Descrição de chapéu Governo Lula

Galípolo, ex-presidente do Banco Fator, será número 2 de Haddad na Fazenda

Conselheiro de Lula chegou a ser cogitado para o BNDES, mas Mercadante deve assumir o banco; Bernard Appy será secretário especial para reforma tributária

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Brasília

O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta terça-feira (13) dois nomes de seu secretariado. O ex-banqueiro Gabriel Galípolo será o secretário-executivo da pasta, o segundo cargo mais importante do ministério.

Já o economista Bernard Appy ocupará uma secretaria especial para a reforma tributária, área na qual ele é especialista.

Os dois nomes são vistos como mais palatáveis pelo mercado financeiro, que nas últimas semanas tem se preocupado com declarações do governo eleito sobre elevação dos gastos públicos. Ao anunciar os novos auxiliares, Haddad disse que eles eram nomes "respeitados" pelo mercado, mesmo que não houvesse total concordância de ideias.

O economista Gabriel Galípolo durante evento de campanha de Fernando Haddad, em outubro - Greg Salibian/Folhapress

Apesar de ter sido ex-presidente do Banco Fator e ter atuado em processos de privatização, Galípolo tem manifestado ideias menos ortodoxas em relação ao papel do Estado na condução da economia, por exemplo. Por isso, sua nomeação, antecipada pela Folha, foi vista com ressalvas por parte dos analistas do mercado.

Um ponto de atenção para a gestão do ministério é que o secretário-executivo costuma ser alguém com experiência na máquina pública, justamente para não ter que aprender as funções da pasta junto com o novo chefe. Nesse caso, o desafio será duplo, pois tanto Galípolo quanto Haddad terão de aprender juntos como tocar o cotidiano da gestão fazendária.

A combinação será diferente da observada sob a gestão de Guedes, que escolheu alguém de dentro do funcionalismo para ser seu número dois. O secretário-executivo de Guedes, Marcelo Guaranys, é servidor de carreira do Tesouro Nacional e acumula diferentes experiências em cargos importantes da máquina federal —foi, por exemplo, presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) sob Dilma e secretário-executivo da Casa Civil sob Temer.

Como número dois de Haddad, o ex-Fator terá a missão de ser uma espécie de coordenador-geral das atividades da pasta, sobretudo em temas que exigem trabalhos conjuntos de mais de uma secretaria, além de substituir Haddad em sua ausência.

Pode amenizar esse ponto o fato de a Fazenda de Haddad ser um ministério significativamente menor do que a Economia de Guedes. Enquanto Guaranys teve que coordenar trabalhos em uma superpasta com sete secretarias especiais e a PGFN (Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional), Galípolo terá sob seu comando um núcleo duro e enxuto da atividade fazendária (o que inclui Tesouro, Receita Federal, Secretaria de Política Econômica, PGFN e ao menos parte dos bancos públicos).

Galípolo e Guaranys, inclusive, devem se encontrar nos próximos dias para falar sobre as atividades na pasta —quando as missões do cargo poderão ser mais detalhadas ao novo ocupante.

À frente do banco Fator de 2017 a 2021, Galípolo já esteve em campo oposto ao PT. Seja na presidência ou na diretoria de novos negócios do banco, cadeira que ocupou de 2016 a 2017, o economista atuou na modelagem das privatizações das privatizações da Cesp (Companhia Energética do Estado de São Paulo) e da Cedae (Companhia de Águas e Esgotos do Rio), ocorridas sob protesto de petistas.

Ele participou do grupo de trabalho dedicado à elaboração dos planos do futuro presidente petista para a economia. O ex-banqueiro também chegou a ser cotado para o comando do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), mas Lula escolheu Aloizio Mercadante.

Um dos conselheiros de Lula sobre mercado financeiro, o ex-banqueiro ganhou a confiança de Haddad ao participar da coordenação do plano de governo do ex-prefeito na disputa pelo estado de São Paulo, da qual o ex-prefeito saiu derrotado.

O futuro número 2 da economia chegou a organizar encontros entre Haddad e indecisos do mercado financeiro, além de ter participado de jantares com a presença de Lula.

Na reunião com Guedes, o futuro ministro do governo Lula indicou que pretende concluir a montagem de sua equipe até sexta-feira (16). Entre os postos-chave a serem definidos estão o comando do Tesouro e da Receita.

Nesta terça, ata divulgada pelo Copom (Comitê de Política Monetária) mostrou que o BC está preocupado com o impacto de "estímulos fiscais significativos" tende a ser maior sobre a inflação do que sobre a atividade econômica em um ambiente de baixa ociosidade.

Apesar das questões fiscais, o foco no encontro de Haddad e Guedes nesta terça foi a estrutura e os processos de funcionamento da pasta, segundo interlocutores. Em uma reunião de quase duas horas, o atual ministro da Economia apresentou toda a sua equipe de secretários especiais, e cada área teve um tempo para explicar suas principais atribuições.

Haddad, por sua vez, buscou detalhes de como está a configuração atual do Ministério da Economia.

A reunião foi descrita como "descontraída, pacífica e construtiva" por pessoas presentes. Antes do encontro com a participação dos secretários, Haddad e Guedes tiveram uma conversa reservada a sós, que durou aproximadamente meia hora.

Na entrevista em que anunciou o nome dos dois colaboradores, Haddad afirmou que a reforma tributária, sob a coordenação de Bernard Appy, será uma prioridade.

O economista é diretor do CCiF (Centro de Cidadania Fiscal) e foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda na gestão anterior de Lula.

"[Appy] Reuniu um conjunto muito grande de informações a respeito do sistema tributário e desenhou a proposta que tem servido ao Congresso Nacional de base para uma discussão ao país", disse Haddad ao anunciar a escolha.

Em entrevista à Folha, Appy afirmou que a herança de Jair Bolsonaro na área fiscal será um dos maiores desafios para o governo. Isso porque o presidente eleito terá de encontrar espaço para cumprir promessas de campanha ao mesmo tempo em que buscará passar aos mercados sinais de responsabilidade na gestão das contas públicas.

O economista disse, ainda, que as medidas de aumento de despesa e redução de receitas do atual governo, com impacto de quase 4% do PIB (Produto Interno Bruto), ou cerca de R$ 350 bilhões, são a verdadeira herança maldita para o ano que vem.

Para melhorar o horizonte das contas públicas, Appy defendeu uma agenda de reformas que aumento o potencial de crescimento e, com isso, a arrecadação em termos reais, aliada a uma medida crível no controle de despesas. Segundo o economista, as medidas poderiam gerar uma percepção maior de solvência do país no longo prazo.

Haddad tem dito que a reforma tributária é uma prioridade da sua gestão e dará força para a proposta de novo arcabouço fiscal, que impeça o crescimento da dívida pública como proporção do PIB. A perspectiva de que o governo Lula 3 aumente os gastos de forma descontrolada e perca o controle da dívida tem levado turbulência ao mercado financeiro.


Raio-X | Gabriel Galípolo, 40

Formação Tem graduação em ciências econômicas e mestrado em Economia Política pela PUC-SP

Carreira Durante o governo José Serra em São Paulo, foi chefe da assessoria econômica da Secretaria de Transportes (2007) e diretor da unidade de estruturação de projetos da Secretaria de Economia e Planejamento (2008). Em 2009 fundou a Galípolo Consultoria. Foi presidente do Banco Fator de 2017 a 2021. Foi professor da graduação da PUC-SP, e é professor do MBA de PPPs e Concessões da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo em parceria com a London School of Economics (LSE)

Publicações Tem três livros em coautoria com o economista Luiz Gonzaga Beluzzo: "Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo", "A escassez na abundância capitalista" e "Dinheiro: o poder da abstração real"

Raio-X | Bernard Appy, 60

Formação

Economista formado pela USP.

Carreira

Diretor do CCiF (Centro de Cidadania Fiscal). Economista e ex-secretário-executivo e de Política Econômica do Ministério da Fazenda (2003-2009). Foi diretor de Estratégia e Planejamento da BM&F Bovespa (atual B3) e sócio-diretor da LCA Consultores.

Publicações

Tem diversos textos publicados sobre impostos e é autor de uma das principais reformas tributárias em discussão hoje no país, a PEC 45 (que funde 5 impostos e cria no lugar o Imposto sobre Bens e Serviços e o imposto seletivo). O texto tramita na Câmara dos Deputados.

Fonte: Cebri

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