Descrição de chapéu Financial Times inflação

Economistas se preparam para grandes altas de juros do Fed

Salto na inflação mensal reacendeu temores sobre as políticas do banco central dos EUA para conter preços

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Colby Smith
Washington | Financial Times

Economistas e investidores estão preparados para que os aumentos agressivos das taxas de juros do Federal Reserve continuem além de setembro, depois que um salto inesperado da inflação mensal reavivou os temores sobre as iniciativas do banco central dos Estados Unidos para controlar as pressões persistentes dos preços.

O crescimento do IPC (índice de preços ao consumidor) no país acelerou mais uma vez em agosto, desafiando as expectativas de um declínio mensal de 0,1%, pois a queda acentuada dos preços da energia não conseguiu compensar o aumento dos custos em outros setores. Enquanto isso, a inflação "central", que exclui itens voláteis como energia e alimentos, registrou um aumento alarmante de 0,6% no mês.

"Chamar isso de decepção seria um eufemismo", disse David Rosenberg, economista-chefe e presidente da Rosenberg Research. "Tudo o que nos resta é a visão de que os falcões [do Comitê Federal de Mercado Aberto, Fomc na sigla em inglês] até agora continuam acertando, e eles estão no comando."

Águia no teto do Federal Reserve, em Washington, nos Estados Unidos - Jonathan Ernst - 31.jul.2013/Reuters

Ele acrescentou: "Quaisquer que fossem as probabilidades de recessão antes do IPC, mesmo que esse não seja o cenário básico, essas probabilidades deram um salto significativo".

A maioria dos economistas agora espera que o Fomc implemente um terceiro aumento consecutivo da taxa de 0,75 ponto percentual no mínimo em sua reunião no final deste mês, o que elevaria a taxa de fundos federais para uma faixa de 3% a 3,25%.

Mas na terça-feira (13) os traders de contratos futuros de fundos federais também aumentaram as chances de um aumento total em pontos percentuais em setembro para cerca de 30%, segundo o CME Group.

As ações despencaram em consequência disso, com o S&P 500 caindo 4,3% em seu pior dia de negociação no ano. O Nasdaq Composite caiu mais de 5%. Os rendimentos dos títulos do governo dos EUA de curto prazo, que sobem à medida que os preços caem e são altamente sensíveis a mudanças nas perspectivas de políticas, também subiram.

Mais provável, no entanto, é que o Fed opte por estender sua série de aumentos de 0,75 ponto percentual além deste mês e manter as taxas de juros em um nível que restrinja a atividade econômica por mais tempo.

"Esse número [IPC] é mais sobre dezembro do que sobre qualquer outra coisa", disse Tim Duy, economista-chefe para os EUA na SGH Macro Advisors. "Não estamos vendo resultados suficientes do aperto monetário aparecerem na economia para pensar que o trabalho do Fed está perto de terminar."

Os mercados futuros agora apontam uma alta da taxa básica de juros para mais de 4% até o final do ano, antes de atingir um pico de cerca de 4,3% em março de 2023.

"O resultado mais provável é que tenhamos grandes aumentos por mais tempo", disse Jonathan Millar, ex-economista do Fed agora no Barclays.

No entanto, a principal preocupação dos economistas é que as expectativas de inflação futura possam sair do controle, desencadeando um ciclo de feedback em que os trabalhadores exigem salários mais altos e as empresas são forçadas a continuar aumentando os preços, levando a uma inflação geral mais alta.

Diana Amoa, diretora de investimentos da Kirkoswald, alertou que esse resultado está se tornando mais plausível à medida que a inflação permanece elevada.

Embora o salto nos números da inflação seja um golpe para o Fed, ele justifica a decisão das autoridades de estabelecer um alto padrão para reconsiderar sua abordagem da política monetária –até porque eles já foram enganados por aumentos de preços no passado.

O presidente do Fed, Christopher Waller, prometeu na semana passada não repetir erros anteriores, apontando a queda temporária da inflação nos últimos meses, que se tornou o pior problema para o banco central em quatro décadas.

"As consequências de ser enganado por um abrandamento temporário da inflação podem ser ainda maiores agora se outro erro de avaliação prejudicar a credibilidade do Fed", disse ele. "Então, até que eu veja uma moderação significativa e persistente do aumento dos preços básicos, apoiarei a adoção de medidas adicionais importantes para endurecer a política monetária."

Mais especificamente, Roberto Perli, ex-funcionário do Fed que é chefe de políticas públicas da Piper Sandler, disse que os números mensais da inflação precisarão cair para um nível que represente um ritmo anualizado inferior a 3% de forma sustentada. O núcleo mensal do IPC está atualmente anualizando em 6,4%.

"Não estamos nem remotamente perto do que o Fed quer", disse Perli. "Quanto mais relatórios como esse tivermos, mais distante estará uma possível pausa ou virada."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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