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Pais investem mais em previdência para os filhos

Além da formação de uma reserva financeira, educar as crianças sobre as finanças também está entre as prioridades na criação dos pequenos

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São Paulo

Assegurar aos filhos uma situação financeira confortável costuma ser uma das principais preocupações de pais e mães na hora de pensar sobre os cuidados necessários na criação dos herdeiros.

Considerado o horizonte de longo prazo para a acumulação de uma reserva até que seja alcançado determinado objetivo, como o pagamento da faculdade ou de uma viagem de intercâmbio, os fundos de previdência privada costumam aparecer como uma das principais recomendações de especialistas no momento de fazer a seleção dos investimentos destinados para os filhos.

O regime de alíquotas regressivas de acordo com o tempo, com um percentual que cai até 10% de incidência de IR (Imposto de Renda) após um período de dez anos, ante até 15% em ações ou renda fixa, e o fato de não incidir a cobrança do "come-cotas" (recolhimento tributário antecipado semestralmente sobre o rendimento de fundos de renda fixa, multimercados e cambiais) são apontados por Victor Bernardes, diretor de vida e previdência da SulAmérica, entre os benefícios oferecidos pela previdência privada em relação a outras modalidades de investimento do mercado.

homem de camisa verde clara agachado com uma criança de colo e um menino e uma menina ao seu lado
Celson Placido, diretor de investimentos da Warren, ao lado dos filhos Eduardo e Sofia, gêmeos de 11 anos e Leonardo, de 2 anos - Dani Paiva

O apelo, que inclui também benefícios na hora da sucessão, tem se refletido em maiores aportes na categoria. Dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) mostram que os planos que têm os menores de 18 anos como beneficiários receberam R$ 1,75 bilhão em aportes de janeiro a agosto deste ano, um crescimento de quase 30% em comparação ao mesmo período do ano passado.

"O tempo é um fator preponderante para gerar valor ao cliente de forma exponencial", afirma Henrique Diniz, diretor de produtos de previdência da Icatu.

Simulações realizadas pela Icatu Seguros a pedido da Folha indicam que, com aportes mensais a partir de R$ 320, é possível alcançar uma reserva de R$ 150 mil em um prazo de 18 anos para bancar, por exemplo, a faculdade do filho.

Se o investimento começar quando a criança tiver 3 anos, o valor do aporte mensal sobe para R$ 441, e para R$ 827, se tiver 8 anos.

A estimativa da seguradora adotou como premissa uma taxa média de rentabilidade real (descontada a inflação) de 8% ao ano no intervalo e não considera o Imposto de Renda.

Diniz afirma ainda que a categoria da previdência também conta com a vantagem de permitir a portabilidade do valor aplicado entre os diferentes tipos de fundo sem a cobrança de imposto, dando ao poupador a liberdade para migrar as aplicações de lugar se não estiver contente com os resultados obtidos, ou a depender da fase da vida em que se encontrar, sem ter de resgatar a aplicação, quando há a cobrança de IR, para reinvestir em outra alternativa.

Superintendente de produtos da Brasilprev, Sandro Bonfim acrescenta que o mercado de previdência privada no país passou a adotar nos últimos anos um modelo conhecido como "ciclo de vida".

Por meio dele, o cliente determina o ano no qual irá precisar do valor investido para atender a um objetivo para o filho ou para sua própria aposentadoria, e, conforme a data limite estabelecida se aproxima, automaticamente os gestores responsáveis pelo fundo reduzem a exposição ao risco da carteira.

Dessa forma, é possível evitar que o investimento esteja em classes de maior volatilidade quando estiver faltando pouco tempo para o atingimento do prazo determinado. Por outro lado, enquanto ainda faltar bastante tempo até a data selecionada para o resgate, o gestor poderá alocar os recursos em mercados de maior risco e retorno, uma vez que a aplicação terá tempo para se recuperar de eventuais perdas sofridas, afirma Bonfim.

As taxas de administração são o principal custo dos fundos, que costumavam variar dentro de uma faixa entre 0,5% e 2% ao ano, a depender da estratégia escolhida.

"O produto destinado para os filhos tem um apelo emocional que nenhum outro produto tem", afirma o superintendente da Brasilprev. "É comum ouvirmos de clientes que eles não têm mais condições de investir para eles próprios, mas que o que sobra de dinheiro eles investem para os filhos, pelo sonho de vê-los na faculdade."

Especialistas defendem trabalhar a educação financeira com os jovens para que se tornem adultos responsáveis financeiramente

Além da formação de uma reserva financeira destinada aos filhos, trabalhar a educação financeira desde pequeno dentro de casa, para que as crianças cresçam já tendo uma boa noção a respeito da importância de saber lidar com o dinheiro, é um aspecto considerado fundamental por especialistas para que, no futuro, eles se tornem adultos bem organizados financeiramente, evitando cair em armadilhas como os juros altos e o endividamento.

Diretor de investimentos da plataforma de fundos Warren, Celson Placido diz que busca incutir de maneira prática conceitos importantes sobre as finanças para os gêmeos Eduardo e Sofia, de 11 anos.

Uma das formas buscadas para isso é por meio das idas aos supermercados, em que o pai entrega aos filhos uma quantidade de dinheiro para que eles pesquisem e comprem o item que desejar.

Placido afirma que, com o passar do tempo, ele passou a entregar um valor menor para que os gêmeos pudessem fazer as compras no mercado, de modo a refletir o impacto corrosivo da inflação no poder de compra.

E, mesmo assim, diz o orgulhoso pai, as crianças conseguiram comprar até mais itens do que quando tinham mais dinheiro à disposição.

"Eles passaram a ficar mais atentos aos preços, sobre quanto vale cada produto, substituíam um mais caro por um mais em conta, compravam itens em promoção, e hoje até já questionam se à vista tem desconto ou em quantas vezes podem parcelar no cartão de crédito", afirma o diretor da Warren, acrescentando que guloseimas como biscoitos e chocolates costumam estar entre os itens preferidos da dupla.

Placido afirma ainda que, além do trabalho de educação financeira que faz com os filhos, também têm investimentos em planos de previdência e seguro de vida, especialmente como uma forma de precaução contra algum tipo de imprevisto. São opções que, em caso de morte do titular, podem ser facilmente acessadas pelos herdeiros, sem precisar passar por um processo de inventário.

Economista e educadora financeira, Juliana Barbosa afirma que também procura ensinar aos filhos Lucas, 10, e Davi, 4, sobre conceitos relacionados às finanças e sobre a importância da organização financeira para que eles se desenvolvam com uma boa noção de como lidar com o dinheiro.

"É importante mostrarmos para os filhos desde pequenos que o dinheiro não nasce em árvore e que é preciso trabalhar e se dedicar para administrar bem esses recursos", afirma a especialista.

Com o filho mais novo, Juliana diz que o clássico cofrinho no formato de um porco, com o depósito de moedas para ir aos poucos formando uma reserva financeira, é a estratégia adotada para que ele tenha os primeiros contatos com o dinheiro e comece a ter uma noção sobre a importância de economizar.

"Mostro para ele que o cofrinho serve para guardar as moedas para que, esperando o tempo certo, ele possa realizar seus sonhos, como comprar uma bola ou um brinquedo."

Mulher de cabelos escuros e blusa amarela sentada em sofá com dois meninos de camiseta e bermuda segurando cofrinhos no formato de porco
Juliana Barbosa, economista e educadora financeira, com os filhos Lucas, de 10 anos, e Davi, de 4 anos - Arquivo pessoal

O mais velho, por sua vez, já passou da fase do cofrinho e conta com uma conta digital aberta em 2020 no Banco Inter, com um cartão de débito com o qual faz suas próprias compras.

Com um pouco mais de idade, Lucas já vai sendo ensinado sobre conceitos importantes como os juros compostos, o rendimento de uma aplicação no banco e os perigos do endividamento, e já tem até uma aplicação em um CDB feito por meio da plataforma de investimentos da XP.

"Vivemos em uma sociedade muito imediatista e consumista, e, quando as crianças são ensinadas desde cedo sobre a importância da organização financeira, elas serão adultos que não vão comprar por impulso e não vão acumular dívidas que não conseguem pagar", diz Juliana.

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