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BC mantém Selic em 13,75% pela segunda vez seguida

Ciclo de alta de juros foi interrompido no encontro anterior, em setembro

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Brasília

A quatro dias do segundo turno das eleições, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve nesta quarta-feira (26) a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano.

Esta é a segunda reunião seguida em que não há alteração no patamar da Selic. No encontro passado, em setembro, o colegiado do BC interrompeu o seu mais intenso choque de juros desde a adoção do regime de metas para inflação, em 1999.

A autoridade monetária reforçou a mensagem de que se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período "suficientemente prolongado" será capaz de assegurar o controle da inflação.

O BC também repetiu o aviso de que poderá ajustar os passos futuros e que "não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado".

Pessoas andam em frente a sede do Banco Central, em Brasília - Adriano Machado - 22.mar.2022/Reuters

Ao longo do ciclo de alta de juros, a taxa básica saiu de seu piso histórico (2%) em março de 2021 e subiu 11,75 pontos percentuais até agosto deste ano. Foram 12 aumentos consecutivos no período.

A decisão do Copom veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro de que a Selic ficaria inalterada em 13,75%. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que essa era a expectativa unânime entre os economistas consultados.

Desde a última reunião, as projeções de inflação seguiram a tendência de queda para este ano e para o próximo, enquanto a previsão para 2024 se manteve estável em 3,5% –acima do centro da meta (3%).

Os riscos elevados de recessão nas principais economias globais e o rumo da política fiscal, a depender do resultado da eleição, pressionam as expectativas de longo prazo.

Quanto ao cenário externo, o BC ressaltou as revisões negativas para o crescimento global e aumento da volatilidade nos ativos financeiros. "O comitê notou também a maior sensibilidade dos mercados a fundamentos fiscais, inclusive em países avançados", disse. Segundo o comunicado, esses fatores inspiram "maior atenção para países emergentes".

Para Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco Alfa, o BC fez em sua análise do ambiente global uma referência implícita ao imbróglio no Reino Unido, com a renúncia de Liz Truss ao cargo de primeira-ministra, e sua política fiscal "heterodoxa".

O gatilho para a saída da sucessora de Boris Johnson foi um ousado programa econômico de corte de impostos e novos auxílios, para combater a alta no custo de vida e a crise de energia desencadeadas pela Guerra da Ucrânia.

"Ele [BC] dá um recado de que esse tipo de política expansionista, que acaba aumentando o déficit público, tem consequências. Achei interessante que, no final, ele não fala no Brasil, mas fala em países emergentes. Então, é mais um recado na parte fiscal que ele sempre dá ao longo do comunicado", afirmou.

Em relação à atividade econômica brasileira, o BC observou um ritmo de crescimento mais moderado.

O que chamou atenção de Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, foi o fato de o BC não ter considerado a trajetória mais benigna da inflação desde o último encontro do colegiado.

"O que notei foi a ausência do reconhecimento de que a inflação começa a dar bons sinais de melhora", disse. "Vimos nas medidas de núcleos das últimas leituras, assim como a inflação de serviços, um início de uma desaceleração que é muito importante, já mostra algum efeito da política monetária."

De acordo com o último boletim Focus, divulgado na segunda-feira (24), a estimativa do mercado para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) recuou para 5,6% em 2022 e caiu para 4,94% em 2023.

As revisões para baixo foram calculadas depois de o país registrar três meses seguidos de deflação (queda de preços), de julho a setembro, puxada sobretudo pelos cortes de impostos sobre combustíveis e energia elétrica.

No acumulado em 12 meses até setembro, o IPCA ficou em 7,17%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Para os próximos resultados mensais, não são esperadas novas deflações, como sinalizou a prévia do índice de outubro.

No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação se mantiveram em 5,8% para este ano e subiram de 4,6% para 4,8% para 2023. Para 2024, o colegiado elevou marginalmente a previsão de 2,8% para 2,9% (ainda abaixo do centro da meta, de 3%).

As expectativas continuam acima das metas perseguidas pelo BC –fixadas pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3,5% e 3,25% para 2022 e 2023, respectivamente, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

No balanço de riscos para a inflação, entre as condições que puxariam os preços para cima, o BC destacou mais uma vez a persistência das pressões inflacionárias globais, a incerteza sobre a situação fiscal do país e a pressão vinda do mercado de trabalho.

Na direção oposta, indicou a queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local, uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a prevista e a manutenção dos cortes de impostos projetados para serem revertidos em 2023.

Leal, do banco Alfa, considera que a autoridade monetária foi "bastante conservadora" em suas expectativas de inflação. Para o economista, há espaço para o índice ser mais baixo do que o projetado para 2023, visto que ambos os candidatos à Presidência –Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL)– já sinalizaram a intenção de manter desonerações tributárias.

Para Vitória, do Inter, a questão fiscal é a que traz mais incerteza devido à potencial mudança do arcabouço fiscal para 2023. "No balanço de riscos, o Copom faz avaliação correta de que essa mudança de arcabouço fiscal pode trazer inflação, sim, de volta via estímulo da demanda e pode trazer inclusive via aumento de prêmio de risco, com potencial desvalorização cambial", disse.

"Independentemente do resultado da eleição, existem potenciais gastos para 2023 que não estão esclarecidos como serão acomodados no Orçamento", acrescentou.

Dada a defasagem dos efeitos da política monetária sobre a economia, o ano de 2024 vai ganhando mais peso sobre a decisão do colegiado quanto aos juros à medida que o calendário avança. O Copom volta a se reunir nos dias 6 e 7 de dezembro para calibrar o patamar da Selic no último encontro do ano.

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