Liderança na produção de microchips é um escudo para Taiwan

Fornecimento de semicondutores é crítico para o comércio, a guerra e a paz

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Jeff Sommer
Nova York | The New York Times

Não é só por razões geopolíticas que Taiwan continua importante para os Estados Unidos. A ilha reivindicada pelos chineses também é protegida por algo muito mais sutil –seu papel absolutamente central nos mercados mundiais.

Mais especificamente, Taiwan é um colosso no mercado global de semicondutores, o cérebro da eletrônica moderna. Seu domínio da fabricação de microchips é tão essencial para a economia do século 21 quanto o petróleo era há cem anos.

Taiwan produz a maioria dos chips de silício de alta tecnologia do mundo –lascas do tamanho de uma unha, nas quais estão embutidos bilhões de transistores microscópicos.

Os melhores chips são feitos na Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, ou TSMC, que talvez seja a empresa mais importante da qual a maioria das pessoas nos Estados Unidos nunca ouviu falar.

Dois chips são apresentados no Instituto de Pesquisas de Semicondutores de Taiwan, em Hsinchu - Ann Wang/Reuters

A Taiwan Semiconductor é a empresa mais valiosa da Ásia e uma das 12 mais valiosas do mundo, com uma capitalização de mercado superior a US$ 400 bilhões (R$ 2.047 trilhões).

Se você investe em ações internacionais por meio de um fundo mútuo amplo e diversificado ou fundo negociado em Bolsa, provavelmente possui uma parte dela.

Tem sido um investimento esplêndido. Ao longo dos 20 anos até 7 de setembro, retornou 18,6% ao ano, incluindo dividendos, segundo dados da FactSet. Suplantou o S&P 500, com um retorno anual de 10,3%, e a Intel, maior fabricante de chips americana, com 6,7%.

Taiwan Semiconductor não é um nome conhecido porque não vende seus produtos diretamente aos consumidores. Mas seus próprios clientes certamente são. Os microchips que ela fabrica para a Apple são o núcleo de cada iPhone vendido.

O iPhone 13 mini no meu bolso, assim como os novos modelos do iPhone 14 apresentados recentemente, são construídos em torno de chips projetados pela Apple na Califórnia, produzidos pela Taiwan Semiconductor em Hsinchu e enviados para montagem na China continental ou talvez, atualmente, em outro país.

As origens da história de sucesso de Taiwan estão na década de 1980. O governo de Taiwan queria desenvolver um Vale do Silício local, tinha terras baratas, capital disponível e uma força de trabalho altamente qualificada, disposta a trabalhar por salários muito mais baixos do que eram pagos por empresas nos Estados Unidos.

Mas não tinha a experiência até trazer Morris Chang, um veterano de tecnologia dos EUA nascido na China, que percebeu que fabricar chips, e não projetá-los, seria o forte de Taiwan.

Chang fundou a Taiwan Semiconductor, e o resto é história.

A China fez da produção de seus próprios chips de silício de última geração uma prioridade nacional, mas não conseguiu alcançar Taiwan.

O governo Biden pretende garantir que isso não aconteça, impondo restrições à exportação para a China dos chips mais avançados –e de equipamentos para fabricação de chips. E com US$ 50 bilhões (R$ 255 bilhões) da nova Lei de Chips e Ciência o governo está tentando trazer parte da fabricação dos melhores chips de volta para os Estados Unidos.

Como diz David Leonhardt, "a categoria mais avançada de semicondutores produzidos em massa –usados em smartphones, tecnologia militar e muito mais– é conhecida como 5 nm. Uma única empresa em Taiwan, chamada TSMC, produz cerca de 90% deles. As fábricas dos EUA não produzem nada".

As estruturas gravadas nesses microchips são muito pequenas. "Nm" é a abreviação de nanômetro. Leia isto devagar: um nanômetro é um milionésimo de milímetro.

O coronavírus que começou a se espalhar pelo planeta em 2020 tinha apenas cerca de 100 nanômetros de diâmetro. No mesmo ano, a Taiwan Semiconductor estava gravando formas com menos da metade desse tamanho em dezenas de milhões de chips para a Apple.

Além disso, os sistemas de armas modernos de todas as descrições e a infraestrutura de telecomunicações do mundo, além de aplicações em inteligência artificial, veículos autônomos e muito mais, dependem desses chips extremamente complexos.

Como Dale C. Copeland, professor de relações internacionais da Universidade da Virgínia, escreveu em Foreign Affairs: "A China hoje tem capacidade de produzir chips com transistores de tamanho inferior a 15 e até 10 nanômetros. Mas, para permanecer na vanguarda dos desenvolvimentos tecnológicos", a China precisa de chips "medindo menos de 7 ou de 5 nanômetros, que apenas Taiwan pode produzir em massa com alto nível de qualidade".

Os problemas centrais na relação EUA-China nunca foram resolvidos. Desde o Comunicado de Xangai de fevereiro de 1972, que reabriu as relações diplomáticas, os dois lados concordaram que existe apenas "uma China".

Os líderes chineses deixaram claro que "a questão de Taiwan é a questão crucial que obstrui a normalização das relações entre a China e os Estados Unidos" e, 50 anos depois, continua sendo um enorme problema.

A China preferiria alcançar a reunificação pacificamente, mas não descarta uma solução militar, se for o caso. Os Estados Unidos continuam comprometidos em proteger Taiwan, mas não podem impedir a China de degradar ou destruir as capacidades de fabricação de semicondutores da ilha.

A extraordinária importância da indústria de semicondutores de Taiwan no comércio mundial pode ser a única coisa capaz de fornecer essa proteção.

No momento, porém, quase todo o mundo depende do poder do escudo de silício.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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