Liz Truss, nova líder do Reino Unido, finaliza plano de subsídio de 100 bilhões de libras à energia

Escala da dívida que o projeto traria preocupa investidores, e libra esterlina despenca em relação ao dólar

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Alistair Smout David Milliken
Londres | Reuters

A nova primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, preparou nesta quarta-feira (7) os detalhes finais de um plano para enfrentar o aumento das contas de energia. A proposta tem o potencial de diminuir a inflação, mas acrescentará mais de 100 bilhões de libras (R$ 605 bilhões) às dívidas do país.

Um dia depois de tomar posse, em seu primeiro dia inteiro como líder britânica após substituir Boris Johnson, Truss disse ao Parlamento que apoiaria empresas e famílias que estão se preparando para uma recessão, prevista para começar ainda neste ano.

A libra esterlina caiu para seu nível mais baixo em relação ao dólar desde 1985, em parte devido às preocupações dos investidores sobre a escala da dívida que a Grã-Bretanha terá que vender para financiar o plano de apoio à energia e os cortes de impostos que a primeira-ministra também prometeu.

A nova primeira-ministra britânica Liz Truss em sua primeira sessão no Parlamento - Jessica Taylor - 7.set.22/Divulgação Parlamento/AFP

Uma fonte familiarizada com a situação disse à agência Reuters que Truss considera congelar as contas de energia. O plano, que poderia custar cerca de 100 bilhões de libras, representaria uma reviravolta em relação ao que defendeu nas etapas iniciais da campanha pela liderança do Partido Conservador, quando rejeitava a concessão de benefícios.

O Deutsche Bank disse que o apoio ao preço da energia e os cortes de impostos prometidos poderão custar 179 bilhões de libras (R$ 1,08 trilhão), cerca de metade do esforço histórico de gastos da Grã-Bretanha na pandemia, que desferiu um golpe nas finanças públicas do país.

Truss descartou as exigências do Partido Trabalhista, de oposição, de que ela financie parte dos gastos aumentando os impostos sobre as empresas de energia. "Sou contra um imposto inesperado. Acredito que é errado desanimar as empresas a investir no Reino Unido." Ela deve detalhar o plano de apoio à energia no Parlamento nesta quinta (8).

Ainda nesta quarta a nova primeira-ministra falou com seu homólogo alemão, Olaf Scholz. Segundo comunicado divulgado pelos britânicos, a conversa tratou de temas "da importância de resiliência e independência no setor de energia" e de proteger países europeus da "chantagem econômica russa".

Mais empréstimos

O novo ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, também em seu primeiro dia completo no cargo, disse que os empréstimos seriam maiores a curto prazo para fornecer apoio a famílias e empresas e financiar os cortes de impostos.

"Precisamos ser decisivos e fazer as coisas de maneira diferente. Isso significa focar incansavelmente em como desbloquear o investimento empresarial e aumentar o tamanho da economia britânica, em vez de redistribuir o que resta", disse ele a líderes empresariais.

A libra atingiu seu nível mais baixo em relação ao dólar desde 1985, a US$ 1,1407, e também caiu quase 1% em relação ao euro. Embora a queda possa aumentar a pressão inflacionária, o plano de congelamento de preços ajudaria a aliviar o aperto do custo de vida para os consumidores.

O economista-chefe do Banco da Inglaterra (BoE na sigla em inglês), Huw Pill, disse que o plano pode desacelerar a inflação –que ultrapassou 10% em julho—, embora seja muito cedo para dizer quais seriam as implicações para a série de aumentos das taxas de juros do banco central.

O BoE previu em agosto que a inflação ultrapassará 13%, e alguns economistas disseram recentemente que poderá chegar a 20% se os preços do gás —impulsionados pela Guerra da Ucrânia— permanecerem altos. Pill também disse que a instituição não permitirá que o aumento dos gastos do governo alimente a demanda na economia a ponto de elevar a inflação.

No entanto, os investidores reduziram suas apostas em uma alta de 75 pontos-base no próximo anúncio de política monetária do BoE, em 15 de setembro, para 60%, de quase 80% na quarta. Os rendimentos dos títulos do governo britânico de dois anos também caíram.

Kwarteng se reuniu com autoridades da instituição e disse que "a independência é uma pedra angular" de como a gestão Truss vai encarar a economia —o que parece ter como objetivo tranquilizar os investidores.

No início da campanha pela liderança do Partido Conservador, Truss disse que o governo deveria definir uma "clara direção de viagem" para a política monetária, embora posteriormente tenha adotado um tom menos intervencionista. Kwarteng disse que ele e Bailey se reunirão regularmente, no início duas vezes por semana, para coordenar o apoio econômico.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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