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Bolsa cai 1,7% e juros futuros sobem com Mercadante confirmado no BNDES

Após registrar queda de mais de 1%, dólar fecha estável, a R$ 5,31

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São Paulo

A confirmação pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do nome de Aloizio Mercadante para o comando do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) fez a Bolsa de Valores brasileira inverter sua tendência e fechar com queda de quase 2% no pregão desta terça-feira (13).

O mercado de ações vinha operando em alta no início da sessão, animado com os dados de inflação nos Estados Unidos, que vieram abaixo do esperado: se a inflação arrefece, os EUA podem moderar a alta dos juros para segurá-la, o que torna aplicações de risco comparativamente mais atrativas.

O índice Ibovespa chegou a subir cerca de 1% durante o dia, mas encerrou o pregão em queda de 1,71%, aos 103.539 pontos, no menor patamar de fechamento desde o início de agosto. Com a queda nesta terça, o Ibovespa passa a acumular desvalorização de 1,2% no ano.

No mercado de juros futuros, que embute as expectativas dos investidores sobre a condução da política monetária pelo BC (Banco Central), as taxas registraram forte alta. O título com vencimento em janeiro de 2024 avançou de 13,97% para 14,06%, enquanto o contrato para 2025 passou de 13,41% para 13,65%.

Notas de cem dólares
Notas de cem dólares - Lee Jae-Won - 7.fev.2011/Reuters

Os juros futuros de 1 ano (Swap pré x DI de 360 dias) chegaram a 14,08% (ontem foram a 14,01%). Na última sexta, estavam em 13,85%. Antes do chamado Lula Day, em que Lula se queixou da preocupação do mercado com a responsabilidade fiscal após a eleição, estavam em 13,26.

Já o dólar, que registrou queda acima de 1% frente ao real no período da tarde, passou a operar perto da estabilidade após a confirmação de Mercadante no BNDES, fechando com leve queda de 0,03%, a R$ 5,3100 para venda.

A indicação de nomes de políticos petistas vistos como mais favoráveis à expansão de gastos públicos para comandar áreas estratégicas da economia tem causado descontentamento entre investidores —na sexta, Lula já havia confirmado Fernando Haddad como seu ministro da Fazenda.

"Aloizio Mercadante, vi algumas críticas sobre você, sobre boatos que você vai ser presidente do BNDES. Eu quero dizer para vocês que não é mais boato: o Aloizio Mercadante será presidente", disse Lula nesta terça.

O presidente também declarou que "vai acabar a privatização nesse país".

Na segunda-feira (12), a Bolsa também havia sofrido forte baixa por causa da perspectiva de que a indicação de Mercadante implique uma linha mais intervencionista na economia, o que pode indicar mais gastos e menos controle da dívida.

Notícias de que o governo poderia modificar a Lei das Estatais para permitir nomeações políticas, como a de Aloizio Mercadante para o BNDES e do senador petista Jean Paul Prates para a Petrobras, estavam no centro das preocupações dos investidores, apesar de negativas da nova equipe.

A principal preocupação era com a um "perfil ideológico direcionado à proteção da industrialização, com utilização intensiva de recursos públicos para investimentos dentro das estruturas das empresas públicas", comentou Igor Cavaca, chefe de gestão de investimentos da Warren.

Durante a campanha, Lula já defendeu um papel mais ativo para o BNDES durante seu novo mandato. Na semana passada, o próprio Mercadante defendeu que o banco precisa voltar a atuar fortemente no processo de reindustrialização.

Nesta segunda, porém, durante encontro com o presidente da Febraban (federação dos bancos), Isaac Sidney, o petista teria afirmado que o futuro governo não repetirá uma política de subsídios.

Mercadante afirmou que desconhece "qualquer iniciativa" por parte do governo eleito de alteração na Lei das Estatais —sua equipe argumenta que ele apenas colaborou com o programa de governo, e não atuou na campanha de Lula, o que desrespeitaria a legislação.

A lei diz que "é vedada a indicação, para o Conselho de Administração e para a diretoria, da pessoa que atuou, nos últimos 36 meses, como participante de estrutura decisória de partido político ou em trabalho vinculado a organização, estruturação e realização de campanha eleitoral".

O economista e ex-ministro Nelson Barbosa, um dos coordenadores do grupo técnico (GT) de Economia, disse não ter opinião sobre uma mudança na Lei das Estatais, e acrescentou que o assunto não chegou a ser discutido no GT. Ele afirmou, no entanto, que o tema vai ser avaliado pelo comitê do Ministério do Planejamento, que é onde está a secretaria das empresas estatais.

Barbosa também criticou nesta segunda a reação do mercado à possibilidade de Mercadante ocupar uma vaga no novo governo.

O ex-ministro disse na segunda-feira que o setor financeiro reage mal "a qualquer nome do PT", mas que precisa aceitar que o partido venceu as eleições presidenciais.

Mercado vê com ressalvas indicação de Galípolo

Após a reação negativa do setor financeiro, Haddad afirmou na noite de segunda que deveria "compor uma equipe plural". "Não quero uma escola de pensamento comandando a economia", disse Haddad. Nesta terça, ele anunciou dois nomes que seriam mais próximos do mercado financeiro: o ex-presidente do Banco Fator, Gabriel Galipolo, como secretário-executivo, e o economista Bernard Appy, como secrtário especial para a reforma tributária.

Embora seja egresso do mercado financeiro, a nomeação da Galipolo não foi suficiente para convencer os agentes financeiros, que preveem uma política 'morde e assopra' de Haddad na Fazenda.

"Embora a intenção de Haddad com isso seja tornar Galipolo um intermediário com o mercado financeiro, o viés ideológico dele é muito mais ligado ao núcleo duro do PT do que a economistas do mercado. Tanto em seus trabalhos acadêmicos como em declarações públicas, Galipolo mostrou-se contra algumas medidas caras para o mercado, como a independência do Banco Central e a manutenção do teto de gastos", apontam os analistas da Guide Investimentos em relatório.

Na ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) da semana passada divulgada nesta terça, o BC (Banco Central) afirmou que o impacto de "estímulos fiscais significativos" tende a ser maior sobre a inflação do que sobre a atividade econômica em um ambiente de baixa ociosidade.

O documento alerta ainda que o fiscal pode afetar a taxa neutra de juros do país.

"O Comitê julgou que há ainda muita incerteza sobre o cenário fiscal prospectivo e que o momento requer serenidade na avaliação de riscos. O Comitê reforça que seguirá acompanhando os desenvolvimentos futuros da política fiscal e seus potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva", afirmou.

Bolsas nos EUA sobem com inflação americana abaixo do esperado em novembro

Nos Estados Unidos, o dia foi de alta nas principais Bolsas, após dados de inflação abaixo do esperado animarem os investidores.

Os preços ao consumidor nos Estados Unidos aumentaram 0,1% em novembro, abaixo da previsão de 0,3% dos economistas consultados pela Reuters.

Nos 12 meses até novembro, o índice subiu 7,1%, menor taxa desde dezembro de 2021, mostrando desaceleração em relação ao aumento de 7,7% visto em outubro.

Uma menor pressão inflacionária aumenta as chances de o banco central americano (Federal Reserve) diminuir o ritmo de alta dos juros já a partir da reunião prevista para esta quarta-feira (14), trazendo alívio para os preços das ações.

Após quatro altas de 0,75 ponto percentual, levando os juros para uma faixa entre 4% e 4,25% ao ano, a expectativa dos agentes financeiros, reforçada pelos dados de inflação divulgados hoje, é a de um aumento de 0,50 ponto.

Nesse cenário, o Nasdaq, com maior concentração de empresas de tecnologia, avançou 1,01%, o S&P 500 teve valorização de 0,73%, e o Dow Jones subiu 0,30%.

Com Reuters

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