Descrição de chapéu Folhainvest Banco Central

Bolsa fecha semana em queda e dólar em alta com tensão entre governo e BC

Desempenho desta sexta não foi suficiente para reverter cenário de cautela de investidores nos últimos dias

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São Paulo

Após dias de tensão entre o Executivo e o Banco Central sobre política de juros e metas de inflação, o recuo do dólar desta sexta-feira (10) e a estabilização da Bolsa não foram suficientes para reverter o balanço final da semana.

O Ibovespa teve leva alta 0,06%, fechando a 108.078 pontos. No entanto, o índice acumulou queda de 0,41% nesta semana —e de quase 5% desde o começo de fevereiro.

O dólar comercial fechou com recuo de 0,92%, cotado a R$ 5,219. Nas últimas cinco sessões, a moeda se valorizou 1% frente ao real. No mês, a elevação do dólar já ultrapassa os 3%, que valia R$ 5,061 no dia 1º.

Dólar deve reagir principalmente a noticiário sobre relações entre governo e Banco Central nesta sexta-feira - Rick Wilking - 3.nov.2009/Reuters

Os juros de vencimento mais curto também apresentaram alta. Os contratos para 2024 subiram dos 13,43% do fechamento desta quinta-feira (9) para 13,46% ao ano. Para 2025, a taxa subiu de 12,87% para 12,92%. No vencimento para 2027, a taxa recuou de 13,13% para 13,12%.

O dólar, que começou 2023 na casa dos R$ 5,40, encerrou a semana na casa dos R$ 5,20, após chegar a ser cotado a R$ 5,04 oito dias atrás.

Analistas consideram que parte desses ganhos pode ser atribuída às críticas ao Banco Central por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados, que reclamam do patamar elevado da taxa Selic, atualmente em 13,75%, e da independência do BC.

No fim desta tarde, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse que a pasta liderada por Fernando Haddad não pautou discussão sobre mudança nas metas de inflação em seus órgãos técnicos, mas sugeriu que o debate é válido em meio à inflação global elevada.

Jansen Costa, sócio da Fatorial Investimentos, diz que o dólar poderia estar em patamar ainda melhor — na casa dos R$ 5—, não fosse o que chama de ruído político.

"Foi uma semana bastante avessa a risco em função das falas do governo contra o Banco Central. Isso tem pressionado a curva de juros e dificultado a apreciação do real contra o dólar", afirma.

O mesmo vale para a Bolsa, que, segundo ele, também poderia ter apresentado um desempenho melhor. Nesta sexta-feira, o Ibovespa fechou no zero a zero, com a alta da Petrobras compensando perdas de bancos e da Vale —companhias com peso relevante no índice.

No caso das instituições financeiras, o movimento foi puxado pelo Bradesco, que frustrou o mercado após divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2022.

Na quinta, o banco anunciou que fez uma provisão extraordinária de R$ 4,9 bilhões para cobrir sua exposição total à Americanas, que pediu recuperação judicial no mês passado.

A medida teve forte impacto no resultado do banco no quarto trimestre, com o lucro recorrente de R$ 1,595 bilhão ficando bastante abaixo da projeção média de analistas consultados pela Refinitiv, de R$ 4,4 bilhões. Na comparação frente ao mesmo período de 2021, o lucro caiu 75,9%.

As ações preferenciais e ordinárias do banco recuaram cerca de 8,18% e 6,07%. Outras instituições financeiras também apresentaram perdas, mas em menor escala. O Itaú recuou 0,46%, enquanto o Santander ficou praticamente estável, com queda de 0,06%. Já o BTG Pactual subiu 0,33%.

Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos, diz que a Petrobras acabou contrabalanceando a queda dos bancos nesta sexta-feira. A petroleira teve uma das maiores altas da carteira, na casa dos 3%, em função do preço do petróleo, que subiu após a Rússia anunciar um corte de produção mensal. "Por isso, fechamos no zero a zero."

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, afirma que a sexta foi um dia negativo para o Ibovespa. Embora a dinâmica do mercado continue repercutindo as incertezas políticas —em relação à agenda fiscal e monetária— , ele diz que o pregão de hoje foi pautado por questões corporativas.

"Tivemos um resultado muito ruim do Bradesco, que contamina o dia para o setor bancário." O mesmo serve, ele diz, para a Vale (que recuou 1,79%) e siderúrgicas, que não tiveram um dia bom em função do preço internacional das commodities.

Analistas ainda destacam o recuo nas ações de companhias aéreas. Os papéis da Gol afundaram 5,41%, enquanto os da Azul tiveram recuo de 7,45%.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos Investimentos, afirma que, apesar de os dados preliminares de tráfego referentes a janeiro publicados pela Azul terem sido considerados fortes, há preocupação com possíveis dificuldades a serem enfrentadas pela companhia para o repasse de preços.

Nesta sexta, o Bank of America publicou comentário dizendo que, com exceção das produtoras de commodities, o Ibovespa está operando 20% abaixo da média histórica.

Para as empresas voltadas para a atividade doméstica, a estimativa de crescimento do lucro por ação caiu de 33% para 22%. Nesta semana, disse a instituição, o índice está com performance melhor em relação a média de países emergentes e o S&P. Mas, no ano, o desempenho é pior.

Spiess, da Empiricus Research, diz que no exterior o humor também não é dos melhores. "A temática, lá fora, é macroeconômica. Tivemos relatório de Michigan hoje com expectativa do consumidor e existe uma leitura predominante no mercado, pelo menos incerta, sobre a continuidade do aperto monetário", disse.

Na visão dele, está ficando mais claro que os EUA estão próximos de uma recessão. "A continuidade do aperto monetário deixa os investidores ansiosos sobre revisão de lucros corporativos e precificação de mais juros", acrescenta.

As bolsas internacionais fecharam em relativa estabilidade nesta sexta-feira. O índice Dow Jones teve alta de 0,50%, enquanto S&P 500 subiu 0,22%. Já a Nasdaq caiu 0,61%.

Com Reuters

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