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Milhares saem às ruas de Paris para protestar contra a alta do custo de vida

Vários sindicatos franceses anunciaram apoio a um dia nacional de greve na terça-feira (18)

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Cerca de 140 mil pessoas, segundo os organizadores, saíram às ruas de Paris neste domingo (16) para protestar contra o aumento dos preços, depois de semanas de paralisações por salários mais altos nas refinarias de petróleo estimularem pedidos por uma greve geral. A marcha foi organizada pela aliança de esquerda do Parlamento francês, a Nupes.

"Já conseguimos o que queríamos. É apenas o começo", disse a deputada da França Insubmissa, Aurélie Trouvé, líder da marcha.

Manifestante segura cartaz com os dizeres "Todos os preços aumentam, menos a correção dos nossos salários", em Paris - Christophe ARCHAMBAULT -16.out.22/AFP)

O líder do partido esquerdista França Insubmissa, Jean-Luc Melenchon, marchou ao lado da vencedora do Prêmio Nobel de Literatura deste ano, Annie Ernaux. Ele convocou uma greve geral para terça-feira (18).

"Você vai viver uma semana como nenhuma outra, nós é que começamos com esta marcha", disse ele à multidão.

Melenchon seguiu os passos de quatro sindicatos –mas não o maior da França, o moderado CFDT– que convocaram greves e protestos na terça-feira por aumentos salariais.

Os quatro sindicatos também convocaram os protestos para ajudar a proteger o direito à greve, depois que o governo ordenou a requisição de alguns trabalhadores das refinarias de petróleo, um movimento visto pelos sindicatos como uma violação de seus direitos constitucionais.

O Ministro do Orçamento, Gabriel Attal, disse que a coalizão de esquerda estava tentando explorar a situação atual, marcada pelas greves em andamento nas usinas nucleares da EDF e nas refinarias de petróleo francesas.

"A marcha de hoje é uma marcha de apoiadores que querem bloquear o país", disse ele na estação de rádio francesa Europe 1.

O protesto acontece dois dias depois de o gigante francês de energia anunciar um acordo de aumento salarial (7%, mais bônus) com os dois maiores sindicatos que representam a força de trabalho de suas quatro refinarias no país. O sindicato CGT se recusou a aceitá-lo, reivindicando um aumento de 10%, e seus membros mantêm os piquetes.

"Obviamente, há um direito de greve, mas, em algum momento, o país tem que poder funcionar", afirmou Attal, em entrevista a diferentes veículos de comunicação franceses.

Nesta semana, a greve foi suspensa nas duas refinarias do grupo Esso-ExxonMobil na França, graças a um acordo salarial firmado na terça-feira (11) e sob pressão do Executivo, decidido a assumir o controle das centrais para que a atividade possa ser retomada.

Pelo menos um terço dos postos de gasolina do país enfrentam problemas de abastecimento, especialmente nos arredores de Paris e no norte, o que implica horas de espera para reabastecer. Muitas empresas reduziram viagens e entregas, e até mesmo os veículos de serviços de emergência estão sendo afetados.

Os enormes lucros obtidos pelas empresas de energia, devido aos preços recordes dos combustíveis, despertam simpatia pelas demandas por aumentos salariais entre os trabalhadores. De acordo com uma pesquisa do BVA publicada na sexta-feira, porém, 37% dos franceses apoiam as greves.

Para Christopher Savidan, 47 anos, desempregado há cinco anos e apoiador da França Insubmissa, "é hora de acordar". "As pessoas no topo estão fora de contato [com o povo]. Pagamos impostos, não sabemos por quê, tudo está indo por água abaixo. A lógica é que todas as lutas devem se aglomerar", afirmou.

"A mensagem é simples: queremos uma melhor partilha da riqueza", disse Olivier Faure, líder do Partido Socialista (PS), durante esta "reunião", dirigindo-se aos manifestantes fazendo o gesto de um V da vitória.

No meio das bandeiras, toda a esquerda francesa esteve representada, desde os deputados da França Insubmissa, Manuel Bompard e Clémentine Autain, até os ecologistas Sandrine Rousseau e Eric Piolle, incluindo Philippe Poutou.

Coletes amarelos

Muitos "coletes amarelos", mas também muitos aposentados eram visíveis em uma marcha colorida e pontuada por canções, e até mesmo pela trilha de Star Wars.

"Os deputados eleitos devem colocar-se a serviço das pessoas que têm fome", pleiteia Jerome Rodrigues, figura emblemática dos "coletes amarelos". A procissão avançou da praça de Nation até a Bastilha, na capital francesa.

Algumas latas de gás lacrimogêneo foram jogadas pelos policiais nas laterais do desfile no meio da tarde, depois que projéteis foram lançados em sua direção. A polícia realizou várias detenções. Uma filial do banco Société Générale também foi saqueada por homens mascarados vestidos de preto, perto do centro.

A polícia francesa da CRS (Compagnie Republicaines de Securite) usa spray contra manifestantes durante a manifestação convocada pela coalizão de esquerda francesa NUPES (New People's Ecologic and Social Union) - Christophe ARCHAMBAULT/AFP

A polícia tinha "temores reais" sobre "a chegada de pessoas violentas como os blac blocs, "os coletes ultra-amarelos que gostariam de interromper a manifestação", segundo agentes de segurança.

"Viva a onda social, o povo está sedento de justiça", dizia um cartaz perto da praça da Nation. Outro avisava: "A aposentadoria é boa, a ofensiva é melhor".

"As lutas estão se aglomerando"

"É bom que tenhamos uma grande força popular diante da política de abuso social e ecológico deste governo", disse Mathilde Panot, a líder dos deputados da França Insubmissa.

A manifestação foi convocada pelos partidos de esquerda –França Insubmissa, apoiada pelos Verdes, Socialistas e Comunistas– e apoiada por centenas de associações que procuram manter a tensão criada pela greve das refinarias da TotalEnergies.

"Você pode ver que este movimento está começando a se espalhar", disse a deputada Mathilde Panot,à rádio France Info: "Você pode vê-lo no setor nuclear. Os caminhoneiros anunciaram uma greve na terça-feira e muitos outros setores estão começando a participar", acrescentou ela.

Reforma da Previdência

O principal objetivo da marcha é chamar a atenção para a difícil situação dos trabalhadores que lutam contra o aumento do custo de vida - a inflação foi de 5,6% em setembro - e criticar a falta de ação política contra a mudança climática.

A magnitude dos protestos e das greves nos próximos meses pode influenciar a capacidade do governo de implementar sua polêmica reforma previdenciária.

Emmanuel Macron, que foi reeleito em abril, quer aumentar a idade para a aposentadoria, hoje de 62 anos, para equiparar a França com outros países europeus. Sindicatos e partidos de esquerda são frontalmente contrários a essa mudança.

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