Conheça o sucessor de Jeff Bezos e a nova conduta política da Amazon

Andy Jassy, novo CEO da gigante de tecnologia, virou frequentador assíduo de Washington

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David McCabe Karen Weise

Quando Jeff Bezos era CEO da Amazon, adotou uma postura distanciada dos assuntos da empresa em Washington. Raramente pressionou os legisladores. Ele depôs apenas uma vez perante o Congresso, sob a ameaça de intimação.

Andy Jassy, sucessor de Bezos, está tentando uma abordagem diferente. Desde que se tornou CEO da companhia, em julho de 2021, Jassy, 54, visitou Washington pelo menos três vezes para atravessar o Capitólio e visitar a Casa Branca.

Em setembro, ele se encontrou com Ron Klain, chefe de gabinete do presidente Joe Biden; ligou para o senador Chuck Schumer, de Nova York, o líder da maioria democrata, para fazer lobby contra a legislação antitruste e conversou com o senador Tim Kaine, democrata da Virgínia, sobre o novo campus corporativo da Amazon no estado.

"Ele foi muito indagador", disse Kaine, que se encontrou com Jassy no Capitólio em setembro e falou com ele por telefone no mês passado. Jassy apostou mais num tom diplomático que em causar impressão pela "força da personalidade", segundo Kaine, e foi preparado com conhecimento sobre as atribuições do legislador no comitê.

O CEO da Amazon, Andy Jassy, em conferência em Laguna Beach, na Califórnia - Mike Blake - 25.out.2016/Reuters

As ações de Jassy em Washington são o sinal de uma nova era que toma forma na Amazon. O executivo, que ingressou na empresa em 1997 e construiu seu negócio de computação em nuvem, o Amazon Web Services, seguiu os passos de Bezos durante anos e era considerado um de seus assessores mais próximos. A sucessão no ano passado foi amplamente vista como uma continuação da cultura e dos métodos de Bezos.

Mas Jassy discretamente colocou sua marca na Amazon, fazendo mais mudanças do que muitos insiders e observadores da empresa esperavam.

Ele se aprofundou em partes chave do negócio que Bezos delegava a assessores, especialmente as operações de logística. Ele admitiu que a Amazon exagerou e precisava cortar custos, fechando suas livrarias físicas e congelando alguns planos de expansão de depósitos. O executivo começou uma revisão tumultuada da liderança. E embora tenha reiterado a oposição da empresa aos sindicatos também adotou um tom mais conciliador com o 1,6 milhão de funcionários da companhia.

A diferença mais gritante de Bezos talvez seja a abordagem muito mais prática do novo CEO aos desafios regulatórios e políticos em Washington.

Jassy se envolveu mais com o escrutínio do papel maior da Amazon como empregadora e na sociedade, além de atender aos clientes, disse Matt McIlwain, sócio-gerente do Madrona Venture Group, de Seattle, que foi um dos primeiros investidores da empresa.

"Acho que esse tipo de coisa importa mais para Andy", disse McIlwain, que conhece Bezos e Jassy há mais de duas décadas. "Jeff tem uma mentalidade mais libertária."

Os esforços de Jassy podem ter origem na necessidade. Líderes políticos, ativistas e acadêmicos estão analisando mais de perto a Amazon por causa de seu predomínio. A empresa respondeu expandindo seu aparelho de lobby em Washington, gastando US$ 19,3 milhões em lobby federal em 2021, em comparação com US$ 2,2 milhões uma década antes, segundo a OpenSecrets, que monitora a influência em Washington.

Seus desafios estão aumentando. A Comissão Federal de Comércio, liderada pela jurista Lina Khan, está investigando se a Amazon violou as leis antitruste. No ano passado, Biden apoiou os funcionários da Amazon que pretendiam se sindicalizar; desde então, ele recebeu no Salão Oval um líder sindical de um armazém da Amazon. E o Congresso poderá votar em breve um projeto de lei antitruste que dificultaria para a Amazon favorecer suas próprias marcas às oferecidas por concorrentes em seu site.

Jassy –que esteve no Clube Republicano como estudante de graduação em Harvard e fez doação nos últimos anos para democratas amigos das empresas– adotou como prioridade desde o início ajudar a Amazon a navegar pelo cenário regulatório. Depois que Bezos anunciou que estava deixando a chefia da companhia, no ano passado, Jassy convocou um grupo de executivos da empresa para um briefing sobre a luta antitruste, disseram duas pessoas com conhecimento da reunião.

A ameaça regulatória mais imediata da Amazon é o projeto de Lei da Inovação e Opção Online, que impediria grandes plataformas digitais de dar tratamento preferencial a seus próprios produtos.

Um dos copatrocinadores democratas do projeto, o senador Mark Warner, da Virgínia, se reuniu com Jassy em Washington em dezembro e discutiu a influência da China sobre a tecnologia. Em outra reunião este ano em Seattle, segundo Warner, ele disse a Jassy que temia que a Amazon pudesse copiar produtos dos comerciantes que usam seu site.

Jassy "será alguém que provavelmente se envolverá mais nessas disputas políticas com o governo do que Bezos fazia como fundador", disse Warner.

A Amazon se opôs à legislação, argumentando que já apoia as pequenas empresas que vendem produtos em seu site. A companhia disse que se a lei for aprovada poderá ser forçada a abandonar a promessa de entregas rápidas, a base de seu serviço por assinatura Prime. A senadora democrata Amy Klobuchar, de Minnesota, que está por trás do projeto, chamou de "mentira" a ideia de que tornaria o Amazon Prime "ilegal".

Enquanto a Amazon enfrenta a possibilidade de um processo federal antitruste e a contínua desconfiança de sua força, Jassy pode ser um poderoso defensor da empresa, disse Daniel Auble, pesquisador sênior da OpenSecrets.

"Poucos lobistas seriam capazes de se sentar, ou mesmo receber uma ligação da maioria dos membros da liderança no Congresso", disse ele. "Mas é claro que o CEO da Amazon pode fazer todos eles atenderem o telefone."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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