifesto em defesa da democracia, que deve ser lido na Faculdade de Direito da USP nesta quinta (11).

Dirigindo-se a banqueiros, o presidente afirmou: "Vocês têm que olhar na minha cara, ver as minhas ações, e me julgar por aí". "Não vou assinar cartinha", acrescentou.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) chega à sede da Febraban, em São Paulo, acompanhado do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos)
O presidente Jair Bolsonaro (PL) chega à sede da Febraban, em São Paulo, acompanhado do ex-ministro e candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) - Rivaldo Gomes/Folhapress

O chefe do Executivo participou nesta segunda de encontro com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e a CNF (Confederação Nacional das Instituições Financeiras) em São Paulo.

A Febraban é uma das instituições que decidiu assinar o manifesto organizado por entidades da sociedade civil em defesa da democracia.​ Estavam presentes no evento nesta segunda Milton Maluhy Filho (presidente do Itaú), Octávio de Lazari Junior (presidente do Bradesco), Luiz Carlos Trabuco (presidente do conselho de administração do Bradesco), Mário Leão (presidente do Santander), Sérgio Rial (presidente do conselho de administração do Santander), Fausto Ribeiro (presidente do BB), Daniella Marques (presidente da Caixa) e Isaac Sidney, presidente da Febraban.

O mandatário defendeu ainda a participação das Forças Armadas nas discussões sobre o processo eleitoral. "Se as Forças Armadas foram convidadas a participar da Comissão de Transparência das Eleições e apresentaram sugestões, deixem as equipes técnicas discutirem. Quem sabe as Forças Armadas estejam equivocadas? Mas não impedir essa aproximação e essa conversa", disse o presidente.

Nesta segunda, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) negou parcialmente um pedido das Forças Armadas de acesso a arquivos das eleições de 2014 e 2018 —justamente os anos em que o presidente alega, sem nenhuma evidência, além de teorias conspiratórias, que teria havido fraude. Bolsonaro acumula mentiras sobre o tema.

O pedido se soma a uma série de ocasiões em que os militares questionam a corte em alinhamento ao discurso do presidente de desacreditar as urnas.

"O voto é a alma da democracia, e nós lutamos por transparência. Nada mais além disso", afirmou Bolsonaro aos banqueiros.

Em tom alarmista e eleitoreiro, o presidente ainda fez menção em seu discurso na Febraban ao Foro de São Paulo (termo conspiratório adotado pela militância de direita e de extrema direita) e afirmou considerar que a esquerda é responsável pelo fracasso econômico de países vizinhos. Disse ainda que, se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltar ao poder, o Brasil pode se juntar a um "trenzinho" encabeçado por Cuba e Venezuela.

"Todos do 'Foro de São Paulo' têm que ser convidados para assinar a Carta pela Democracia agora... Vamos tirar o Bolsonaro dali. É melhor um democrata na corrupção do que um honesto em um regime forte. Qual é o regime forte meu? Me aponte uma palavra minha contra a democracia? Eu mandei prender algum deputado?", afirmou o presidente.

Durante o discurso, Bolsonaro fez do encontro uma espécie de palanque eleitoral, exibiu cartazes com reproduções do noticiário e lançou diversos ataques contra o Lula, em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência, e contra a esquerda na América Latina.

Bolsonaro também criticou a adesão do petista ao manifesto em defesa da democracia.

"Tanto é que, segundo a imprensa, [Lula] acabou de assinar a carta pró-democracia. Fotografia linda, do lado da jovem esposa", ironizou o chefe do Executivo. Na sequência, ele citou declarações do adversário favoráveis à ditadura de Daniel Ortega na Nicarágua e relembrou o apoio aos governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro na Venezuela.

O presidente questionou aos banqueiros se "eles recontratariam um empregado que foi preso no passado" —em referência à candidatura de Lula, que chegou a cumprir pena em razão de condenações na Lava Jato, porém o processo foi considerado irregular em análise posterior do STF.

Mais tarde, em entrevista ao podcast Flow, Bolsonaro criticou os signatários do manifesto. "Que democratas são esses que assinaram essa carta pela democracia e fala que eu sou ditador, quando tomaram medidas restritivas mais graves que um possível decreto de estado de sítio?", disse, se referindo às políticas de combate à pandemia de governadores e prefeitos.

Essa não é a primeira vez que o presidente critica os manifestos. Bolsonaro vem tentando desqualificar os documentos e já chamou os signatários da carta de "empresários mamíferos".

"Esse pessoal que assina esse manifesto é cara de pau, sem caráter, não vou falar outros adjetivos, porque sou uma pessoa bastante educada", disse o mandatário, em entrevista recente à Rádio Guaíba.

Em outra ocasião classificou-a como "cartinha" e atribuiu a adesão dos bancos a ela, porque o governo teria dado uma "paulada" neles com a criação do Pix, sistema de pagamentos instantâneos.

Na noite desta segunda, em entrevista ao podcast Flow, Bolsonaro voltou a criticar o manifesto, citado por ele como um "grave ataque à minha pessoa". "Essas pessoas que assinam agora manifesto pela democracia, que é um grave ataque à minha pessoa, como se eu não fosse democrata", disse.

O encontro nesta segunda foi uma tentativa de reaproximação com um setor que tem se posicionado de modo mais crítico nas últimas semanas, desde que Bolsonaro fez uma apresentação a embaixadores estrangeiros com ataques ao sistema eleitoral.

O episódio foi ponto de partida para dois manifestos em defesa da democracia: um organizado pela sociedade civil, intitulado "Carta aos brasileiros e brasileiras em defesa do Estado Democrático de Direito", que já conta com mais de 780 mil assinaturas; outro, pela Fiesp, em defesa da Democracia e Justiça.

Dentre os signatários do primeiro manifesto, estão os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, copresidentes do conselho de administração do Itaú Unibanco, e o colunista da Folha Candido Bracher, ex-presidente da instituição financeira e hoje também integrante de seu conselho.

Bolsonaro também pediu que os juros cobrados na modalidade do empréstimo consignado sejam reduzidos pelas instituições financeiras.

"Faço um apelo para vocês. Vai entrar o pessoal do BPC [Benefício de Prestação Continuada] no empréstimo consignado. Isso é garantia, desconto em folha. Se puderem reduzir o máximo possível, porque ainda estamos no final da turbulência, para que todos nós possamos cada vez mais mostrar que o Brasil não é mais um país do futuro, é do presente", afirmou Bolsonaro na sede da Febraban, na capital paulista.

O Senado aprovou em julho medida provisória que autoriza a concessão de empréstimo consignado para quem recebe o BPC (benefício voltado a idosos de baixa renda e pessoas com deficiência) e aumenta a margem dos créditos consignados para aposentados e pensionistas.

Segundo a coluna Painel S.A., da Folha, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, disse a Bolsonaro que o setor bancário trabalha com "diálogo" e "perspectiva de colaboração com todas as autoridades constituídas". Disse, ainda, que tem serenidade ao falar de juros e que os que os bancos querem é uma economia estável, com inflação baixa, "que permita juros mais baratos" para ampliar o crédito.

"Prezamos pela importância da interlocução e do diálogo, pois precisamos buscar, iniciativa privada e poder público, a melhoria do ambiente de negócios para aumentar a produtividade e a competitividade do Brasil", disse Sidney.

Os ministros Paulo Guedes (Economia), Ciro Nogueira (Casa Civil) e o candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas, também estavam na plateia de convidados na sede da federação dos bancos.

"Foi uma oportunidade de fazer uma retrospectiva do que o Brasil passou, e de como está saindo", afirmou Tarcísio de Freitas sobre o almoço, em conversa com jornalistas na saída do encontro.

O candidato ao governo paulista afirmou que o país é um dos únicos hoje que está crescendo e gerando emprego, e com medida para controlar a alta da inflação.

"A gente fala tanto em respeito às instituições, olha como foi importante, isso foi falado aqui, ter um Banco Central independente. Ele foi o primeiro banco central a subir juros, e vai ser o primeiro a baixar juros, porque a inflação está cedendo."

Ele ainda repisou argumentos e disse que artistas que endossaram o documento querem "a volta da lei Rouanet" e que banqueiros teriam se juntado ao movimento por conta do Pix.

Com UOL

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