Tebet toma posse e destaca 'alguma divergência' econômica com equipe

Ministra do Planejamento cita em seu discurso preocupação com responsabilidade fiscal

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Brasília

A emedebista Simone Tebet tomou posse nesta quinta-feira (5) como nova ministra do Planejamento e Orçamento, em cerimônia no Palácio do Planalto que contou com a presença do ministro Fernando Haddad (Fazenda). Em seu primeiro discurso, reconheceu ter "alguma divergência" com a equipe econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Tebet também pregou responsabilidade fiscal, combate à inflação e aos juros elevados e defendeu a aprovação da reforma tributária. Na sua fala, marcada por tom político, ela ainda criticou o governo Jair Bolsonaro (PL), dizendo que o ex-presidente deixou "para trás sementes de destruição".

A posse de Tebet foi a única de um ministro à qual Haddad compareceu até o momento. Na véspera, ele chegou a confirmar presença na cerimônia em que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) assumiu oficialmente o posto de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço, mas cancelou de última hora para se preparar para uma reunião com Lula.

A ministra do Planejamento Simone Tebet durante sua cerimônia de posse no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 5.jan.22/Folhapress

Tebet chegou ao evento ao lado de Alckmin. Haddad veio logo atrás, conversando com o ministro da Casa Civil, Rui Costa. No grupo também estavam o secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, abraçado com a economista Elena Landau, que participou da campanha à Presidência da senadora. O ex-presidente José Sarney estava entre os convidados, assim como a ministra da Gestão, Esther Dweck.

Em seu discurso, Tebet disse que ficou duplamente surpreendida com o convite de Lula para comandar o Planejamento. "Primeiro, porque fui escolhida para ser ministra com um convite especial do presidente e, segundo, porque fui parar justamente em uma pauta que tenho alguma divergência", disse.

"Tenho total sinergia, coincidência na pauta social de costumes, estava pronta e preparada para assumir qualquer tarefa nessa área, fui parar na pauta econômica."

"Quando abri minha boca para agradecer [ao convite] e dizer para o presidente que eu achava que havia algum equívoco, que disse a ele ‘mas presidente, nesta pauta, ministro Haddad, ministro Alckmin, ministra Esther, nós temos divergências econômicas’, ele simplesmente me ignorou como quem diz ‘é isso que eu quero porque sou um presidente democrata’. Um presidente democrata não quer apenas os iguais, quer os diferentes para se somar", continuou.

Tebet, no entanto, ressaltou que as divergências deveriam ser deixadas para depois. "Comungo, ministro Haddad, com sua visão, de que há necessidade não só de cuidar dos gastos públicos com racionalidade, mas da aprovação urgente da reforma tributária."

Segundo ela, a mudança no sistema tributário já esperou "tempo demais, 30 anos para ser efetivada". "Vamos atuar convergentes nesse propósito. Ao lado de Geraldo Alckmin e Esther Dweck, teremos um diálogo produtivo nas reuniões da equipe econômica."

Tebet também convergiu com Haddad na preocupação com responsabilidade fiscal. "O nosso papel, do Ministério do Planejamento, sem descuidar, em nenhum momento, da responsabilidade fiscal, dos gastos públicos e da qualidade deles, é colocar os brasileiros no orçamento público."

A ministra defendeu que não há uma política social sustentável sem uma política fiscal responsável. "Seremos responsáveis com os gastos públicos."

Ao iniciar seu discurso, Tebet agradeceu a Lula pela "confiança absoluta" de lhe entregar o Planejamento, pasta que a ministra qualificou como "uma das pautas mais importantes e relevantes do seu governo, do nosso governo, do governo do PT e da frente ampla democrática do Brasil."

Tebet pregou metas factíveis, previsibilidade e afirmou que o Brasil precisa evoluir no campo do planejamento.

"São muitos os desafios. Estou pronta, Haddad, Esther, Alckmin, para, juntos, equipe econômica, combater a inflação, os juros altos, o aumento da dívida pública, que precisa cair, a miséria e a fome", disse. "A inflação encarece também os investimentos, atrapalha a criação de empregos e cria uma ciranda negativa."

"Nós sabemos que ela [inflação] vem da instabilidade política. Instabilidade política agora é coisa do passado porque hoje a estabilidade da política brasileira está na mão do presidente Lula e dos demais partidos brasileiros", acrescentou Tebet, aplaudida pelos convidados.

A ministra deve anunciar "80% da equipe" na próxima segunda-feira (9). A emedebista disse que sua pasta terá uma Secretaria de Avaliação e Monitoramento de Políticas Públicas. Além disso, convidou um quadro efetivo do TCU (Tribunal de Contas da União) a ocupar uma de suas duas diretorias.

Tebet foi anunciada ministra do Planejamento na terceira e última leva de anúncios da equipe de Lula, no dia 29 de dezembro de 2022. A definição do seu papel no governo federal foi um dos principais desafios para a formação da Esplanada dos Ministérios.

A emedebista inicialmente sinalizou interesse no Ministério da Educação, que acabou com o ex-governador do Ceará e senador eleito Camilo Santana (PT). A senadora então buscou ser ministra do Desenvolvimento Social, mas o PT resistiu a entregar a pasta, que administra o Bolsa Família, para uma possível rival na disputa de 2026. O nomeado foi o petista Wellington Dias.

Foi oferecido então o Ministério do Meio Ambiente, mas Tebet recusou. A pasta acabou com a deputada federal e referência na área, Marina Silva (Rede), empossada na última quarta-feira (4).

Mesmo a ida para o Planejamento, recriado com o desmembramento do Ministério da Economia, foi alvo de disputas. Haddad disse que sua intenção inicial era escolher um ex-governador de estado para ocupar a pasta, levando em conta experiência com administração de grandes orçamentos. Citou os exemplos de Rui Costa (BA), dos senadores eleitos Wellington Dias (PT-PI) e Camilo Santana (PT-CE) e Renan Filho (MDB-AL), além de Jorge Viana (AC).

Depois, ganhou força para assumir o ministério o economista André Lara Resende, que declinou do convite. Antes de Tebet ser confirmada, o MDB tentou manter o PPI (Programa de Parcerias de Investimento) na alçada da pasta, mas a coordenação seguiu com a Casa Civil. Tebet aceitou uma "gestão compartilhada" entre as pastas.

Na cerimônia desta quinta, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que Lula defendeu que se faça políticas de estado, não de governo. "Nós estaremos juntos cuidando do presente, nos fóruns próprios do núcleo de gestão do governo, na junta orçamentária, nos conselhos da PPI, nos conselhos das obras estratégicas, participando do dia a dia, e hoje [quinta] à tarde já temos reunião."

Nesta quarta-feira (4), Tebet havia dito que era difícil levar mulheres negras para o ministério. Presente na posse da emedebista, a ministra de Igualdade Racial Anielle Franco, evitou polêmicas, mas acrescentou que falou com ela sobre o assunto.

A ministra também disse que vai apresentar ideias para Tebet entre elas a criação de um banco de currículos.

"Esse diálogo vai ser importante. Eu fiz questão de falar com ela ontem, fiz questão de vir até aqui hoje [posse], para dialogar [...] Eu entendi o que ela disse, mas também quis me colocar à disposição não só para construir junta, porque eu entendo que falta muito letramento racial em pastas e em pessoas. E a gente está aqui para isso", afirmou.

"Apresentei para ela algumas ideias e a gente vai falar mais adiante, por isso não posso falar ainda. Mas uma delas, por exemplo, que foi ideia nossa do ministério, é a gente ter um banco de pessoas, de currículos púbico mesmo, em ligação com ministério transversais, para que a gente possa preencher essas vagas", completou.

Responsável pelo programa econômico da campanha de Simone Tebet, Elena Landau afirmou após a cerimônia de posse que não vai integrar a equipe de Tebet no Ministério do Planejamento. A economista ainda ressaltou a defesa da responsabilidade fiscal no discurso da emedebista.

"O principal desafio da Simone será fazer um orçamento de médio e longo prazo que atenda todas as demandas que existem desde a campanha, que ela também assumiu, que não é só do Lula, dentro da responsabilidade fiscal. Não existe responsabilidade social sem responsabilidade fiscal. E acho que o discurso dela hoje deixou isso claro", afirmou.

Erramos: o texto foi alterado

A futura presidente da Caixa é Rita Serrano e a do Banco do Brasil é Tarciana Medeiros. Os nomes estavam invertidos no quadro Quem é quem nos assuntos socioeconômicos do governo Lula 3.

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