L'Oréal abandona 'extra clara' e 'morena mais' em nomes de protetor solar

Multinacional francesa adota escala numérica para indicar cores e evitar expressões que pudessem ser vistas como racistas

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São Paulo

A multinacional de cosméticos e maquiagens L'Oréal decidiu abolir definições como "extra clara", "clara", "morena" e "morena mais" nos seus protetores solares, nomes que costumam ter conotação racista. Outras nomenclaturas que deixam de ser usadas são "pele clara a média clara" e "pele média a negra".

Os produtos passam a ostentar uma escala numérica de cores, que vão de 1.0 a 6.0. Além disso, a empresa acaba de desenvolver 11 novas fórmulas de proteção solar com cor, que ampliam de 32 para 43 a oferta de tons para a pele brasileira.

A novidade chega às linhas Anthelios (marca La Roche-Posay), Solar Expertise (L’Oréal Paris) e Capital Soleil (Vichy), todas elas marcas do grupo L’Oréal –multinacional francesa que faturou 18,3 bilhões de euros (R$ 94 bilhões) no primeiro semestre deste ano, alta de 21% na comparação anual. No Brasil, as vendas avançaram 15% no período.

Uma campanha com as atrizes Taís Araújo e Larissa Manoela, que deve estrear em novembro, vai anunciar as novidades para a linha Solar Expertise. Os investimentos não são revelados.

quatro caixas de protetor solar uma ao lado da outra, em uma escala de cores, da mais clara à mais escura
Protetor solar da linha Anthelios com a nova nomenclatura da L'Oréal, baseada em uma escala numérica. - Eduardo Anizelli/ Folhapress

"Me causava certo desconforto, como consumidora negra, ver a denominação por tons de pele", disse à Folha a cientista Lívia Ferreira, do Laboratório Proteção Solar da L'Oréal Brasil e líder da rede de afinidades AfroSou, que está à frente do projeto da nova nomenclatura dos protetores com cor.

A AfroSou é uma das quatro redes de afinidades criadas entre colaboradores da L'Oréal Brasil (as demais são gênero, pessoas com deficiência e LGBTQIA+). Fundada em 2020, hoje conta com mais de cem integrantes e participa ativamente das discussões de negócio e marketing por meio dos conselhos consultivos –grupos de colaboradores que trazem a perspectiva dos consumidores à companhia.

"Com os lançamentos, passamos a atender melhor a gama de cor de pele das brasileiras", diz Humberto Martins, diretor da divisão Cosmetic da L'Oréal Brasil, ressaltando que o objetivo é representar a sociedade local, na qual 56% se autodeclaram negros ou pardos.

Para auxiliar a consumidora na hora da compra, foi criada uma escala indicativa na embalagem para sinalizar a tonalidade que o produto abrange e qual o nível de cobertura da fórmula. Os preços variam entre R$ 39,90 (Solar Expertise Anti Oleosidade, da L’Oréal Paris) e R$ 99,90 (Capital Soleil UV-Age Daily Fluido SPF50+, da Vichy).

mulher negra, de óculos e jaleco branco, ao lado de homem branco, de óculos e jaleco branco
Lívia Ferreira, cientista do Laboratório Proteção Solar e líder da rede AfroSou da L'Oréal Brasil, e Humberto Martins, diretor da divisão Cosmetic da L'Oréal Brasil. - Eduardo Anizelli/ Folhapress

"Existe um grande mito em torno da pele negra, de que ela seria mais resistente ao sol e, portanto, dispensaria o uso de proteção solar", diz Lívia. "Na verdade, na pele branca os efeitos da radiação ultravioleta são muito mais visíveis, esta é a diferença". Além disso, segundo Lívia, fototipos mais escuros também sofrem com manchas e fotoenvelhecimento sem a proteção adequada.

"O produto com FPS alto e que controla a oleosidade pode deixar a pele esbranquiçada –daí o desafio de fabricar um produto com cor que atendesse aos diferentes tons de pele da brasileira", afirma Martins.

A motivação para a nomenclatura mais inclusiva surgiu de estudo feito pelo Estúdio Nina (agência especializada em consumidores negros), que ouviu dermatologistas, maquiadores, consumidores e outros especialistas negros, em parceria com a AfroSou. A pesquisa procurou entender como eram percebidos os antigos nomes adotados nos protetores com cor e quais as propostas para uma nova nomenclatura.

Brasil é o 3º maior mercado mundial em protetor solar, atrás de China e EUA

A escala de cores, por sinal, já é usada nas maquiagens da L'Oréal Brasil. O país é o quarto maior mercado de beleza do mundo e onde está situado um dos sete centros globais de pesquisa e inovação da empresa.

Entre maquiagens, cosméticos e produtos de beleza, o grupo francês trabalha com 21 marcas no país, entre elas, L’Oréal Paris, Maybelline, Garnier, Niely, Colorama, Kérastase, L'Oréal Professionnel, RedKen, La Roche-Posay, Vichy e SkinCeuticals.

A L'Oréal é uma das líderes no mercado de protetores solar no Brasil, dominando com folga o segmento de protetores com cor.

De acordo com a consultoria Euromonitor, o Brasil é o terceiro maior mercado mundial de protetores solares (com ou sem cor), só atrás de China e Estados Unidos. A diferença de tamanho dois dois primeiros para o Brasil, no entanto, é grande: em dólar, as vendas de protetores solares no ano passado somaram US$ 2,4 bilhões (R$ 12,3 bilhões) na China, US$ 2,1 bilhões (R$ 10,8 bilhões) nos Estados Unidos e US$ 641 milhões (R$ 3,3 bilhões) no Brasil.

No ano passado, as marcas que mais venderam no Brasil foram Sundown (da Johnson & Johnson), com 20,3% de participação; Nivea Sun (da Beiersdorf), com 14,3%, e a La Roche-Posay (L'Oréal), com 13,7%.

A pele negra tem sido foco da atenção das multinacionais de beleza, como resposta às críticas por tratamentos que respeitem e valorizem os diferentes biotipos. Foi assim que a multinacional alemã de beleza Beiersdorf, dona da Nivea, lançou, em agosto, a linha Beleza Radiante, de hidratantes voltados à pele negra.

Segundo a Nivea, a linha foi desenvolvida a partir de pesquisas feitas com mais de 500 mulheres negras em diferentes países, como Brasil, África do Sul e Nigéria. Algumas das principais queixas deste público era pele seca, incômodo com estrias e tom de pele irregular.

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