Último Boeing 747, o jumbo original, será entregue nesta semana

Avião revolucionou as viagens aéreas, mas reinado de 53 anos terminou com a chegada de modelos mais eficientes

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Valerie Insinna Tim Hepher
Reuters

O Boeing 747, o original e indiscutivelmente mais estético "Jato Jumbo", revolucionou as viagens aéreas, mas seu reinado de mais de cinco décadas como "Rainha dos Céus" terminou com a chegada de aviões bijato mais eficientes.

O último jumbo comercial da Boeing será entregue na terça-feira (31) à Atlas Air na sua sobrevivente versão cargueira, 53 anos depois que o primeiro 747 chamou a atenção mundial como uma aeronave para transporte de passageiros da extinta Pan Am.

"No chão é maravilhoso, imponente", disse Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, que pilotou um 747 especialmente apelidado de "Ed Force One" durante a turnê da banda britânica de heavy metal em 2016.

"E no ar é surpreendentemente ágil. Um avião enorme, mas você pode realmente jogá-lo para qualquer lado se for necessário."

Jatos Boeing 747 desativados da British Airways; companhia aérea aposentou toda a sua frota 747 na pandemia - Toby Melville - 23.abr.2021/Reuters

Projetado no final da década de 1960 para atender à enorme demanda por viagens, o nariz e o andar superior do primeiro jato de corpo largo e corredor duplo se tornaram o clube mais luxuoso do mundo acima das nuvens.

Mas foi nas fileiras aparentemente intermináveis na parte de trás do novo jumbo que o 747 transformou as viagens.

"Esse foi o avião que introduziu o voo para a classe média dos Estados Unidos", disse o CEO da Air France-KLM, Ben Smith. "Antes do 747, uma família média não podia voar dos Estados Unidos à Europa de forma acessível", disse Smith à Reuters.

O jumbo também deixou sua marca nos assuntos globais, simbolizando a guerra e a paz, desde o posto de comando nuclear no "Avião do Juízo Final" americano até visitas do papa em 747 fretados, apelidados de Shepherd One (Pastor Um).

Agora, dois 747 entregues anteriormente estão sendo adaptados para substituir os jatos presidenciais dos Estados Unidos conhecidos globalmente como Air Force One.

Como comissária de bordo da Pan Am, Linda Freier atendeu passageiros desde Michael Jackson até Madre Teresa.

"Era uma diversidade incrível de passageiros. Pessoas bem vestidas e pessoas que tinham muito pouco e gastaram tudo naquela passagem", disse Freier.

Transformador

Quando o primeiro 747 decolou de Nova York, em 22 de janeiro de 1970, após um atraso devido a uma falha no motor, mais do que dobrou a capacidade dos aviões para 350-400 assentos, o que exigiu remodelar o design dos aeroportos.

"Era a aeronave para o povo, aquela que realmente oferecia a capacidade de ser um mercado de massa", disse o historiador da aviação Max Kingsley-Jones. "Foi transformador em todos os aspectos da indústria", acrescentou o consultor sênior da Ascend by Cirium.

Seu nascimento tornou-se o material do mito da aviação.

O fundador da Pan Am, Juan Trippe, procurou cortar custos aumentando o número de assentos. Em uma viagem de pesca, ele desafiou o presidente da Boeing, William Allen, a fazer algo que superasse o 707.

Allen colocou o lendário engenheiro Joe Sutter no comando. Levou apenas 28 meses para a equipe de Sutter, conhecida como "os Incríveis", desenvolver o 747 até o primeiro voo em 9 de fevereiro de 1969.

Embora depois tenha se tornado uma "vaca leiteira", os primeiros anos do 747 foram cheios de problemas e os custos de desenvolvimento de US$ 1 bilhão quase causaram a falência da Boeing, que acreditava que o futuro das viagens aéreas estava nos jatos supersônicos.

Depois de uma queda durante a crise do petróleo na década de 1970, o apogeu do avião chegou em 1989, quando a Boeing lançou o 747-400 com novos motores e materiais mais leves, tornando-o perfeito para atender à crescente demanda por voos transpacíficos.

"O 747 é o avião mais bonito e fácil de pousar... É como pousar uma poltrona", disse Dickinson, que também preside a empresa de manutenção de aviação Caerdav.

Era da economia

A mesma onda de inovação que fez o 747 decolar representou seu fim, pois os avanços possibilitaram que os jatos bimotores replicassem seu alcance e capacidade por um custo menor.

No entanto, o 777X, que deverá ocupar o lugar do 747 no topo do mercado de jatos, não estará pronto até pelo menos 2025, após atrasos.

"Em termos de tecnologia impressionante, grande capacidade, grande economia... (o 777X) infelizmente faz o 747 parecer obsoleto", disse o diretor administrativo da AeroDynamic Advisory, Richard Aboulafia.

No entanto, a versão mais recente do 747-8 deverá enfeitar os céus durante anos, principalmente como cargueiro, tendo superado a produção do jato de passageiros A380 de dois andares da europeia Airbus.

A última entrega do 747 esta semana deixa dúvidas sobre o futuro da gigantesca, mas agora subutilizada fábrica de produção de fuselagem larga Everett, perto de Seattle, enquanto a Boeing também se debate após a pandemia de Covid e uma crise de segurança do 737 MAX.

O executivo-chefe, Dave Calhoun, disse que a Boeing poderá não projetar um novo avião por pelo menos uma década.

"Foi uma das maravilhas da era industrial moderna", disse Aboulafia, "mas esta não é uma era de maravilhas, é uma era de economia."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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