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BNDES vai voltar a financiar projetos no exterior, diz Lula

Ministro da Fazenda afirma que Banco do Brasil vai financiar exportações para a Argentina

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Buenos Aires

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (23), durante encontro com empresários brasileiros e argentinos, que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vai "voltar a financiar as relações comerciais do Brasil e projetos de engenharia no exterior".

Uma das bandeiras do petista, em visita à Argentina nesta semana —a primeira do presidente desde a posse—, é o estreitamento de laços comerciais e a integração regional.

Mais cedo, Lula já havia afirmado que o financiamento de obras na América Latina pelo BNDES seria um "motivo de orgulho" para o Brasil, e que o país tem o dever de ajudar seus vizinhos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em fórum de empresários em Buenos Aires, na Argentina - Luis Robayo - 23.jan.2023/AFP

A atuação do banco de fomento no exterior foi alvo de críticas de opositores em gestões petistas anteriores, e mobilizadas durante a campanha eleitoral por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL).

Um exemplo é o Porto de Mariel, em Cuba, cuja modernização foi feita pela Odebrecht com financiamento do BNDES. Outras obras foram financiadas na Venezuela e Moçambique —que chegaram a dar um calote nos pagamentos em 2018.

Ele disse, ainda, que se os empresários brasileiros mostrarem esforço, as condições para a construção de um gasoduto entre Brasil e Argentina poderão ser criadas.

"Eu tenho certeza que os empresários brasileiros têm interesse no gasoduto, nos fertilizantes que a Argentina tem, no conhecimento científico e tecnológico da Argentina. E se há interesse dos empresários e do governo, e nós temos um banco de desenvolvimento para isso, vamos criar as condições para fazer o financiamento que a gente possa fazer para ajudar no gasoduto argentino", disse Lula.

Banco do Brasil vai financiar exportações para a Argentina

Além disso, o ministro da Economia, Fernando Haddad, afirmou que o Banco do Brasil irá financiar exportações para a Argentina com a emissão de cartas de crédito.

A medida faria parte de um novo plano para tentar reacender o comércio entre os dois países através do financiamento de exportações. O acordo prevê a abertura de crédito de bancos brasileiros para importadores argentinos e a criação de um fundo pelo governo brasileiro para garantir o pagamento dos empréstimos.

A fala derrubou as ações do banco. Haddad, porém, negou que haverá risco para o BB ou qualquer outra instituição financeira.

"O Banco do Brasil não vai tomar risco nenhum com essa operação de crédito de exportação. Nós vamos ter um fundo garantidor, que é um fundo soberano, que vai garantir as cartas de crédito emitidas pelo BB para os exportadores brasileiros", repetindo que está sendo negociado um sistema de garantias com a Argentina.

O risco para o banco, diz Haddad, é apenas o de conversão entre o peso e o real. Hoje, com 30 dias, a perda do banco é pequena. Com o aumento do prazo, pode passar a ser maior, mas aí, explica, entra o fundo garantidor de exportações.

Ao mesmo tempo, o governo brasileiro negocia que, a cada operação, o governo argentino irá oferecer colaterais com liquidez internacional --que podem ser títulos da dívida de países estáveis ou contratos futuros de venda de commodities, por exemplo. No caso de a empresa argentina não honrar seu compromisso com o banco brasileiro e o fundo garantidor tiver que ser acionado, o governo brasileiro teria como recuperar os recursos.

"Quem está oferecendo financiamento de médio e longo prazo está levando um comércio que seria natural entre Brasil e Argentina", disse Haddad a jornalistas em Buenos Aires, citando a China como principal competidor, não na qualidade dos produtos, mas no prazo de financiamento.

"Nossas exportações de manufaturados são para América do Sul. Se a gente perder esse espaço aumenta a desindustrialização na região", complementou.

A Argentina é o terceiro principal destino das exportações do Brasil e a terceira principal origem das importações brasileiras. Em 2022, do total de 15,4 bilhões de dólares exportados pelo Brasil à Argentina, 91% foram em produtos industrializados.

Brasil e Argentina trabalham em plano para moeda comum

Outro tema tratado por Lula e Haddad nesta segunda foi a criação de uma moeda comum para relações comerciais entre os países. O petista afirmou que Brasil e Argentina estão trabalhando nesse plano.

A declaração foi dada após uma reunião entre Lula e o presidente argentino, Alberto Fernández, em Buenos Aires nesta segunda-feira (23).

"Acho que com o tempo isso [moeda comum] vai acontecer, e é necessário que aconteça", afirmou Lula.

A ideia é que a "sur", como seria chamada, seja uma moeda comum para transações comerciais entre os países. Ou seja, ela não é uma moeda única —Brasil e Argentina seguiriam com o real e o peso, respectivamente.

O presidente brasileiro diz que o projeto de moeda comum será tratado junto a propostas de comércio exterior e de transações feitas pelas equipes econômicas da Argentina e do Brasil, após "muitos debates e reuniões".

"Se dependesse de mim a gente teria comércio exterior sempre nas moedas dos outros países, para que a gente não precise ficar dependendo do dólar. Por que não tentar criar uma moeda comum entre os dois países, com países do Brics?", disse Lula.

Com Reuters

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