Como evitar o estresse quando os preços não param de subir

Inflação recorde em quatro décadas aumenta tensão nos EUA, e especialistas dão dicas sobre como se gerenciar a aflição

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Christina Caron
The New York Times

Para Ellie Alvarado, professora e mãe de três filhos em Elgin, em Illinois (EUA), descobrir como pagar as contas tornou-se uma fonte de ansiedade e tensão, especialmente quando ela e o marido discutem como cortar os gastos.

"Quando eu digo: 'Olhe, não podemos comprar nada esta semana, senão entraremos no cheque especial', ele diz: 'Do que você está falando? Nós dois estamos trabalhando. Isso não deveria acontecer'", disse Alvarado.

Os custos crescentes dos alimentos causaram a diminuição das idas não programadas ao McDonald's.

A inflação nos EUA atingiu o maior nível em 40 anos, forçando famílias a viver com menos - Jam Dong/NYT

Cereais de marca e outros pequenos luxos também ficaram para trás. Os preços da gasolina, que recentemente giraram em torno de US$ 5 por litro nos Estados Unidos, também estão consumindo seu orçamento.

"Toda vez que abasteço nossa van fico horrorizada", disse Alvarado, que às vezes tem apenas US$ 100 na conta-corrente da família. "Estou sempre preocupada", acrescentou.

Seu marido, que trabalha numa fábrica, decidiu fazer o turno da noite porque paga mais por hora. Mas a família ainda está atrasada nas prestações da casa.

"Posso adiar a hipoteca em duas semanas", disse Alvarado, 38, que cuida do orçamento familiar. "Mas então se tornam mais duas semanas e, de repente, eles estão ligando para cobrar."

A inflação atingiu agora o nível mais alto em 40 anos, obrigando muitas famílias a se contentarem com menos. De acordo com dados divulgados este mês pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho, o Índice de Preços ao Consumidor subiu 9,1% em relação ao ano anterior, com alguns dos maiores aumentos em necessidades como alimentação, aluguel e gasolina.

O estresse financeiro adicional não é apenas duro para as contas bancárias, como também pode causar sentimentos de depressão, vergonha, raiva ou medo.

Um estudo com idosos publicado em 2017 descobriu que a maneira como alguém percebe e reage à tensão financeira pode ter implicações para seu bem-estar mental.

As pessoas que estavam perturbadas por suas circunstâncias econômicas eram mais propensas a ter pontuações mais altas de depressão do que as que também estavam sob pressão financeira, mas que não se incomodavam tanto com isso –mesmo quando controladas sobre outros fatores, como saúde e renda.

Felizmente, "há muito que podemos fazer para gerenciar e trabalhar com esse estresse e as emoções", disse a principal autora do artigo, Sarah D. Asebedo, diretora da Escola de Planejamento Financeiro da Universidade Texas Tech em Lubbock.

Conversamos com especialistas sobre como lidar com as consequências emocionais das preocupações financeiras e tivemos conversas produtivas sobre finanças com membros de famílias.

Adote a autorreflexão e comunique-se com empatia

Quando os casais discordam sobre como cuidar das finanças, cada parceiro geralmente tenta convencer o outro a mudar de ideia, disse Rick Kahler, cofundador da Associação de Terapia Financeira que está colaborando em um livro para casais com esse tipo de problema.

Em vez disso, sugeriu Kahler, pense em como você reage quando fala sobre suas finanças. O que está sendo provocado pelo seu passado? Existem histórias ou roteiros que você revive quando discute suas finanças? Por exemplo, a ideia de que trabalhar duro sempre levará a recompensas?

Aproxime-se do seu parceiro com empatia e pergunte: "Qual é a sua esperança ao gastar esse dinheiro?", ou "Qual é o seu medo ao cortar esse item?", disse Kahler.

Ambos os parceiros podem eventualmente perceber que querem a mesma coisa –por exemplo, que cada um quer o que é melhor para a família.

Amanda Clayman, terapeuta financeira de Los Angeles, observou que, ao se comunicar sobre diferenças, qualquer solicitação deve ser específica. Então, em vez de dizer: "Precisamos economizar mais", diga:

"Vamos encontrar maneiras de economizar US$ 200 extras por mês". E tente usar "declarações pessoais" quando possível, como: "Não estou gostando de quanto pagamos por assinaturas de entretenimento e me pergunto se podemos cortar algo".

Para que isso funcione, acrescentou Clayman, ambos os parceiros devem sentir que suas necessidades estão sendo incluídas e que têm voz igual no assunto, independentemente de quem está mais ansioso ou quem ganha mais.

Gaste com sabedoria, mas não se prive completamente

Se você mora sozinho ou administra as finanças de uma família grande, é importante pensar em metas antes de tentar resolver qualquer problema financeiro, disse Megan McCoy, terapeuta de casais e famílias que dá cursos de planejamento financeiro na Universidade Estadual do Kansas.

Para que você está economizando? O que você precisa cobrir com um orçamento limitado? Escreva isso. Em seguida, pense em possíveis cortes –mas tente manter as coisas que lhe dão alegria.

Pergunte a si mesmo: "O que posso cortar que não afete negativamente minha saúde mental?", disse a doutora McCoy. "Acho que as pessoas tendem a se restringir demais."

Para Sarah Davis, 36, despesas essenciais (mas caras) incluem a terapia de saúde mental e seu amado gato, que adquiriu problemas de saúde.

"Ele é como meu filho peludo", disse ela.

Para pagar melhor por essas coisas, ela deixou Boston, onde trabalha como administradora de projetos, e agora mora a cerca de 40 quilômetros ao norte da cidade, em Lawrence, em Massachusetts. O aluguel é mais barato lá, ela disse, mas ainda "extremamente caro".

O que a mantém acordada à noite é a possibilidade de algo dar errado e não saber por quanto tempo os preços continuarão subindo.

"Eu realmente estou a um passo de estar em apuros financeiros", disse Davis, que vive sozinha sem outra renda para depender.

Houve tanta incerteza nos últimos dois anos, que "perpetuamente cria ansiedade", disse McCoy. Mas ter um plano para o qual você está trabalhando –seja aumentar sua poupança ou adotar medidas para pagar dívidas– pode oferecer uma sensação de poder e controle.

Orly Hersh e sua família tomaram a decisão de morar com a mãe dela há cinco anos, na casa onde ela cresceu em Boulder, no Colorado. Isso permitiu que sua mãe envelhecesse no lugar e que eles ficassem na cidade que amavam. Ela e o marido, ambos professores, não podem se dar ao luxo de comprar uma casa.

"É um grande benefício mútuo para todos nós", disse Hersh, 53, mãe de dois filhos.

Embora eles economizem em custos de moradia, o Colorado atualmente tem um dos maiores custos de inflação do país, e os preços crescentes deram uma grande mordida em seu orçamento.

Para pagar as contas da recente internação de sua filha mais nova no hospital, eles terão de usar o fundo de aposentadoria de Hersh, "o que é deprimente", segundo ela.

Mas é melhor para seu nível de estresse que seja pago o mais rápido possível, acrescentou. "Eu realmente odeio ter essa dívida pairando sobre minha cabeça", disse ela.

Explore diferentes tipos de ajuda profissional

Consultar um conselheiro financeiro pode ser útil para quem busca adquirir conhecimento na área. Por exemplo, talvez você precise de dicas sobre como fazer um orçamento ou queira aprender o básico sobre investimentos.

Se o custo for uma preocupação, a Associação de Aconselhamento Financeiro e Planejamento Educacional está oferecendo uma sessão de coaching financeiro virtual gratuita para qualquer pessoa com incertezas nesse campo.

A terapia financeira é outro tipo de aconselhamento que pode ajudar as pessoas a entender seus pensamentos e opiniões em torno do dinheiro, especialmente quando estão se sentindo presas.

"A questão passa a ser: o que está acontecendo internamente? Que negócios inacabados do passado precisam ser concluídos?", disse Kahler.

Por exemplo, um de seus clientes insistia em gastar todo o dinheiro que entrava em sua conta corrente.

Durante a terapia financeira, ele percebeu que tinha desenvolvido esse comportamento porque não confiava que seu dinheiro estaria seguro se o deixasse guardado. Isso decorria, em parte, de sua infância, quando seus pais tiraram todo o dinheiro da poupança dele depois que perderam seu próprio dinheiro em uma falência.

Consultar um terapeuta financeiro pode ajudar as pessoas a chegar à raiz de seus sentimentos sobre dinheiro e entender crenças antigas, o que "nos libera para começar a adotar novos comportamentos que são do nosso interesse", disse Kahler.

Uma perspectiva econômica preocupante significa que o aumento do custo de vida geralmente está fora do nosso controle. Mas se você sabe que deveria tomar decisões financeiras mais sábias, e não está fazendo isso, "é aí que precisamos examinar abaixo da superfície", disse ele.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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