Veja quem são os oito empresários bolsonaristas que foram alvo de inquérito

Investigação contra 6 integrantes de grupo de WhatsApp foi arquivada por Moraes; 2 ainda são alvo de diligências

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São Paulo

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou o arquivamento de investigação contra empresários bolsonaristas que participaram de um grupo com mensagens nas quais houve defesa de um golpe caso Lula (PT) ganhasse as eleições presidenciais do ano passado.

A Polícia Federal havia cumprido mandados de busca e apreensão contra os empresários em agosto. As conversas de cunho golpista aconteceram em um grupo de mensagens privadas e foram reveladas pelo site Metrópoles.

O empresário Luciano Hang durante depoimento aos senadores da CPI da Covid, em setembro do ano passado - Pedro Ladeira - 29.set.2021/Folhapress

Moraes determinou o arquivamento das apurações em relação aos empresários José Isaac Peres (Multiplan), Ivan Wrobel (W3 Engenharia), José Koury (Barra World Shopping), André Tissot (Grupo Sierra), Marco Aurélio Raimundo (Mormaii) e Afrânio Bandeira (Coco Bambu).

Ele manteve, no entanto, as apurações sobre Meyer Nigri, da Tecnisa, e Luciano Hang, da Havan. O arquivamento das demais investigações foi antecipado pela CNN Brasil e confirmado pela Folha.

O ministro manteve as investigações sobre Nigri sob o argumento de que há necessidade de continuidade das diligências da Polícia Federal, porque o relatório da corporação encontrou existência de vínculo entre ele e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sobretudo em disseminação de notícias falsas.

Em relação a Luciano Hang, a PF vê necessidade de análise de material apreendido em seu celular.

No período eleitoral e após as diligências da corporação, os empresários divulgaram notas dizendo respeitar a democracia, afirmando não defender a implantação de uma ditadura militar no Brasil.

Conheça os oito empresários bolsonaristas alvo de inquérito:

Luciano Hang (Havan)

O empresário de 59 anos é dono da varejista Havan e proeminente defensor de Bolsonaro desde 2018. Naquele ano, chegou a publicar um vídeo dizendo que havia pesquisas de intenção de voto entre seus funcionários e que, caso o PT vencesse a eleição, a varejista poderia deixar de criar empregos.

Durante o mandato de Bolsonaro, Hang foi investigado pela CPI da Covid por suposto envolvimento no chamado gabinete paralelo, estrutura de aconselhamento do presidente para temas da pandemia fora da estrutura do Ministério da Saúde.

Durante seu depoimento à comissão, reconheceu que fez uma campanha junto a empresários de sua cidade, Brusque (SC), para comprar medicamentos do "kit Covid", que não tinham comprovação científica e que foram doados a hospitais.

Em nota, Hang afirmou que a sua mensagem no grupo de WhatsApp foi a seguinte: "Mais quatro anos de Bolsonaro, mais oito de Tarcísio e aí não terá mais espaço para esses vagabundos".

"Eu nunca falei de STF (Supremo Tribunal Federal) ou de golpe", afirmou. "Eu faço parte de um grupo de 250 empresários, de diversas correntes políticas, e cada um tem o seu ponto de vista. Que eu saiba, no Brasil, ainda não existe crime de pensamento e opinião."

Mais tarde, no Twitter, Hang disse que sua conta no Instagram havia sido derrubada e chamou a ação de censura. "Onde está a democracia e a liberdade de pensamento e de expressão? Tenho certeza que este era o objetivo de toda essa narrativa: tentar me calar. Vivemos momentos sombrios, mas vamos vencer".

José Isaac Peres (Multiplan)

Peres, 82, fundador e acionista da Multiplan, também está no grupo de WhatsApp. De acordo com o site da rede de shoppings, o empreendedor criou a sua primeira empresa, a incorporadora Veplan, aos 22 anos. A Multiplan seria criada em 1975, e seu capital, aberto em 2007.

Ele teria afirmado, segundo reportagem do Metrópoles, que as pesquisas de intenção de voto são manipuladas e que o TSE tem ministros petistas.

O empresário ainda colocou em dúvida a lisura das últimas eleições, repetindo um discurso de Bolsonaro que é refutado por especialistas.

A assessoria da empresa ainda não se manifestou.

Meyer Joseph Nigri (Tecnisa)

Neto de judeus libaneses, formado em engenharia pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), o empresário Meyer Joseph Nigri fundou a Tecnisa em 1977. Hoje, aos 66 anos, está à frente do conselho de administração da empresa, uma das maiores construtoras do país, mas esteve no comando executivo do grupo até 2017.

A Tecnisa já viu melhores momentos. Há pelo menos cinco anos não apresenta um lucro anual. Recentemente, cerca de um terço dos funcionários foram cortados.

Em 2020, Meyer Nigri pegou Covid e passou 160 dias internado. Perdeu 38 quilos. Em entrevista à agência de notícias Broadcast, disse que "houve momentos em que preferia estar indo embora". O próprio executivo afirmou na ocasião ter sido contaminado em um jantar com amigos do presidente Jair Bolsonaro na Embaixada de Israel, em Brasília.

Meyer Nigri conheceu Bolsonaro por intermédio do filho Renato, que se tornou amigo de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente. O empresário diz admirar Bolsonaro, que considera "um cara muito correto, do bem, patriota e bem-intencionado", de acordo com a entrevista à Broadcast.

Tem papel atuante na comunidade judaica. É membro do Conselho Deliberativo da Chevra Kadisha (associação que administra cemitérios israelitas de São Paulo), do Hospital Israelita Albert Einstein e preside o conselho de administração do Espaço K (organização do terceiro setor com foco na comunidade jovem judaica).

Em nota, o empresário diz que respondeu a todas as perguntas do STF e que rechaçou qualquer envolvimento com associação criminosa ou práticas que visam à abdicação do Estado Democrático ou preconizam golpe de Estado.

Procurada, a Tecnisa informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que "é uma empresa apartidária, que defende os valores democráticos e cujos posicionamentos institucionais se restringem à sua atuação empresarial."

Em nota, os advogados de Nigri disseram que o empresário, "mesmo sem ter tido acesso aos autos do inquérito, como era seu direito, concordou em ser ouvido nesta manhã para colaborar com as investigações".

E que ele ainda "respondeu a todas as perguntas formuladas pela autoridade e rechaçou qualquer envolvimento com associação criminosa ou práticas que visam à abdicação do Estado Democrático ou preconizam golpe de Estado. Ao contrário, reafirmou sua firme crença na democracia e seu respeito incondicional aos poderes constituídos da República."

Ivan Wrobel (Construtora W3)

Wrobel é dono da construtora W3, uma empresa de pequeno porte focada em imóveis comerciais e residenciais de alto padrão no Rio de Janeiro. O empresário não tinha aparições na mídia até o grupo de WhatsApp ser revelado.

Ali, Wrobel teria começado a discussão que deu origem às mensagens golpistas quando questionou se o STF teria coragem de fraudar eleições após desfile militar na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro.

O ato havia sido anunciado por Bolsonaro dias antes.

"Nós queremos, pela primeira vez, inovar no Rio de Janeiro. (...) Às 16 horas do dia 7 de Setembro, pela primeira vez, as nossas Forças Armadas e as nossas irmãs, forças auxiliares, estarão desfilando na praia de Copacabana ao lado do nosso povo", disse durante convenção nacional do Republicanos.

A reportagem não conseguiu contatar a empresa ou o empresário.

Marco Aurélio Raymundo (Mormaii)

O empresário Marco Aurélio Raymundo, presidente da Mormaii, é um médico pediatra gaúcho, de Guaíba. Conhecido como Morongo, o empresário de 73 anos fundou a Mormaii em 1976, oferecendo roupas de neoprene a surfistas que encaravam mares gelados, começando pela praia de Garopaba (SC), onde a Mormaii nasceu.

Em entrevista à revista Forbes, afirmou ter um estilo zen, equilibrando o trabalho com surf, pilates e música.

A marca oferece vestuário e acessórios para modalidades de esportes livres, como surf, mergulho e skate, além de moda praia e fitness. Também patrocina, desde 2009, a etapa brasileira do Circuito Mundial de Motocross.

Além da fábrica em Garopaba, a empresa tem franquias espalhadas por 11 estados e no Distrito Federal.

Questionada pela Folha, a defesa de Morongo afirmou que o empresário foi contatado hoje pela Polícia Federal, mas ainda desconhece o inteiro teor do inquérito. De acordo com a defesa, Morongo "se colocou e segue à disposição de todas autoridades para esclarecimentos".

Afrânio Barreira (Grupo Coco Bambu)

O fundador da rede de restaurantes Coco Bambu ficou conhecido no começo da pandemia pela defesa da cloroquina e da posição de Bolsonaro em relação ao isolamento social.

Segundo a Veja São Paulo, ele disse em maio de 2020, por mensagem por WhatsApp, que para parte da população "fica muito fácil defender o lockdown ou isolamento social horizontal". "Afinal, ter um lar confortável, comida na geladeira, e até entretenimento dentro de casa, torna mais fácil", afirmou.

Na época, ainda se defendia entre apoiadores do presidente a possibilidade de um "isolamento vertical", apenas dos grupos de risco.

Após ter feito demissões em massa durante a pandemia, o restaurante planeja novos restaurantes em Brasília, Sorocaba (SP), São José do Rio Preto (SP), Rio de Janeiro, Jundiaí (SP), Campo Grande e no bairro dos Jardins, em São Paulo, segundo entrevista do empresário à Folha.

Ele teria respondido a mensagens golpistas com figurinhas de aplausos.

"Estou absolutamente tranquilo, pois minha única manifestação sobre o assunto foi um 'emoji' sinalizando a leitura da mensagem, sem estar endossando ou concordando com seu teor", afirmou o empresário em nota. "Confio na justiça e vamos provar que sempre fui totalmente favorável à democracia. Nunca defendi, verbalizei, pensei ou escrevi a favor de qualquer movimento antidemocrático ou de golpe. Assim, sou a favor da liberdade, democracia e de um processo eleitoral justo."

Ao Painel S.A., o presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Paulo Solmucci, defendeu o empresário.

"Eu conheço o Afrânio e estive com ele várias vezes. Nunca vi uma fala dele nessa direção. É claro que ele é bolsonarista, ele tem proximidade com o presidente. Mas nessa questão de associar ele a golpe, eu, pessoalmente, não prospero", afirmou.

José Koury (Barra World Shopping)

O empresário é dono do Barra World Shopping, que fica na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e se denomina "o primeiro shopping temático do mundo".

No grupo de WhatsApp, ele teria dito preferir um golpe de Estado do que a volta do PT. O empresário teria afirmado ainda que outros países não deixariam de fazer negócios com o Brasil, como fazem em ditaduras pelo mundo.

Em nota enviada por sua assessoria, Koury disse que sempre foi defensor da democracia e da livre liberdade de expressão e de pensamento. "Aquele que for eleito, seja de que partido for, terá nosso apoio integral", afirmou.

"Os prints exibidos pela mídia foram usados completamente fora do contexto em que foram postados. As pessoas que estão no grupo comentam vários assuntos, emitem opiniões, divergem e discutem sem a menor preocupação de serem mal interpretadas", disse o empresário.

Luiz André Tissot (Grupo Sierra)

Luiz André Tissot, 66, é presidente do grupo gaúcho Sierra Móveis, especializado em mobiliário de luxo. A sede da empresa fica em Gramado, na serra gaúcha, onde se concentraram as buscas da Polícia Federal nesta manhã. O empresário vem de uma família com tradição na manufatura de artigos de madeira na região.

De acordo com o jornal Zero Hora, em 2018, o grupo foi denunciado pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) por tentativa de coação eleitoral, depois de ter enviado carta aos funcionários manifestando preocupação com o rumo da eleição presidencial, além de apontar motivos para o voto em Jair Bolsonaro.

A Justiça acatou a denúncia do MPT e determinou que o grupo enviasse um novo comunicado por escrito aos funcionários informando que eles tinham o direito de escolher livremente os seus candidatos. A mensagem também deveria informar sobre a ilegalidade "de se realizar campanha pró ou contra determinado candidato, coagindo, intimidando, admoestando ou influenciando o voto de seus empregados, com abuso de poder diretivo".

A Sierra nasceu em 1990, como uma importadora de móveis de alto luxo assinados por designers italianos. Hoje a empresa tem cerca de 70 lojas no Brasil, entre unidades próprias e multimarcas, além de unidades em pontos de venda no Chile, Argentina, Panamá, Paraguai, Peru e República Dominicana. De acordo com a empresa, a madeira maciça usada na produção dos seus móveis, portas e janelas é extraída de forma renovável, a partir de reflorestamento.

Procurada pela Folha, a empresa afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que não vai se pronunciar sobre o assunto, assim como Tissot.

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