Descrição de chapéu indústria

Assembleia da Fiesp aprova destituição de Josué Gomes da presidência

Pessoas ligadas ao empresário, porém, já afirmam que decisão não tem validade

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São Paulo

Assembleia extraordinária da Fiesp (Federação das Indústrias do estado de São Paulo) realizada nesta segunda-feira (16) aprovou a destituição de Josué Gomes da Silva da presidência da entidade. O resultado, no entanto, já é questionado por pessoas ligadas ao empresário, que afirmam que a decisão não tem validade.

A votação ocorreu à noite, após horas de assembleia —o encontro começou às 14h30. Votaram pela destituição representantes de 47 sindicatos, 2 se abstiveram e 1 votou contra, totalizando 50 votos. No início da reunião, havia 89 delegados de 80 sindicatos.

Ao todo, a Fiesp tem 116 sindicatos, dos quais 86 assinaram o pedido pela realização da plenária.

Josué estava entre os ausentes no momento da votação. Segundo participantes da reunião, ele deixou a assembleia por volta de 19h. A ausência de Josué e o quórum no momento da votação são vistos como problemas para a validade da decisão.

Já representantes dos sindicatos de oposição defendem que a plenária é válida. A oposição prevê registrar as atas em cartório nesta terça (17). Se a destituição for considerada válida, o estatuto prevê que o vice-presidente mais velho, Elias Miguel Haddad, assume o cargo interinamente até que a direção se reúna.

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Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) - Governo do Estado de São Paulo

Eleito com 97% dos votos, Josué assumiu a presidência da Fiesp em janeiro de 2022, substituindo Paulo Skaf, que ocupou o cargo por 17 anos. Há semanas o empresário enfrenta uma rebelião de sindicatos de oposição que criticam sua gestão à frente da entidade.

Ainda no ano passado, as entidades enviaram a Josué uma relação de questionamentos que, na avaliação deles, justificava a realização da assembleia.

Entre os 12 pontos, haviam questões como o número de entrevistas concedidas por ele para falar da indústria e quantas visitas fez ao Congresso Nacional para debater pautas do setor. Em outro momento, os insatisfeitos pediam que Josué Gomes explicasse as atividades exercidas por algumas pessoas em órgãos ligados à Fiesp, como Sesi e Senai.

Segundo relatos de pessoas presentes à assembleia, um contrato da Fiesp com uma consultoria ligada ao ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho, que é conselheiro da federação, foi um dos pontos de discórdia entre o atual presidente e os sindicatos de oposição.

A composição dos departamentos e conselhos, apontados por aliados e opositores como uma fonte de tensão entre os sindicatos e Josué, também aparece no detalhamento do pedido. Para a oposição, Gomes deveria justificar a participação ou ausência dos sindicatos nesses espaços.

Os questionamentos dos sindicatos também incluíam o fato de Josué ter assinado, em nome da Fiesp, um manifesto pela democracia. Apesar de apartidário, o documento foi entendido como de oposição ao então presidente Jair Bolsonaro (PL) –de quem Skaf foi aliado e apoiador nas eleições de 2022.

Já Josué é visto como próximo de Lula. Ele é filho do ex-vice-presidente nos mandatos anteriores de Lula, José Alencar (morto em 2011), e chegou a ser convidado para ser ministro da Indústria na gestão atual —o qual recusou.

Em uma de suas poucas entrevista a jornalistas, Josué fez críticas a Bolsonaro, marcando um novo momento político da entidade. No início de seu mandato, a Fiesp criticou o aumento da taxa básica de juros e defendeu a necessidade de "pensar além do Copom".

Participantes da reunião relatam que o clima foi ruim. Durante quase três horas, Josué se defendeu dos questionamentos que tinham sido apresentados pelos sindicatos que se opõem a ele e que solicitaram a realização da plenária. Ao fim, votaram se consideravam as explicações satisfatórias. O placar ficou em 24 votos a favor dos argumentos dele, e 62, contra.

Em uma tentativa de demonstração de força, o empresário recebeu na sede da federação nesta segunda o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços Geraldo Alckmin (PSB), e o ex-presidente Michel Temer (MDB), para reunião da diretora da entidade.

Dirigentes da oposição, no entanto, viram o gesto como um sinal de fraqueza. Para um dirigente que votou pela destituição de Josué, a Fiesp sempre recebeu presidentes, ministros e secretários em sua sede. No ano de 2022, porém, critica o que teria sido a ausência dessas visitas e agendas, em uma das críticas feitas pela oposição à gestão de Josué.

A eleição do empresário para a presidência da entidade já havia sido conturbada. O grupo liderado por José Ricardo Roriz, da indústria plástica, acusou o processo eleitoral de ser atropelado, inviabilizando a formalização de sua chapa de oposição.

A participação de Skaf no pleito também foi disputada. No início de 2020, o então líder da entidade da indústria paulista começava a se movimentar para aprovar uma mudança no estatuto da federação que permitisse uma nova reeleição —que o levaria a um quinto mandato.

Desde sua primeira eleição, em 2004, Skaf havia aprovado duas mudanças no regimento da federação para poder se reeleger.

Depois da reação negativa quando a movimentação se tornou pública, Skaf acabou recuando e anunciou apoio a Josué. A escolha surpreendeu pelo perfil político dos dois.

Skaf estava à frente da Fiesp quando a federação instalou um gigante pato inflável em frente ao prédio da avenida Paulista contra a alta de impostos e o retorno da CPMF em 2015. O pato foi uma espécie de personagem no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Em 2019, já durante o governo Jair Bolsonaro (PL), Skaf se aproximou do então presidente. A Fiesp passou então a ser vista como uma entidade bolsonarista.

Josué, por outro lado, chegou a ser conhecido como o "menino do Lula". Em 2018, quando ainda era filiado ao PR, mesmo partido de seu pai, o empresário era disputado por partidos à esquerda e à direita, visto como um vice dos sonhos. Ciro Gomes (PDT) foi um dos que tentou atraí-lo para uma chapa.

Além de ter recursos próprios para financiar uma campanha eleitoral, Josué tem interlocução com o mercado financeiro e apoio em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país. Na época, ele dizia que não seria candidato pois, à frente da Coteminas, passava muito tempo fora do Brasil. Em 2014, foi candidato ao Senado por Minas Gerais, mas não se elegeu.

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