Descrição de chapéu petrobras

Prates, indicado para Petrobras, diz que vai se desligar de empresas do setor de petróleo

Escolhido por Lula busca evitar conflito de interesses na estatal, já que aparece como sócio de negócios que envolvem óleo e gás

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Salvador e Rio de Janeiro

Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência da Petrobras, o senador Jean Paul Prates (PT-RN) afirmou nesta quinta-feira (5) que vai se desligar de empresas de consultoria e de extração de petróleo nas quais consta como sócio antes de assumir o cargo na estatal.

O senador aparece como sócio de pelo menos três empresas, de acordo com dados da Receita Federal e das Juntas Comerciais do Rio Grande do Norte e do Rio de Janeiro: a Carcará Petróleo, a Singleton Participações Imobiliárias e a Bioconsultants.

A indicação de Prates para o comando da Petrobras suscitou questionamentos sobre possíveis conflitos com a Lei das Estatais, legislação criada em 2016 para blindar empresas públicas de interesses políticos e econômicos.

A participação do senador em empresas do setor de petróleo será avaliada pelo Comitê de Elegibilidade da Petrobras, setor encarregado de apresentar um relatório sobre o currículo dos candidatos ao Conselho de Administração.

Jean Paul Prates participa de evento em Brasília - Adriano Machado - 8.dez.22/Reuters

A Lei das Estatais veda a indicação para diretoria e conselhos de administração de pessoas que tenham contrato ou parceria com a empresa em período inferior a três anos antes da nomeação. Também proíbe a indicação de pessoa que possa ter "qualquer forma de conflito de interesse" com a controladora da empresa.

Em nota, a Petrobras informou que nenhuma das três empresas nas quais Prates consta como sócio possui contratos firmados com estatal. E destacou que a indicação do senador será submetida aos procedimentos internos de governança para análise de integridade e elegibilidade.

A Carcará Petróleo, criada em 2000 para atuar no segmento de extração de petróleo e gás natural, chegou a participar de leilões de poços maduros da ANP (Agência Nacional do Petróleo), mas não obteve sucesso. Foi o caso, por exemplo, do leilão do bloco Morro do Barro, na Ilha de Itaparica (BA), que aconteceu em 2005.

O senador também é um dos sócios da Singleton Participações Imobiliárias, empresa aberta em 2008 como consultoria de gestão empresarial. A Singleton aparece na Receita Federal como sócia da Carcará e da Bioconsultants.

A Bioconsultants, consultoria em recursos naturais e meio ambiente, consta como ativa na Receita Federal, mas teve uma fusão anunciada com a empresa CRN em 2015, dando origem à CRN-Bio.

Prates não aparece como sócio da CRN-Bio, que presta consultoria para estudos de impacto ambiental, arqueologia e geoprocessamento, principalmente em grandes projetos de energia eólica e solar.

Em nota, Prates informou que vai se desligar das empresas Carcará Petróleo e Bioconsultants. Vai se manter como sócio apenas da Singleton, companhia que faz a gestão de seus imóveis.

"Não há nenhuma necessidade legal ou de conformidade de ele se manter ou não como sócio desses empreendimentos. No entanto, como a transparência sempre foi um princípio defendido na vida pública de Jean Paul Prates, ele decidiu-se pelo desligamento da estrutura societária dessas empresas", disse sua assessoria.

O senador também já atuou na Expetro, consultoria da área de petróleo. A empresa está inoperante desde 2015, ano em que emitiu uma nota fiscal pela última vez, conforme a assessoria. O petista já deixou o seu quadro de sócios.

A Lei das Estatais tem sido obstáculo para indicações a cargos em diretorias e conselhos de estatais nos últimos anos. Em 2022, o governo Jair Bolsonaro (PL) chegou a indicar o consultor Adriano Pires para a presidência da Petrobras, mas ele desistiu do cargo.

À época, havia temor de conflito de interesses, o que poderia travar a nomeação. Pires atua no CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), reconhecido por prestar serviços de consultoria em assuntos estratégicos para o setor de energia.

Segundo o advogado Bernardo Strobel Guimarães, doutor em direito do estado e professor da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), existem trechos genéricos na legislação que abrem margem para interpretação em episódios como o de Prates.

"A existência ou não de conflito precisa ser ponderada no caso concreto. As empresas [do indicado] operam? A pessoa está de fato à frente delas? As estatais têm conselhos que avaliam as situações e verificam se existe ou não o conflito", diz Guimarães, que é autor de livro sobre a Lei das Estatais.

"A priori, você não consegue responder a isso pela simples participação, sem ponderar se a empresa está inativa ou não. É uma situação que precisa ser avaliada pelo comitê", acrescenta.

A promessa de Prates de se desfazer de negócios anteriores é vista como uma tentativa de afastar possíveis contestações dentro da Petrobras. No site da estatal, é possível consultar a base de contratos da petroleira, e as empresas dele não aparecem entre as parceiras.

Para Ana Paula Ávila, coordenadora da área de compliance da Silveiro Advogados, o desligamento de Prates do quadro societário das empresas é um primeiro passo para contornar essa situação.

"Mas, veja bem, é só o primeiro [passo] porque as situações de conflito surgirão nas decisões do dia a dia, quando os interesses privados conflitarem com os da empresa, ou no uso de informação privilegiada", pondera.

Também há questionamentos sobre possíveis conflitos entre a Lei das Estatais e atuação política do senador, que disputou as eleições de 2020 e 2022. A lei veda a nomeação de pessoa que atuou, nos últimos três anos, em estrutura decisória de partido ou na organização de campanha eleitoral.

"Seria preciso estabelecer se ele é dirigente estatutário de partido político e em que medida ele 'trabalhou' na estruturação da sua campanha ao Senado ou se foi o próprio coordenador eleitoral, sendo necessário conhecer esta informação para confirmar possível vedação", diz Ana Paula Ávila.

O último presidente da Petrobras indicado por Bolsonaro foi Caio Paes de Andrade, que resolveu deixar a estatal para assumir um cargo no governo de São Paulo. Com a saída, João Henrique Rittershaussen foi nomeado presidente interino da Petrobras até a confirmação do novo comandante.

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