Como funciona o Notam, sistema cuja pane atrasou 8.700 voos nos EUA

Boletins são centralizados pelos governos dos países e avisam sobre problemas em terra e no ar

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São Paulo

Antes de decolar, os pilotos precisam saber o que vão encontrar pelo caminho. O sistema de comunicação Notam ajuda nisso: boletins curtos informam sobre fechamentos de pista, falhas de sinal e eventuais obstáculos no ar.

Na manhã desta quarta (11), no entanto, o Notam parou de funcionar nos Estados Unidos, o que gerou a maior paralisação de voos nos EUA desde os ataques de 11 de setembro de 2001.

Informações iniciais apontam que o sistema começou a ficar instável na noite de terça (10). Isso fez a FAA (Autoridade Federal de Aviação) suspender todas as decolagens domésticas no país às 7h30 (9h30 em Brasília de quarta (11).

As partidas foram retomadas 90 minutos depois, mas houve impactos nos voos pelo resto do dia. A expectativa de autoridades e de empresas é que a situação se normalize até quinta (12) ou sexta (13).

Avião da Delta, ao se aproximar do aeroporto de LaGuardia, em Nova York, nesta terça (11) - Mike Segar/Reuters

Até o fim da tarde, a pane havia gerado atrasos em mais de 8.700 voos, e ao menos 1.100 foram cancelados de acordo com o site FlightAware. Houve cenas de caos em vários aeroportos americanos, com passageiros ansiosos e sem informação de como seguiriam viagem.

A Casa Branca disse que não há evidências de que a falha tenha sido causada por um ataque hacker e que as causas do problema estão sendo investigadas. "A FAA está trabalhando agressivamente para chegar na raiz das causas da falha no sistema, para que isso não aconteça de novo", disse Karine Jean-Pierre, porta-voz do governo de Joe Biden.

Notam significa Notice to Air Missions (avisos para as missões no ar). Antes, chamava Notice to Airmen (aviso aos homens do ar, em tradução livre), o que gerava queixas de exclusão às mulheres.

Mais do que um sistema em si, o Notam é um modelo de comunicação: são boletins curtos, que lembram um telegrama. Eles trazem códigos que são entendidos facilmente pelos profissionais da área, mas não dizem nada a um leigo. Um exemplo:

Q) SBRE/QNDAS/IV/BO /E /000/999/1449S03902W040
DME YLH CH87X U/S

Os alertas são emitidos pelos aeroportos e pelas autoridades de aviação. "Exemplos clássicos são reduções do comprimento de pista por obras, modificações em procedimentos de controle de tráfego aéreo, no status de serviço contra incêndio disponíveis no aeroporto, no abastecimento de aeronaves, etc", aponta Julio de Souza Pereira, diretor-assistente de segurança da Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo) no Brasil.

Os avisos também são usados para alertar sobre falhas de sistema de rádio em uma área, exercícios militares que impactem o espaço aéreo, pássaros voando em bando, presença de cinzas de vulcões e restrições adotadas por causa da presença de chefes de Estado, entre muitos outros temas.

O sistema foi padronizado em 1947, ano em que foi realizada uma convenção internacional de aviação civil, em Chicago, que definiu muitas das regras do setor que ainda estão em vigor.

A convenção determinou que o governo de cada país é o responsável por centralizar e disponibilizar os boletins Notam. Os informes são públicos e ficam disponíveis na internet e em sistemas fechados. Os dados de todos os países podem ser acessados em redes de comunicação específicas para a aviação, como AFTN e AMHS.

No Brasil, os boletins Notam são centralizados pelo Decea (Departamento de Controle Aéreo), um órgão ligado à Força Aérea Brasileira e que tem 12 mil funcionários. Nas 24 horas antes da publicação desta reportagem, o sistema brasileiro havia emitido 22 alertas. Eles podem ser lidos aqui.

"Estes sistemas são muito robustos com diversos backups e servidores de contingência, em função do impacto causado por uma eventual inoperância, a exemplo do que aconteceu hoje nos EUA. Por isto que não se tem notícia de problemas da mesma natureza", comenta Pereira.

Nos Estados Unidos, o sistema fica sob controle da FAA, um órgão civil ligado ao Departamento de Transportes —equivalente a ministério no Brasil. O departamento é chefiado pelo secretário Pete Buttigieg, um político democrata que disputou primárias presidenciais em 2020 e que é cotado para disputar a Casa Branca no futuro.

A FAA, no entanto, está com um diretor interino desde março. Biden nomeou Phillip Washington para o cargo, mas ele precisa ser aprovado pelo Senado, que vem dificultando a confirmação de várias das nomeações do presidente. O nomeado ainda aguarda para passar por sabatina.

O indicado de Biden atualmente chefia o aeroporto de Denver e já liderou a autoridade de transporte urbano de Los Angeles. Ele é alvo de investigações por corrupção e criticado por ter pouca experiência em aviação.

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