Descrição de chapéu Eleições 2022

Bolsonaro culpa Covid, seca e guerra por não cumprir promessas econômicas

Ao JN, candidato à reeleição fez acenos ao agronegócio e falou em segurança alimentar, apesar de alta da fome no Brasil

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

"Os números da economia são fantásticos, levando-se em conta o resto do mundo. Se fosse apenas o Brasil com esse problema, eu seria o responsável", disse Jair Bolsonaro (PL), em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, na noite desta segunda (22).

A declaração foi em resposta a pergunta sobre indicadores como a taxa de inflação, que mais que dobrou durante a gestão de Bolsonaro, a taxa de juros, que dobrou, e a cotação do dólar, que passou de R$ 3,90 para mais de R$ 5.

Com uma inflação em 12 meses de 10,07% até julho, o Brasil tem a quarta maior taxa do G20, grupo dos 19 países mais ricos e um bloco com integrantes da União Europeia, segundo levantamento da empresa de análises e tecnologia financeira Quantzed. Tem também a maior taxa de juros reais entre 40 países.

Segundo Bolsonaro, as promessas feitas nas eleições de 2018 de manter inflação, juros e dólar em patamares baixos foram frustradas pela pandemia, por "uma seca enorme" registrada em 2021 e pelo "conflito entre a Ucrânia e a Rússia".

Bolsonaro, de paletó escuro, camisa branca e gravata azul celeste, cabelo repartido do lado direito e penteado
O candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), em entrevista ao Jornal Nacional - Reprodução/TV Globo

"Se pegar dados de hoje, você vê o Brasil como, talvez, o único país do mundo com deflação, um país que vai ter inflação menor que Inglaterra e Estados Unidos. Vê também que a taxa de desemprego tem caído no Brasil", declarou, para justificar os "números fantásticos".

(O IPCA de julho foi de fato negativo, de -0,68%, mas outros quatro países tiveram desaceleração da inflação: Armênia, Espanha, Grécia e Luxemburgo.)

Segundo ele, para tentar cumprir as promessas num segundo mandato, o caminho será "continuar na política que vimos fazendo desde 2019". Bolsonaro chamou de "a grande vacina" para a economia "reformas como a da Previdência, a Lei da Liberdade Econômica, a modernização das NRs, das normas regulamentadoras".

Bolsonaro também disse em sua exposição final que o preço da gasolina "caiu assustadoramente" e fez um aceno ao agronegócio dizendo ter "pacificado o MST" —o temor de invasões é um dos motivos do apoio de fazendeiros ao candidato.

O setor agrícola, uma das principais bases de sustentação do presidente, já havia sido lembrado em outro momento: "Fui na Rússia negociar fertilizantes com o presidente [Vladimir] Putin. Se não tivesse isso, não teria fertilizantes para nossa safra no segundo semestre. Isso garantiu a segurança alimentar do nosso Brasil e do mundo".

O Brasil, porém, atravessa um retrocesso na segurança alimentar, com 33 milhões de pessoas passando fome, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

Questões como o aumento da fome no país e o equilíbrio das contas públicas para evitar o crescimento da dívida em relação ao PIB não foram abordadas nos quatro minutos dedicados a temas econômicos —a entrevista tratou também de democracia, respeito ao resultado das eleições, saúde, ambiente e corrupção.

Bolsonaro foi o primeiro a ser entrevistado pelo Jornal Nacional, entre os candidatos mais bem colocados postulantes à Presidência da República.

Ao longo da semana, também serão recebidos os candidatos Ciro Gomes, do PDT (23, terça), Luiz Inácio Lula da Silva, do PT (25, quinta) e Simone Tebet, do PMDB (26, sexta).

O chefe do Executivo havia exigido que a entrevista fosse realizada no Palácio da Alvorada, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chegou a afirmar nas redes sociais que a participação do mandatário estava confirmada e que ela aconteceria na residência oficial do presidente.

Em seguida, no entanto, a Globo negou que teria aceitado a exigência.

Bolsonaro cedeu e foi sabatinado por William Bonner e Renata Vasconcellos nos estúdios da Globo no Rio de Janeiro, por cerca de 40 minutos.

O argumento para que o presidente fosse entrevistado no Palácio da Alvorada era o de que os ex-presidentes Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT) tiveram a mesma deferência quando disputaram a reeleição.

A Globo, porém, afirmou que logo depois das eleições de 2014 definiu que todas as entrevistas em anos eleitorais seriam feitas em seus estúdios.

"A medida buscou demonstrar que todos os candidatos são tratados em igualdade de condições", afirmou a emissora, acrescentando que o calendário de todas as entrevistas foi informado aos partidos em abril deste ano.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.